Sou uma pessoas bastante urbana, nascida e criada
em São Paulo, sem muito contato com a natureza virgem, capaz de tirar boas
risadas de amigos “da roça”, como eles mesmo se denominam, só por confundir uma
casa de um João de barro com um formigueiro suspenso. Não sou a única. Conheço
pessoas que acreditaram, por exemplo, que pamonha dava em árvores e outras
crianças que não se conformavam com o silêncio de uma galinha. “Acabou a
pilha”, resmungava. Se eu fosse menino teria jogado bolinhas de gude no carpete
e empinado pipa no ventilador.
E o que o pé de azeitonas tem a ver com tudo isso?
Eu nunca tinha visto um até os 29 anos. E eu as adoro! Sou capaz de comer um
vidro em questão de segundos. Por que algumas coisas passam tão desapercebidas?
A gente abre a cerveja, o vinho, cozinha a massa, experimenta para ver se as
tais bolotas calóricas são de “fazer careta” e a vida continua. Nunca parei
para pensar onde elas estavam antes de pararem no vidro e, em seguida, na minha
barriga!
Foi preciso ir até Jerusalém, caminhar pelo Monte
das Oliveiras (eu gosto mais do termo Monte das Olivas) para então a ficha cair
ou o criador dar um peteleco nas minhas orelhas. Claro que o morro só pode se
chamar assim! Olha para frente! Entendi o recado divino. De que adianta ficar
elucubrando sobre os conflitos entre Israel e Palestina, o governo eleito do
Hamas na faixa de Gaza em 2006, a ocupação de Jerusalém oriental e sua
declaração como capital se eu sequer sabia reconhecer um pé de azeitona? Para
mim eles mais pareciam uma muda gigante de alecrim! Reparem na foto. Porque pé
de alecrim eu conheço do supermercado!
Logo elas que estavam ali há mais de dois mil
anos. Fiquei mais inconformada ainda no pátio da igreja de “Todas as Nações”,
quando placas indicavam a idade das tais árvores. Se o salvador realmente
existiu, aqueles pés de azeitona o viram chegar de burrito pelo mesmo morro e
entrar na cidade. Sim, elas estavam ali quando Poncio Pilatus “lavou as mãos” e
certamente foram testemunhas da crucificação. Há uma eternidade elas cuidam do
nosso bom colesterol e (assumo) mereciam mais zelo e atenção da minha parte. Não
é exagero. Tive vontade de beijar as árvores e abraçar seus troncos com a mesma devoção
que os peregrinos se jogavam fervorosamente sobre a pedra onde Jesus teria sido
limpo, na Igreja do Santo Sepulcro. De hoje em diante, toda vez que for
abocanhar uma azeitona farei uma curta reverência. Dependendo da qualidade,
talvez até um minuto de silêncio.
Quantos pés de azeitona passaram pela minha vida
imperceptíveis? Só sei que elas não são molinhas e gostosas como no vidro. Naquele
calor de rachar o coco, elas ficam duras e amargas. Ou deve haver algum
procedimento entre o galho e o vidro que eu provavelmente desconheço! Trouxe
para casa um ramo do pé como souvenir e o coloquei dentro de um livro para
nunca confundi-lo com um ramo de alecrim seco.
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