Estremoz – Aguce os sentidos
Depois de percorrer os caminhos de Évora é hora de sair rumo aos arredores para conhecer as paisagens e cidades do Alentejo. A melhor opção é alugar um carro para rodar pelas estradas que contornam os campos de oliveiras e levam rapidinho a uma infinidade de aldeias de casas brancas cercadas por muralhas medievais, geralmente erguidas no alto de colinas e com um castelo no cocuruto. Uma delas é Estremoz, também conhecida como Cidade Branca por causa da presença do mármore em sua arquitetura. Entrar em Estremoz só se faz à moda antiga, ou seja, passando pela ponte de madeira que leva para o interior da muralha. Da Torre das Três Coroas, resquícios de um velho castelo, há uma vista fenomenal dos vinhedos nos arredores. A pacata cidade revela-se facilmente em uma caminhada leve e relaxante.
Quando chegar a hora do almoço, corra para o restaurante A Cadeia Quinhentista, que fica instalado em um casarão do século 15 que funcionou como cadeia. O estabelecimento tem atmosfera bárbara, com as paredes espessas de adobe e as antigas grades de ferro nas janelas. O melhor é a comida tipicamente alentejana. Afinal, a maior província de Portugal é famosa por sua gastronomia e oferece especialidades regionais, entre elas diversos produtos com selo de denominação de origem: azeites, embutidos, queijos de ovelha, vinhos... Comer é um prazer levado a sério por ali. No restaurante A Cadeia Quinhentista, o almoço é quase um ritual e sempre inclui bons petiscos, tão tradicionais no Alentejo quanto as tapas na Espanha: cogumelos com queijo de ovelha, lebre ao escabeche, sardinhas, presunto defumado, ou qualquer outra coisas deliciosa.
Elvas: a poderosa cidade-fortaleza
Visto de longe, não dá para ter noção da imensa estrutura do Forte da Graça, em Elvas. Só mesmo caminhando pelo labirinto interno do complexo militar, erguido em 1763 e que levou trinta anos para ficar pronto. Já foi uma das fortalezas mais poderosas do mundo. A ironia é que Elvas nunca foi atacada e o forte acabou servindo como prisão militar até 1974. “Recebo muitos visitantes que serviram o exército ou foram presos aqui e que relatam a vida e as atividades à época, conta a guia. Um curto passeio por Elvas, tombada pela Unesco desde 2012, deixa muito claro seu patrimônio militar. Além do gigantesco Forte da Graça, há ainda o Forte de Santa Luzia e quatro camadas de muralhas para adentar o castelo do centro histórico. Tudo isso servia para evitar o assédio dos vizinhos espanhóis, que estão só a 15 Km dali, em Badajos.
Apesar de ser uma das maiores cidades-quarteis do mundo, há também pontos menos militarizados a servem visitados, como o Museu de Arte Contemporânea ou o de Arte Sacra. A posição estratégica da urbe no alto da colina sempre foi um problema para o abastecimento. Contratempo que rendeu a Elvas o belo Aqueduto da Amoreira.
O município também é famoso por seus lençóis e toalhas bordadas, alvíssimos como de enxoval. Descendo a Rua de Alcamim, encontramos no número 18S a casa da Joana, uma senhora que trabalha e mora em seu próprio ateliê, um sobrado típico da região, cheio de tecidos vestidos e objetos antigos. Cada pequeno pedaço de retalho ali tem uma história, contada vividamente por Dona Joana. Só não caia no erro de chamar as colchas de retalhos de “patchwork”. Ela terá a resposta na ponta da língua: “patchwork é uma ova, a trapologia existe no Alentejo há mais de cem anos”.
Para sentir na pele a leveza e maciez dos lençóis branquinhos e bordados de Elvas, nada melhor do que um pernoite no histórico Hotel Santa Luzia, datado de 1942. Era um local importante para reuniões de chefe de Estado portugueses espanhóis, por conta da localização próxima à fronteira. Foi por causa de uma visita de última hora de políticos do alto escalão que se criou aqui o tradicionalíssimo bacalhau dourado. Nota: só com azeite, ovos e batatas palhas. A cozinheira à época, Jacinta do Carmo, teve que ser virar nos trinta para improvisar com os ingredientes existentes na cozinha naquele dia. Sem saber, fez história na gastronomia. “Pelo que conta a neta, ela morreu sem ter noção da dimensão da sua criação”, diz a administradora do hotel. Na mesma ocasião, surgiu a tradição de se degustar a sericaia (um doce conventual alentejano à base de ovos e canela) com ameixas de Elvas. Um dueto encontrado por toda a região (veja box).
O Vinho de Elvas
A vinícola Adega Mayor é uma imersão ao mundo dos vinhos. A experiência é essencial não só para conhecer os típicos vinhos alentejanos, mas também pelo projeto arquitetônico. Aberta em 2007, é a primeira adega de autor em Portugal, assinada pelo arquiteto Siza Vieira. Outra peculiaridade é que não há uma adega subterrânea como nas tradicionais vinícolas. A cave foi recriada no mesmo nível do solo, simulando as características essenciais de temperatura e umidade. Não é por acaso que há um jardim suspenso, com gramado e espelho d’água, sobre a adega. É ali que são feitas as degustações de vinhos, com uma considerável vista para a região, inclusive para o Forte da Graça, em Elvas.
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