Há exatamente dez anos – em 28.11.2008 – entrei num avião rumo à Leipzig, imaginando que voltaria depois de um ano para procurar um emprego melhor em São Paulo. Tudo muito certinho e definido como jovens adultos (daqueles chatos) costumam fazer. Hoje me parece bastante óbvio que as coisas tomaram outro rumo. Mas este seria o enésimo post falando de como não controlo absolutamente nada do que julgo controlar. Então, deixemos esse problema de lado. Desde então muita coisa mudou, a cor do cabelo (deixaram de ser vermelhos), o peso (toda senhora respeitada ganha uns quilinhos), a forma de ver o mundo, as cidades, o país, meu gosto por Milan Kundera ou a superstição pelo número três ou sete.
Dez anos depois, na mesma data – 28.11.2018 – recebi a autorização de residência no Reino Unido. Parece besteira, mas sequer imaginaria que todo esse procedimento seria um dia quiçá necessário. Tanto imbróglio e burocracia para me tornar cidadã italiana só para deixar a Europa (tá bom, o continente) meses depois. Brexit, Trump e Bolsonaro são uma das bizarras surpresas que o futuro reservou a todos nós. Nem vou falar da Liga Norte ou do AfD para não fazer uma digressão política choramingona em um post comemorativo. Se bem que lendo a biografia do Hobsbawm ou do Zweig penso que poderia ser pior. Bem pior.
Mas, voltemos ao clima de comemoração. Uma feliz coincidência nesse mês de novembro foi uma breve viagem para Irlanda. Foi quando percebi que apesar desses dez anos terem sido cruciais, havia muita avalanche de vida antes disso ainda. Essa casa aí da foto foi meu lar durante todo o ano de 2005 em Raheny, um bairro afastado de Dublin, em um tempo sem Facebook, Twitter, Instagram ou WhattsApp. Foram quase doze meses em que caminhava mais de um quilômetro até o orelhão (!) mais próximo, nos domingos à noite, para fazer ligações a cobrar pro Brasil. Naquele horário era sempre um tal de John no call center que conectava a chamada. Até havia uns cartões pré-pagos, mas a dona da casa não gostava que ficássemos pendurados por mais de meia hora no seu telefone fixo.
Já havia retornado à Dublin sete anos depois dessa experiência, procurado o “pai” da família num PUB próximo, descoberto que sua mulher, a Dimpna, falecera (Dublin Revisitada ). Mas dessa vez, tentei encontrar a casa sozinha. Não tinha o endereço (compras na Amazon não era algo tão óbvio), o Rô estava numa conferência na UCD (a mesma universidade em que anos antes fizemos as provas de inglês do FCE e CAE) e as cartas da época estavam guardadas em alguma caixa em São Paulo. Peguei o Dart na Tara Street, desci na estação Raheny e confiei no meu sexto sentido. Só nele mesmo porque meu senso de direção é bem pifado. Não é como voltar para a Alemanha com aquela sensação de conforto ao reconhecer até mesmo o barulho do Straßen Bahn. Mas ainda assim ficou algo registrado em algum lugar da memória, mesmo que de modo bem distante. Sensacões que mal sabia que existiam ainda.
Boa parte dos meus amigos e familiares mais próximos também se mudou. No fim das contas, há muito da gente, dos que passaram pelas nossas vidas, aí perdidos por esse mundão, perambulando pelo planeta. De tempos em tempos até rolam uns encontros (ou desencontros). E para fechar as celebrações das nossas andanças por aí (ou dos vínculos que criamos com com os germânicos), voaremos quase 24h, atravessaremos o pacífico para encontrar dois amigos alemães – claro! – e comemorar o advento assistindo Feuerzangenbowle. Assistindo e bebende, lógico. Porque a Alemanha também mudou de lugar. O Natal em si será mesmo em Londres porque queríamos passá-lo em casa, seja lá o que isso for.
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