sábado, 10 de agosto de 2019

Alentejo: Portugal como antigamente


Deixe a pressa em casa quando viajar pelas charmosas cidades históricas da maior província de Portugal, pois essa região de paisagens serenas e boa gastronomia é para ser degustada com a maior serenidade possível.

Vinícolas, vilarejos medievais amuralhados, paisagens tranquilas... O Alentejo, à primeira vista, é um oceano de calmaria. Entre os portugueses, é um destino para descansar e curtir a vida bucólica dos campos. Então, deixe a pressa em Lisboa quando cruzar a ponte sobre o Rio Tejo rumo à maior província do país, que tem acesso rápido desde a capital portuguesa, basta uma hora e meia de carro rasgando estradas planas e cenários tão belos a ponto de amolecer a razão. De uma vila a outra, percorre-se caminhos com aromas de alfazema, vinhedos e plantações de oliveiras. Mas, apesar do sossego aparente, há muito o que se descobrir por essas bandas: castelos, vila fortificadas e o melhor de tudo: a mais rica gastronomia portuguesa. Nas palavras do escritor Miguel Torga: “Mais do que fruir a direta emoção de um lúdico passeio, quem percorre o Alentejo tem de meditar. E ir explicando aos olhos a significação profunda do que se vê.



Évora: a bela capital alentejana


Uma jornada tipicamente alentejana começa por Évora, a capital da maior província de Portugal. Tombada como Patrimônio da Humanidade pela Unesco em 1986, essa cidade medieval é a porta de entrada do Alentejo. Densas muralhas resguardam as ruas de pedra do centro histórico e as pitorescas casinhas brancas de rodapés amarelos. Entre um fotografia e outra é possível encontrar carros em apuros ao tentar atravessar as vielas estreitíssimas. Mas a boa mesmo é deixar os veículos de lado e sentir os paralelepípedos irregulares sob os pés.  Évora é perfeita para ser degustada caminhando, deixando-se ser surpreendido pela beleza das antigas arquiteturas. A começar pelo Templo de Diana, uma estrutura de colunas coríntias erguidas pelos romanos no século 1 d.C. Algumas igrejas também são bastante imponentes, como a Catedral da Sé, erguida no século 13. Nessa mesma época foi erguido o Palácio Cadaval, antiga residência dos reis. Évora já foi sede da corte portuguesa. Aberta ao público, a coleção permanente do palácio inclui esculturas, pinturas e armarias do século 15 ao 18. 

A atração mais famosa de Évora, ainda que modesta, é a Capela dos Ossos. Localizada na Igreja de São Francisco, suas paredes e oito pilares são ornados com ossos humanos. “Nós ossos que aqui estamos pelos vossos esperamos”, diz a frase que saúda os visitantes à entrada. A fascinação vem exatamente da efemeridade. As reações ali são diversas. “Isso é para mostrar que somos todos iguais”, diz duas amigas que conversam entre um clique e outro. “Minha esposa não quis entrar não, ficou com medo”, diz outro senhor. 
Para descontrair, basta encontrar o caminho para a Praça do Giraldo. Ladeada por pórticos que abrigam cafés e lojas, a praça é o coração do centro histórico. Todos os caminhos e ruelas de Évora levam a ela. Sente-se num bar, peça uma taça de vinho alentejano e curta o movimento. Évora, assim como o Alentejo todo, é para ser apreciada com serenidade. 
Quando a fome apertar, reserva seu apetite para o Fialho, o melhor restaurante de Évora, aberto desde 1945, é um ícone da cozinha alentejana. Não se trata só de gastronomia, mas também de tradição. Hoje, o filho e a sobrinha de Amor Fialho, um dos filhos do fundador, comandam as panelas. “Eles não trabalham aos domingos, mas não posso despedi-los”, brinca Seu Fialho, sempre bem-humorado. Nas paredes do restaurante, há fotos de celebridades. Entre elas atores globais e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. “O Lula não veio aqui porque não sirvo cachaça”, graceja. 

O tour gastronômico em Évora completa-se com a visita à vinícola Cartuxa, que fica dentro de um mosteiro. São os próprios sacerdotes que trabalham na produção do vinho, entre eles um dos mais lendários de Portugal, o Pera Manca tinto, um corte de Aragonez e Trincadeira, típicas do Alentejo. É um vinho com mais de 500 anos de história. Diz a lenda que Pedro Álvarez Cabral bebia o Pera Manca tinto a bordo de sua nau capitânia, que daria com os costados no litoral do Brasil. A produção da bebida é limitada a 30 mil garrafas por safra. 




Nenhum comentário: