Uma nova Rússia em Moscou e São Petersburgo
(Texto originalmente publicado na revista Viaje Mais! Out.2010)
Descubra como o país caminha para a modernidade em meio a construções czaristas, espigões do período soviético, placas no alfabeto cirílico, boa comida e uma cultura que valoriza as artes
Berço de consagrados escritores e palco de momentos históricos que marcaram o século 20, a Rússia há tempos já não é mais como aquela descrita pelos romances de Leon Tolstói ou Fiódor Dostoiévski. Tampouco lembra o pais acinzentado da era bolchevique ou o terror dos tempos stalinistas. Cidades como Moscou e São Petersburgo fizeram as pazes com o passado e acordaram dos tempos idealistas (e difíceis) acenando para um momento cheio de promissoras possibilidades, que inclui abrir-se cada vez mais para o turismo.
A exemplo das típicas matrioshkas, a boneca artesanal que contem várias outras bonequinhas, essa nação cheia de ambigüidades reserva aos seus visitantes várias “camadas” de surpresas. Desde a peça maior e mais evidente – as cidades grandes, como Moscou e São Petersburgo – até outra bem menor, que pode ser uma rua charmosa, um museu ou igreja interessante descobertos por acaso, a Rússia se revela em partes como a bonequinha típica, por meio de um povo alegre, multifacetado, de passado glorioso, guerreiro, revolucionário e sofrido
No país de maior área territorial do globo e que há apenas 20 anos se abriu para o mundo e para a economia de mercado, é possível se sentir simultaneamente numa aconchegante capital européia ou até mesmo numa metrópole gigante, cosmopolita e pós-moderna. São por essas e tantas outras razões que visitantes de várias partes do mundo – sejam aficionados por história, política, arte, literatura, gastronomia ou compras – podem passar semanas a fio sem querer voltar para casa.
Aventura no metrô
Chegar em Moscou pode ser um pouco caótico, não só pela impossibilidade de entender uma placa ou um letreiro por causa do complicado alfabeto cirílico, mas também pela rotina veloz dessa cidade grande, onde não falta burocracia para conseguir visto de entrada nem taxi sem taxímetro. Ou seja, tudo deve ser acertado de antemão com o motorista. Outra peculiaridade notada de cara é que qualquer carro pode prestar serviço de taxi. Basta reparar nos moradores e fazer como eles: dar sinal com a mão e dizer ao motorista para onde que ir... em russo.
Como poucos turistas chegarão dominando essa língua, a melhor opção é usar (e ousar) as linhas de metrô, que também ajudam a fugir do trânsito confuso. São 177 estações grandiosas, cujas escadas rolantes podem demorar até quase dois minutos e meio para levá-lo à saída.
O fluxo é intenso o dia todo, mas a emoção é sempre maior na hora do rush. Todos os dias, 6 milhões de pessoas utilizam o metrô na capital russa, número maior que a soma de passageiros de Londres e Nova York juntas. Em pontos centrais há a intersecção de até quatro linhas distintas, cada uma com um nome diferente. Por isso, leva-se algum tempo para entender que aqueles quatro nomes impronunciáveis se referem à mesma parada.
Se for preciso abrir o mapa para se localizar, faça isso encostado numa parede. Parar no meio do corredor é pedir para ser levado com a massa. Mas apesar de toda a aventura “underground” – que não deixa de ser uma atração, pois as estações são decoradas por candelabros gigantes, esculturas, fachadas de mármore e painéis de mosaico – , o metrô dá acesso rápido e prático à maioria dos pontos turísticos da cidade. E é ali, sentado ao lado de cidadãos comuns que dá para ver “ a cara do pais”, em uma mistura de feições européias, caucasianas e asiáticas.
A grandiosidade é uma marca russa expressa não só nas linhas de metrô, mas também nas edificações, praças, avenidas e igrejas do país. Como não ficar deslumbrado, por exemplo, com a vista da Praça Vermelha ou com as abóbodas ultra coloridas da Catedral de São Basílio, um dos cartões postais de Moscou? E não é só nas fachadas que a cidade exibe sua magnitude.
Cada local guarda por trás de suas paredes antigas uma imensidão de significados, sejam eles históricos ou culturais. É quase impossível olhar para o Kremlin – fortaleza com cinco igrejas antiguíssimas e prédios governamentais, circundada por mais de dois quilômetros de muralhas e vinte torres – e não se impressionar com tudo que ocorreu nessa edificação erguida em 1.147.
Foi ali que, no século 15, Ivan, o Terrível, exerceu todo o seu poder ameaçador; que Napoleão Bonaparte, quatro séculos mais tarde, assistiu Moscou ser reduzida às cinzas, que Lênin, em 1917, colocou em prática a revolução do proletariado.
Quando o sonho comunista ruiu, Mikhail Gorbachev dali orquestrou, a partir da metade da década de 1980, a perestroika (“reconstrução” ou reestruturação em russo) e Boris Yeltsin, a seguir, reconduziu o país à economia de mercado. Encostado nas muralhas do Kremlin está o famoso e ainda procurado mausoléu do Lênin. O líder da Revolução Russa morreu em 1924 e até hoje seu corpo embalsamado, que mais parece um boneco de cera do Madame Tussauds, fica em exibição.
É proibido entrar no mausoléu com máquinas fotográficas e pelo menos seis guardas sérios e imóveis mantém a ordem e garantem que os turistas demonstrem respeito. A cara amarrada dos seguranças dos pontos turísticos não representa o humor do povo russo, bastante solicito e comunicativo.
Às vezes, até mesmo os guardas cedem e esquecem que estão em serviço. Enquanto verificam o conteúdo das bolsas, são capazes, diante da surpresa com a visita de uma brasileira, de arriscar umas palminhas com um balançado de pernas que tenta imitar o ritmo de um samba.
Boa vontade e boa comida
Os russos são assim, imprevisíveis e não negam informação. Andar com um mapa na mão e um olhar de interrogação no rosto costuma atrair pessoas oferecendo ajuda. Apesar de ser difícil encontrar gente que fale inglês, é comum eles repetirem a mesma frase várias vezes em russo, sempre um pouquinho mais alto, e apontarem e gesticularem até que o visitante siga pelo menos na direção correta. Os mais velhos podem até chamar um jovem para fazer o meio de campo lingüístico.
O importante é que a comunicação, seja lá de que forma, acaba fluindo. No início, aterrissar em um país em que sequer o alfabeto lembre o nosso, dá uma sensação de impotência. Tarefas simples do dia a dia se transformam em uma epopéia, como pegar ônibus e táxi, comprar tíquetes ou planejar o almoço. Mas o desconhecimento do idioma não é razão para abrir mão das especialidades locais. Para facilitar muitos restaurantes até apresentam cardápios com fotos!
No quesito gastronomia dá até para arriscar pratos típicos de países vizinhos, que um dia pertenceram à União Soviética. O “Taras Bulba” (Pyatnitskaya Ul, 14), por exemplo, oferece iguarias ucranianas em ambiente aconchegante. Há menus em diversas línguas, incluindo o português, e a equipe é bastante solícita.
Com tapeçaria artesanal nas paredes, a casa preza pelo clima característico do país e as sorridentes garçonetes trabalham com roupas típicas do campo. Mas o que importa mesmo são os deliciosos varenikis (massa que é uma espécie de ravióli) recheados com batata, carne ou repolho.
O clima internacionalizado e cosmopolita da capital se reflete bastante nos sabores e aromas da culinária moscovita. Além das clássicas opções européias como os estabelecimentos franceses, italianos ou espanhóis, há aqueles com influências caucasianas.
Uma boa opção nesse sentido é o restaurante “Skazka Vostoka” (Rua Frunzenskaya nab), montado num barco à beira do Rio Moscou, que oferece sabores exóticos do Oriente, sem contar com a vista magnífica durante o pôr do sol. Saladas, frutas e nozes dispostas lindamente sobre as mesas dão o toque de contos de fadas. O cardápio é extenso, com predominância de apimentados pratos da Geórgia e especiarias do Azerbaijão e Cazaquistão.
Também é possível jantar em lugares que misturam o conceito de bar, restaurante, café e casa noturna. Tais estabelecimentos se adaptam conforme o horário para atender a todas as necessidades de uma cidade que não dorme. Um dos exemplos é o Gogol Club (rua stoleshnikov per 11), que reúne pratos russos, cervejas de todos os tipos e shows numa mesma taberna.
Quase 20 anos apos a abertura política, a gastronomia e os demais segmentos do consumo ganharam ares de sofisticação em Moscou. Chamados de novos ricos, a classe que emergiu com a queda do bloco soviético desfila com carrões importados, jóias, relógios e marcas renomadas à mostra.
Os corredores do classudo shopping GUM (Gosudarstvenny Universalny Magazin), com uma bela fachada do século XIX, exibe bem essa atmosfera. A antiga loja de departamento do estado enterrou seu passado de longas filas e prateleiras vazias da era comunista e hoje exibe cerca de mil lojas para lá de refinadas. Mulheres de saltos altíssimos, calças bem justas e cabelos lisinhos passeiam pelos corredores do shopping recheadas de sacolas, em busca de um glamour que por décadas ficou adormecido.
Mas está na tradição e na alma moscovita ir além das frivolidades. A oferta cultural local é enorme e requer vários dias para que se dê no mínimo uma espiada em todas as galerias e museus. Apenas no distrito de “Khamovniki” são mais de dez complexos. O Museu de Belas Artes Pushkin exibe uma coleção ampla e inclui clássicos da pintura francesa, assim como obras de Miró, Kandinsky, Chagall, Van Gogh e artistas do período soviético.
A mansão azul bem em frente ao Pushkin é a Galeria Glazunov. O espaço é dedicado a esse artista russo nascido na década de 1930, conhecido principalmente por suas pinturas gigantes e ultra coloridas de temas históricos ou religiosos. Entre os destaques da exposição, o quadro “Mistérios do Século 20” prende mesmo a atenção.
Um pout-pourri de ícones, fatos e acontecimentos trazem à tona momentos memoráveis do período – Chaplin, Beatles, Stalin no caixão, Lênin em discurso, Hitler, Mao Tse-tung, bomba atômica, cúpulas da igreja ortodoxa despedaçadas, Einstein e outros símbolos que marcaram o imaginário popular do conturbado século 20, numa obra que parece um flashback cinematográfico.
Um pouco mais singelo, o Museu Sakharov, no bairro Basmanny, apresenta uma pequena exposição sobre os anos de repressão na Rússia. Uma senhora de pelo menos 70 anos, usando xale preto e óculos de armação redonda, acompanha os visitantes até o segundo andar do pequeno sobrado e explica as decisões do curador, com um inglês fluente, mas bastante marcado pelo sotaque local. Ao ser questionada sobre o que havia de melhor ou pior antigamente, ela responde sem titubear: “ah, a política! Nesse sentido, nós ainda temos muitos problemas!”.
A efervescência cultural moscovita também é vivida em uma das ruas mais conhecidas da capital, a Ul Arbat. No século 16, a viela era uma área residencial de trabalhadores e, no final do século 18, ganhou status com a chegada de artistas, poetas, pintores e intelectuais. Hoje, apesar da explosão do comércio de souvenir e cafés com precinhos bem salgados, o espírito artístico ainda está bastante presente na região.
Músicos passam o chapéu, pintores colorem suas telas em frente ao público, poetas recitam seus textos em voz alta, desenhistas esboçam caricaturas de turistas risonhos e dançarinos exibem as mais inusitadas performances. Senhoras russas vestidas com roupas típicas (bem parecida com as bonecas matrioshkas) tentam convencer os passantes a entrar nas lojas supostamente em promoção.
Os prédios de Stalin
No final da UL Arbat, o prédio do Ministério de Assuntos Estrangeiros se impõe imperioso na paisagem. Trata-se de um dos sete arranha-céus monumentais construídos a pedido de Stalin, que achava Moscou pobre em edifícios do gênero, se comparado aos Estados Unidos. As Sete Irmãs, como são conhecidas estas edificações, são vistas em diversos pontos da metrópole.
Apesar de a capital ser marcada pela novidade, agitação, modernidade e multiculturalidade, a tradição religiosa ainda se mantém, mesmo entre os jovens. As coloridas cúpulas em forma de cebola das igrejas ortodoxas dominam a vista da capital.
O que não faltam são capelas e monastérios para visitar, como a majestosa Catedral de Cristo Salvador, o Mosteiro de São Pedro ou o Convento Novodevichy. No cemitério Novodevichy, encostado no convento, ficam os túmulos de figuras de prestígio do país, como o escritor Nikolai Gogol, o cineasta Serguei Eisenstein, a segunda esposa de Josef Stalin e o ex-presidente Boris Yeltsin.
Mais do que a arquitetura e os afrescos dos templos religiosos, vale observar a devoção dos fiéis. As mulheres, sejam elas senhoras ou belas moças bem vestidas e maquiadas, cobrem a cabeça ao entrar nos lugares sagrados, acendem velas brancas ou vermelhas e fazem reverência aos pés dos santos.
Aos domingos, na catedral de Cristo Salvador formam-se filas para beijar os quadros com a imagem de Jesus. A cada cinco pessoas, uma funcionária da igreja interrompe a fila para passar um pano no vidro de proteção já embaçado por tantos beijos. O sinal da cruz também é feito fervorosamente, com as mãos um pouco mais abertas, descendo da testa até mais ou menos a altura do umbigo. Muitos também fazem preces em frente ao altar, uma porta dourada que representa o paraíso e que fica aberta durante as celebrações de missas.
A segunda capital russa
Trens diários partem da estação Leningradsky, em Moscou, rumo à São Petersburgo. Os comboios classificados como de longa distancia são a melhor opção para o trajeto, embora façam mais paradas e não sejam exatamente tão rápidos como os InterCities de outros países europeus.
Como em Moscou há nove estações de trem e inúmeros guichês com atendentes simpáticas, mas que só se comunicam em russo, talvez seja preciso uma mãozinha para conseguir as passagens. Muitos hotéis escrevem um bilhetinho em alfabeto cirílico e preenchem o dia da semana, horário e classe em que o viajante pretende embarcar. Aí fica fácil. É só procurar na gigante estação Leningradsky o saguão correspondente e entregar o papel no guichê certo.
No momento do embarque, alguns visitantes podem se assustar com a quantidade de pessoas no trem: na realidade, muitas delas são só amigos e familiares que entram para se despedir, conversar e esperar a partida junto com o viajante. Antes de fechar as portas, um anúncio também gravado em inglês pede para que os acompanhantes deixem os vagões. Então começa uma avalanche de beijos e abraços de despedidas.
Em cerca de quatro horas, o trem alcança a antiga capital do país. Título carregado de 1712 a 1918. Diferentemente de Moscou, São Petersburgo foi projetada nos moldes das tradicionais capitais européias, com uma arquitetura marcada por palácios esplendidos de estilo barroco e neoclássico.
Fruto do interesse pelas culturas ocidentais por parte do czar Pyotr Alexeyevich Romanov – conhecido como Pedro, o Grande, governante da Rússia entre 1682 e 1725 – , a cidade foi construída sob um pântano às margens do rio Neva na entrada do Golfo da Finlândia.
O trabalho para criá-la não foi fácil. Arquitetos e engenheiros estrangeiros, além de pelo menos 30 mil camponeses envolveram-se na empreitada para colocar em prática os planos ambiciosos do czar. Muitos pagaram com a vida. Em 1703, a primeira edificação da cidade - a Fortaleza de Pedro e Paulo- estava de pé.
Nascia ali um estado moderno, militarizado e de espírito altamente aristocrático. Anos depois da morte de Pedro, suas sucessoras (a sobrinha Anna Ivanovna, a filha Elizabeth e a imperatriz Catherine II) levaram o sonho adiante e criaram uma das cortes mais deslumbrantes da época. Depois da Primeira Guerra, a cidade passou a se chamar Petrogrado.
Foi a imperatriz Catherine II que começou, em 1764, a coleção do renomado e riquíssimo Museu Hermitage, o qual ocupa o antigo Palácio de Inverno, uma das principais residências de Pedro, o Grande. A imperatriz, sem dúvida, ficaria feliz se pudesse ver o quão extensa sua pequena compilação artística se tornou – atualmente o museu apresenta 3 milhões de peças entre pinturas, esculturas, trabalhos gráficos e relíquias arqueológicas, espalhadas por mais de 120 quartos.
Com fachada verde e branca, o prédio do Hermitage, localizado bem no centro histórico de São Petersburgo, na Praça do Palácio, é suntuoso, assim como tudo na Rússia. E esse ar aristocrático seduz não só estrangeiros, mas os próprios moradores. É comum encontrar dentro do museu, nas escadarias adornadas com tapete vermelho, recém-casados fazendo fotos para o álbum. Entre uma leva de visitantes e outra, eles se abraçam e posam para retratos à moda antiga, como membros de uma família real.
Do lado de fora, turistas registram imagens da Praça do Palácio. Como São Petersburgo era sede do império, foi exatamente ali que a Rússia testemunhou o fim dos 300 anos da dinastia Romanov e dos 500 anos de autocracia czarista, com a eclosão da revolução russa em 1917.
Os últimos representantes da linhagem Romanov estão enterrados na igreja dentro da Fortaleza de Pedro e Paulo. Mas quase um século depois, ver o exército russo marchando e treinando para festividades na mesma Praça do Palácio, ainda dá um certo friozinho na barriga.
Depois que os bolchevique chegaram ao poder, as portas da “Igreja do Salvador sobre o Sangue Derramado” foram abertas para toda a população. Trata-se de um dos poucos templos em São Petersburgo com aquele visual de cebolas ultra coloridas. Na verdade, não é coincidência. A catedral foi inspirada na de São Basílio em Moscou e também é uma atração de peso na cidade.
Negligenciada durante os anos stalinista, o templo foi reaberto em 1997 após 27 longos anos em processo de restauração. Igrejas não faltam em São Petersburgo, mas elas são muito mais próximas do estilo europeu, assim como toda a arquitetura local.
A Catedral Kazan, por exemplo, foi inspirada na Basílica de São Pedro, no Vaticano, em uma tentativa frustrada de unir as igrejas católica e ortodoxa. O estilo neoclássico e a sucessão de colunas de 111 metros são impressionantes. No interior encontram-se os restos mortais do vitorioso general Mikhail Kutuzov – retratado no consagrado romance de Tolstoi “Guerra e Paz” – , responsável pelo padecimento do exército napoleônico. Uma terceira opção é a Catedral de Santo Isaac. Após a subida de 262 degraus, sua cúpula de ouro, a 21.8 metro de altura, proporciona uma vista panorâmica da cidade e seus canais.
Assim como numa corte europeia, a cena de artes clássicas em São Petersburgo foi bem marcante – e ainda hoje segue assim. Peças famosas como O Lago dos Cisnes, O Quebra Nozes e A Bela Adormecida foram compostas pelo coreógrafo e dançarino francês Marius Petipa, considerado o pai do balé russo. Em 1907 ele escreveu em seu diário: “São Petersburgo tem o melhor balé de toda a Europa”.
Não é à toa que assistir a uma apresentação em um tradicional teatro barroco é uma experiência quase mágica. A atmosfera é composta não só pelas espetaculares apresentações, mas também pela decoração requintada de corredores, salas e camarotes com cortinas de veludo.
O Teatro Mariinsky sintetiza bem esse glamour e influência os visitantes, geralmente muito bem vestidos. As mulheres, por exemplo, fogem do visual básico: maquiagem forte, salto alto e roupas finas bem cortadas são a regra. Nos intervalos, taças de champanhe nas mãos dos freqüentadores combinam totalmente com a atmosfera envolta por lustres enormes cheios de detalhes reluzentes.
Nesses espetáculos, pode acontecer de famosas bailarinas do passado estarem na platéia (geralmente nos melhores camarotes) e chamarem a atenção de seus compatriotas. Assim que as cortinas se fecham ao final do primeiro ato, o público, em sinal de respeito, direciona a segunda leva de aplausos às ex - artistas. Mesmo um pouco mais envelhecidas, elas se mantém esguias e carismáticas, jogando beijos para os presentes.
Para aqueles que sempre emendam um programa cultural a um gastronômico, São Petersburgo também encanta. A parada pode ser na confeitaria Stolle, com diversos endereços na cidade e uma das melhores pedidas para tomar um café ou chás e saborear diferentes tipos de torta. Já o restaurante “Crocodile” (Kazanskaya ul 46) tem menu variado, oferecendo de sopas deliciosamente caseiras, massas e saladas a boas opções vegetarianas. Aqui, a borscht (uma saborosa sopa de beterraba) é servida fria.
Quando a mesa é composta por mais de três clientes russos, é comum ser servida uma garrafa inteira de vodka para acompanhar o jantar. A bebida é servida vagarosamente como um ritual de apreciação – portanto, nada de tomar a dose de um só gole. Muitas vezes pedida como entrada, as vodkas são degustadas com caviar. Simples assim: sobre uma camada de pão e manteiga, os russos espalham os mais diversos tipos de caviar e intercalam os canapés com a bebida nacional.
Delicias tão típicas quanto essa são encontrados no Pelmeny Bar (Gorokhovaya Ul 3). O ponto forte do cardápio são os pelmeni (versão russa do ucraniano vareniki, dumplings em inglês), recheados com carne bovina, de porco, salmão e cogumelos. Um pouco peculiar, a decoração chama atenção com sua bruxinhas penduradas no teto e um lobo solitário “sentado” na mesa em frente à janela.
Por estas mesma vielas, café e bulevares também passaram um dia escritores como Alexander Puschkin e Fiódor Dostoiévski, o que fez a antiga capital ganhar seu espaço também no mundo literário. Na antiga São Petersburgo, Dostoiévski escreveu sua obra prima Crime e Castigo, de 1866.
Para relembrar em detalhes as descrições do autor basta caminhar até as duas possíveis moradias do protagonista Raskolnikov, localizadas na rua Stolyarny per, número 5 ou 9. É uma forma de deixar a bela São Petersburgo bem viva na memória, porque depois de voltar para casa, só mesmo matando a saudade por intermédio dos livros. Ou, quem sabe, por meio da degustação de uma boa vodca trazida na mala.
2 comentários:
Eba!...
Quero mais dicas pessoalmente daqui a duas semana!
Tô orgnizando uma trupe londrina para viagem à Russia!
Beijo
Sério? Pode deixar que darei as dicas pessoalmente naquele jantar do padrinho! ahahaahah
Ainda precisa de visto?
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