Quem atravessa o oceano para viajar pela Alemanha, muito provavelmente não incluirá no roteiro cidades tão pequenas como Rudolstadt, praticamente uma vila no coração do país, no Estado da Turíngia. A cerca de meia hora de Jena de trem regional, a visita vale a viagem só pelo tom pitoresco das suas montanhas cortadas pelo rio Saale e um belo castelo no topo da colina, até que bem imponente pelo tamanho da cidade. Classificada nos guias alemães como a pequena Weimar (imagine só o tamanho!), Rudolstadt se parece com aquelas garotas de propaganda de lavanda, cara limpa, vestido branco, tranças e flor no cabelo, mas com alguma coisa que ainda atrai.
Depois de assistir ao filme Die geliebten Schwestern (As irmãs amadas), de Dominik Graf, exibido este ano na Berlinale, temos mais uma motivação. Foi em Rudolstadt que Schiller — escritor alemão muitas vezes comparado a Shakespeare, um herói dos poetas por esses lados, pop star à época e rodeado por mulheres — passou um longo verão em 1788 com as duas irmãs: Charlotte Von Lengefeld e Carolina Von Beulwitz. Ok, pausa para honestidade. Enquanto o filme explora o triângulo amoroso das personagens, na prática, há controvérsias no mundo acadêmico da literatura se o fato foi, de fato, consumado.
Carolina era uma mulher casada, experiente e que não amava o marido. Ela própria escrevia e publicava algumas prosas, o que rendia longas conversas sobre literatura. Embora ela tenha passado o verão em Rudolstadt com Schiller e a irmã Charlotte, ninguém sabe o quanto eles se envolveram e quão longe foram. É possível que o relacionamento tenha se mantido dentro dos “padrões aceitáveis” da amizade.
Em novembro de 1789, Schiller ficou noivo da mais nova, mas se declarou para ambas — Lotte e Line, como ele as chamava—, em uma mesma carta. Lotte até cogitou na troca de correspondências que ele só queria se casar para ficar perto de sua irmã, mas, aparentemente, Schiller (xavequeiro!) conseguiu acalmá-la e o matrimônio foi realizado em Jena. Caroline, que tinha suas obrigações com o casamento, não podia ficar para sempre na cidade e teve que sair de cena. Em maio de 1970, Schiller escreve: “não posso dizer pra mim mesmo, que nós estamos separados de você, pois me sinto tão próximo de ti”.
E em meio há tantas cartas em arquivos, surgem as teses para comprovar se Schiller dormiu ou não com a cunhada, uma espécie de pedra no sapato dos acadêmicos como a Capitu, em Dom Casmurro, para gente. Um trabalho de doutorado de 1909 “provou” que Schiller não teve nadinha de nada com Line e que isso foi tudo obra da criatividade da escritora. Fato é que muitas cartas trocadas entre os três foram destruídas depois do noivado, indícios que há algo a ser escondido.
Para bisbilhotar um pouco mais sobre o suposto triângulo amoroso, a casa onde as irmãs moraram e passaram o verão com o poeta virou museu. Foi também em Rudolstadt que Schiller conheceu Goethe, que acabara à época de retornar da Itália. Parte da exibição se dedica ao encontro. Por fim, ainda há um café com mesinhas ao ar livre no fim da exposição para quem ainda tiver ânimo para debater o "rolou ou não rolou"...
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