domingo, 20 de junho de 2021

Lisboa: chegar e partir

Não sei se foram os doze meses em quarentena ou o espacate de treze anos entre Alemanha e Reino Unido que me deixaram assim. Com esse jeito meio bobo, meio gringa deslumbrada no Mediterrâneo. Passo protetor solar religiosamente todas as manhãs e faço o “pequeno almoço” na varanda. Sim, mesmo que esteja frio para os padrões lisboetas. Paro na rua e admiro árvores de mexericas e limões sicilianos. Pareço uma criança paulistana quando escuto um galo cantar numa capital. Juro que tem galo! Acho os telhadinhos vermelhos desiguais, cheios de antenas tortas destoando na paisagem, o charme maior do continente. Mais do que pão de queijo nas padarias, tapiocas nos supermercados e até mesmo catuaba para relembrar a adolescência, há lajes e varandas. Às vezes torço para chover só para sair gritando – “olha a roupa no varal”. Há anos não me lembrava que roupas podem secar livres ao sol e ao vento. 

sexta-feira, 23 de abril de 2021

Londres, see you soon.

Foram exatos quatro anos. Quarenta e oito meses em que reclamei do preço do aluguel, da quantidade de turistas baldeando na estação Green Park, do sotaque indecifrável de East London (Cockney), do cheiro de fritura do Fish & Chips. Virei piada entre os amigos. Eles reviravam os olhos e repetiam – “sim, peixe é grelhadinho só com um fiozinho de bom azeite”. Concordavam para não contrariar! Tentaram me apresentar o Spaghetti Hoops! Italianos, por favor, pulem as próximas duas linhas. Foi uma das coisas mais bizarras que já vi no Reino Unido. Anéis de massa com molho vermelho, ultra processado e enlatado. Come-se sobre um toast para curar a ressaca. Felizmente, consegui me refugiar nas tortas (Pie & Mash) e dizer que há algo para se apreciar na culinária britânica. São boas mesmo.

quarta-feira, 3 de março de 2021

Fantasia e Realidade

Uma parte de mim gosta de envelhecer. Só uma parte mesmo. Acho uma tremenda besteira juvenil a maioria das coisas que escrevi anos atrás. Por isso estou aqui preocupada em divertir a Regina do futuro. A melhor parte desse blog é dar motivos pra rir deu mesma daqui alguns meses. Há oito anos (2014) comemorei meu aniversário no meu primeiro colóquio de doutorandos antes mesmo de receber o financiamento para pesquisa. Pisquei e acordei com quase quarenta anos! Quando desejo de volta aquela juventude, esqueço que teria de abrir mão de todo o caminho até aqui – livros, músicas, amigos, viagens, pesquisas, conferências, um milhão de crises existenciais, perdas, mudanças, dúvidas, conquistas. Seria mais jovem, mas bem menos completa e mais amedrontada. Pra apaziguar esse paradoxo o jeito é intensificar a vida antes de cair no divã aos quarenta. Viajar, fazer umas cagadas, mudar mais algumas vezes, cruzar a Transiberiana, fotografar, caminhar, ler mais uns livros, aprender italiano, escrever outras besteiras, virar mestre de yoga, meditação, sei lá. Quando e se o Covid deixar. 

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Antídoto 2020-2021! Será que teremos vacina contra burrice?


2020 foi esquisito em exponencial. Bizarro mesmo. Um ano de perdas colossais, dúvidas, incredulidade, um vendaval digno de um demônio da Tasmânia. Assisti “Death to 2020” (Netflix), ri demais com toda a retrospectiva da política à la pornochanchada anos 80, e olha que o filme se mantem majoritariamente no eixo US-UK. Imagina se trouxessem com mais afinco a destrambelhada agenda mortífera do miliquinho acéfalo brasileiro. Em alguns países, o número de vítimas já se iguala ao de soldados mortos da Segunda Guerra Mundial. Não surpreende que muitos já comemoravam o Natal em agosto! Chegou a vacina, uma leve esperança, mas também as mutações que mais uma vez suspenderam o mundo. “Plunct Plact Zum, não vai a lugar nenhum”! Um ode ao carimbador maluco do Raul. O cerco começou a se fechar, pessoas próximas adoecendo. A gente aqui equilibrando medo, saudades, arriscando um encontro aqui e acolá. Culpando-se por um abraço. Depois respirando fundo com um resultado negativo em mãos. A vida sempre foi um xadrez, um balanço estratégico de prós e contras, um cálculo de possíveis perdas. Mas o sazón 2020 já salgou demais na boca. Negacionistas, milícias digitais, caos e desinformação generalizados, o picadeiro macabro de 2020. A vacina contra desinformação também faria um bem danado!