Havia pelo menos um ano que não
colocávamos o papo em dia com um amigo. As razões são diversas, mas eis que, por
força do destino, conseguimos estar no mesmo continente, país e cidade por
míseros três dias. Pois é. “Conheço um lugar ótimo que vocês precisam ir”,
disse ele. Chegamos ao local para tagarelar um pouco, o Gordon´s Wine Bar. Era
uma taberna de 1890 com paredes de tijolos e iluminada por candelabros. O vinho
e a comida eram bons, ainda mais misturados com a umidade, gotinhas de água nas
costas e cheiro de mofo. Para que não haja mal entendidos – não há ironia no
comentário. O lugar era mesmo sensacional e no mesmo nível do rio Tâmisa.
Entramos todos meio agachadinhos para não bater a cabeça, mas garantimos uma
mesinha bem aconchegante embaixo da goteira. Todo o preâmbulo é para chegar à
seguinte conclusão – mesmo há meses sem nos falarmos, esse amigo tinha certeza
que a gente acharia a indicação superb, como dizem os ingleses. E acertou em
cheio!
Não importa quanto tempo passe, há
reencontros que são sempre a mesma coisa. Estou falando do lado bom da moeda.
Sem essa de voltar para a casa que nascemos há 30 anos no interior de qualquer
“biboca da parafuseta” e nos sentirmos deprimidos porque o azulejo continua
trincado exatamente no mesmo ângulo, quando partimos anos antes. Refiro-me ao
fato de continuarmos conseguindo conversar por horas a fio apesar das
diferentes experiências ou rumos tomados na santa vida. Tudo independentemente do
tempo sem se ver. Tenho uma outra amiga, que por sinal faz umas vinte e sete
primaveras (ou por aí) hoje e a gente sempre garante boas risadas nos
reencontros.
Somos água e vinho. Sempre fomos,
mas isso nunca impediu a cumplicidade. Crescemos praticamente juntas, nos
víamos quase todos os dias, puxávamos os cabelos durante as brigas e nos
chamávamos aos berros pelas janelas de casa. Não moramos mais naquela rua que
nascemos e nos conhecemos. Cada uma foi para um canto, seguimos caminhos
diferentes. Nos encontramos claro para festas, velórios e jantares esporádicos.
No fundo, ela nunca veio nos visitar em terras germânicas porque sempre foi
mega consumista e gastava o salário todo que ganhava numa empresa de comércio
exterior em roupas, botas e sapatos! E todo ano dava a mesma desculpa! Anda
sempre na estica, adora a calculadora, odeia poesias e exposições e não
dispensa uma boa balada, daquelas bem barulhentas, de ensurdecer. Ainda assim,
aceita convites para conversar sob uma xícara de chá, embora torça o nariz e
resmungue: “só você mesmo”. Se nos encontrássemos só daqui trinta anos, com
certeza eu ouviria essa exclamação! Até hoje ela não colocou o blog dela no ar
para contar o que anda aprontando nas praias do pacífico...
A lista de pessoas assim é restrita,
mas dá para citar sim alguns casos, mesmo que contados nos dedos. Companheiros(as)
de escola, adolescência, faculdade... O exemplo mais espetacular eu vi na
película argentina de Paula Hernández. Trinta anos depois, a personagem Lisa
(Elena Roger) aparece na casa do amigo Bruno e grita bem alto: “Zé Buceta”! O
enredo trata mesmo de um caso de amor, mas não importa. O interessante é esse
tipo de intimidade entre amigos ou pessoas que não se perde. Né, cara de piu
piu?
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