Sabe aquela cachorrada barulhenta
que embala a sinfonia canina bem depois da meia noite? Ou aqueles cães de
personalidade menos extravagante, mas donos de mãos (ops, patas) leves que
rasgam o lixo em busca de restos das iguarias dos irmãos burgueses e de raça?
Eles não existem na Alemanha. Bom, achei que não existissem, mas acabei de
achar uma exceção pelas ruas de Dresden (o que motivou este post). A
malandragem canina foi banida das ruas. Não há nem um pequeno rastro do perfil
meio pulguento, mas livre e aventureiro. Nada daquele cão bastardo, com rabo de cocker e orelhas de poodle. Por aqui, quem tem um bichinho de estimação tem que
pagar imposto. Eles recebem vacina e até um chip de identificação (!) para que
não possam se rebelar e fugir para bem longe daquelas roupinhas de gosto
duvidoso, banho, tosa e fitinhas. Sob a tutela de seus donos, também não se
misturam por aí com outros filhotes de raça suspeita.
Se comparados com os primos menos
abastados em Sarajevo, por exemplo, levam uma vida mansa e tranqüila. Depois de
tanto tempo na Alemanha, sem ver sequer um filhote vira-lata, ficamos até
impressionados com a abordagem da imensidão canina na Bósnia, saindo de trás de
qualquer muro ou ruína. Livres ou
abandonados? Onde estão seus donos, se é que algum dia os tiveram? Se eu pudesse latir, perguntaria a um
vira-lata por lá se ele viria para Alemanha viver com os pelos grudados por
fitinhas, comendo ração (mesmo que três vezes por dia), recebendo picadas de
vacina no traseiro e um treinamento de rigor prussiano para se tornar
obedientes e silenciosos. Será que trocariam a liberdade por um estômago cheio?
A massa de cães saçaricando com
sarnas pelas ruas não incomoda a paisagem, a atmosfera local em Sarajevo. Pelo
contrário, é parte dela, como uma simbiose. Deitados sobre o sol, fazendo
graça, seguindo turistas, tentando fazer uma boquinha aqui ou ali... Tudo bem
descomplicado e sem coleira. Não devem amor ou confiança a ninguém. Levam um
estilo de vida felino, só não conseguem pular de telhado em telhado. E se a
coisa complicar, amarram a trouxa no cabo de vassoura e pegam a estrada sem
olhar para trás.
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