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quarta-feira, 12 de março de 2014

Ao Hemingway


Esse inverno foi comprido e persistente. Teimosamente uso o verbo no passado porque ainda tenho a esperança que ele se vá o mais breve possível. Provavelmente o mais longo que já vivi, ou sobrevivi, em cinco anos. Voltava semana passada de Erfurt, observando a paisagem branca de dentro do trem. Logo quando cheguei às gélidas terras germânicas não entendia como alguém poderia recusar um convite a uma exposição ou a um bom filme no cinema com o argumento de que estava sol. Ri ao lembrar dessas antigas indignações de principiante.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Bibliotecas pelo Mundo



Há quem diga que as bibliotecas se extinguirão e livros em papel deixarão de existir. Será? Ao sair de uma visita da Anna Amalia Bibliothek em Weimar, achei um livrão de fotografia bem bacana, que ainda cairá na rede dos meus desejos consumistas. A obra, de Cândida Höfer (com prefácio do Umberto Eco), mostra a arquitetura das “catedrais do conhecimento” por todo o mundo. E por que não colocar esses templos de sabedoria na lista de pontos turísticos a serem visitados por aí? Muitas podem valer a pena.
A Anna Amalia, em Weimar, por exemplo, foca em obras da literatura alemã desde 1800 e documentos da história da arte do século 9 ao 21. Na verdade, trata-se de diversas construções que ao longo dos séculos foram se juntando. Oficialmente, a biblioteca foi fundada em 1691, quando o duque da Saxônia- Weimar e Eisenach (o Guilherme Ernst) resolveu disponibilizar sua coleção de 1400 livros ao público. Somente 30 anos depois, o acervo já tinha crescido para 11 mil títulos.

De 1761 a 1766, a biblioteca, localizada no castelo verde (das grüne Schloss), teve a decoração adaptada ao estilo do século 18. O salão nobre, em estilo rococó, erguido no primeiro andar, foi o grande destaque da reconstrução. E como não podia deixar de ser aqui em Weimar, Johann Wolfgang Von Goethe logo entrou em cena. O duque Carlos Augusto (filho de Anna Amalia e neto do fundador) convidou o escritor para a supervisão geral da biblioteca, em 1797. As regras de uso estabelecidas pelo autor de Fausto já foram publicadas, por curiosidade, em alguns jornais alemães. Ele era também um dos usuários mais assíduos da biblioteca.
Em setembro de 2004, o espaço pegou fogo, uma tragédia que destruiu 35 obras de arte, 50 mil livros do século 17 e 18, além do acervo de partituras musicais. Outros 62 mil livros danificados estão em processo de restauração. Séculos de produção de conhecimento reduzidos à cinzas em uma noite. Somente em outubro de 2007, a biblioteca foi reaberta para visitação. O salão rococó, desde 1998 patrimônio cultural da Unesco, agora só possui uma galeria (a segunda virou uma sala de leitura). Durante a visitação, vídeos mostram o processo de restauração das obras, livros sendo congelados e cenas do incêndio. http://www.youtube.com/watch?v=Lk60cnQILI0


 Na famosa sala em estilo rococó, encontram-se bustos do Goethe (meio assustador), Schiller e livros antiguíssimos, alguns com indicação de que ainda se encontram em processo de restauração. A oficina está no mesmo prédio, mas não é aberta ao público. Como somente 290 pessoas podem entrar no local ao longo do dia, aconselha-se a reserva dos ingressos, principalmente em alta temporada.
Outra biblioteca digna de visita é a Old Library da Trinity College, em Dublin, a universidade de maior prestígio da Irlanda, que abriga o livro de Kells (Book of Kells). Todos os anos, meio milhão de pessoas encaram a fila para ver o manuscrito, datado de 800 d.c e tido como um dos textos mais antigos do mundo. Produzido por monges celtas do monastério St. Colmcille, na Escócia, a obra contém os quatro evangelhos do novo testamento escritos em latim e ilustrados artisticamente à mão. Com a invasão dos vikings, os monges fugiram para Kells, na Irlanda. Lá, os manuscritos foram roubados, enterrados e redescobertos, após três meses. Mas os vikings viraram o jogo, agora em 1007, e roubaram a preciosidade novamente. No entanto, pegaram só a caixa de ouro que guardava o livro e jogaram fora os textos, sem perceber sua importância. Desde 1654, depois da brincadeira de gato e rato, a relíquia está sob segurança da Universidade. 
Outra atração de peso da biblioteca é o Long Room (a sala comprida), onde os 200 mil livros mais antigos da universidade estão organizados em diversas prateleiras em uma sala de 65 metros de comprimento. Mesmo quem nunca colocou os pés ali terá a sensação de já ter visto o espaço. “O George Lucas bateu uma foto da biblioteca da entrada e a usou em Star Wars”, conta um dos seguranças locais. Privilégio do diretor porque, hoje em dia, fotografias são proibidas. Depois de aparecer nas telas do cinema, o espaço passou a ser classificado como a biblioteca dos jedis. 
“Como os livros estão desatualizados, mal os usamos, mas é importante ter essa história da construção do conhecimento”, disse pra nós um estudante da universidade. Nesta sala, há ainda uma das poucas cópias restantes da Proclamação de Independência da Irlanda, de 1916, lida por Patrick Pearse, no começo do levante, que acabou fortemente reprimido por tropas britânicas. Uma harpa em carvalho de 29 cordas, do século 15, a mais antiga do país, também é digna de nota.
Além da Anna Amalia, em Weimar, e da Old Library, em Dublin, Cândida Höfer clicou muitas outras bibliotecas que devem entrar para a listinha a serem visitadas algum dia! Ainda mais se o tempo estiver ruim...