Lago de Constança
Como curtir o verão em águas alemãs, suíças e austríacas.
(Texto originalmente publicado na revista Viaje Mais! Jul. 2012)
Lago de Constança
Como curtir o verão em águas alemãs, suíças e austríacas.
(Texto originalmente publicado na revista Viaje Mais! Jul. 2012)
Por conta da proximidade, dá para tomar café da manhã em um país e almoçar em outro. Há também quem faça todo o percurso de bicicleta, mas para quem não está assim tão em forma, o “pulo” de cidade em cidade de barco ou trem. Sem contar as 425 opções de excursões reunidas no site oficial da região (bodensee.eu). Há atrações para todos os tipos de turistas, como trilhas, esportes aquáticos, spas, passeios de barco e visitas a graciosas cidadelas e igrejas medievais. Para os mais corajosos e abastados, há voos a bordo de um zepelim, que descortina a região do Bodensee a partir do porto de Friedrichshafen. Dependendo do tempo do tour e da região a ser sobrevoada, é preciso desembolsar de € 200 a € 745 euros por pessoa.
Konstanz, o ponto de partida
Um roteiro que dá uma boa mostra dos encantos das redondezas inclui passeios pelas ilhas e províncias no entorno da cidade alemã de Konstanz, centro econômico e cultural da região, com 82 mil habitantes. No porto, dentro da água destaca-se, desde 1993, uma estátua relativamente sensual de 9 metros de altura e 18 toneladas. É a escultura de uma meretriz, Impéria, imortalizada no conto A Bela Impéria, de Honoré de Balzac, publicado no século 19. Por mais inusitado que pareça, a obra é uma homenagem às prostitutas que viveram de 1414 a 1418, durante o concílio que resolveu um longo cisma da Igreja Católica no Ocidente.
Esse trabalho do artista Peter Lenk causou polêmica entre religiosos e conservadores, já que em uma das mãos da voluptuosa moça está o imperador alemão e na outra, o papa. A estrutura se movimenta e, em três minutos, dá uma volta completa em torno de si, permitindo que ela seja perfeitamente avistada não só das margens, mas também do lago.
De fato, a fronteira entre a alemã Konstanz e a suíça Kreuzlingen é praticamente imperceptível – daí que seria impossível bombardear uma sem atingir a outra. E se não fosse pelas formalidades típicas de fronteira, as duas cidades seriam uma só. Há apenas uma passagem que separa um lado do outro, com algumas placas apontando as regras alfandegárias, mas muitas vezes nenhum funcionário está presente para checar os documentos. É tudo tão junto e misturado que, mesmo de barco, o visitante pode precisar de um mapa ou procurar por uma bandeira hasteada para identificar a qual pais pertence a cidade que está vendo ou atracando.
Em Kreuzlingen, a borda do Constança é uma espécie de parque, com playgrounds, pássaros e uma vasta vegetação. Há também uma torre de madeira com vista para a cidade e para Konstanz. Os olhos param quando se observa a parte norte da costa, que exibe um suntuoso burgo, de 1598. Completamente destruída durante a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), a edificação foi reformada com o estilo próprio do século 19 e, atualmente, abriga um centro didático e um restaurante.
No entorno do belo conjunto, adornando por fontes e gramados, há jardins e hortas onde são cultivados temperos, e cada plantinha, por menor que seja, tem uma placa com a devida descrição. Se enjoar da paisagem idílica, siga para a lagoa de sapos, bem em frente ao castelo. Dá para escutá-los coaxando – e, por meio de cartazes, aprender sobre as diferentes espécies – enquanto se passeia sobre as pontes de madeira sobre as águas. Parece peculiar, mas cai bem com a atmosfera com jeito de antigamente do lugar, que fica ainda mais bucólico com a companhia das inúmeras margaridinhas amarelas espalhadas pelos campos.
Para Lá e Para Cá de Barco
Com a dose de calmaria já experimentada, é hora de começar a perambular por mais cidades e atrações do lago. Não importa se a partir da porção suíça ou alemã, um passeio com a Weiße Flotte (Frota Branca) é praticamente imperdível. A empresa suíça, alemã e austríaca reúne pelo menos 31 barcos de passageiros que ligam todas as cidades da região e transportam por ano 4,5 milhões de pessoas. Alem do transporte aquático propiciar um panorama muito mais bonito do que quando a viagem é feita de trem, o tour ainda fornece uma melhor noção da geografia do lago, cuja parte oriental é chamada de Obersee. Trata-se da região mais profunda, em que a água alcança 252 metros de profundidade. Já a porção ocidental é a Untersee.
Se, por um lado, o início do passeio independe do país de origem, por outro, importa bastante em qual lado se decide almoçar ou jantar. Um indicador bastante confiável de que estamos na Suíça (que, apesar de usar moeda própria, o franco suíço, no arredores do Lago de Constança aceita o euro) são os preços bem mais salgados de lá. Esteja em mesas suíças ou alemãs, o fato é que não se deve deixar de provar o peixe felchen (pescada), proveniente do lago. Um bom lugar para isso é o Steg 4 Café-Bar, em frente ao porto de Konstanz. Alem de opções rápidas como pizzas, a casa oferece um pot-pourri de peixes da região, servidos com legumes ou salada verde. Sem contar a carta de sorvetes multicoloridos – o de creme com morangos é uma excelente pedida.
A degustação da cerveja local, a Ruppaner, também é obrigatória. E, para os mais aficionados pela bebida, vale a pena uma passada na cervejaria Brauhaus Joh. Albrecht (Konradigasse 2). O típico estabelecimento oferece, alem da gelada produção própria, pratos alemães. Nas mesas ao redor, é comum ouvir conversas num alemão de sotaque mais cantarolado, com palavras e pronúncia bem diferentes. São os suíços que aproveitam não só as férias de verão do lado germânico, mas também os preços mais em conta.
Muitas Flores em Mainau
Mesmo para quem não é muito fá de jardinagem, Mainau merece ao menos uma rápida visita. O lugar ostenta tantas flores que sua atmosfera não parece real, mas sim um colorido e pitoresco quadro. Na primavera, a paisagem é dominada por tulipas das mais diversas cores; no verão, as rosas roubam a cena. Nessas épocas de floração, o cheiro das plantas se espalham no ar, num ambiente que fica ainda mais encantador por conta da beleza dos Alpes emoldurando o cenário.
Na entrada do formoso jardim, os visitantes são recebidos com um arranjo enorme, que representa uma margarida com “corpo” e “rosto” de gente. Há uma profusão tão grande de flores, que, quando se vê um canteiro vazio, bate uma decepção. Ma isso não fica sem explicação, já que, em alguns pontos, há uma placa que diz assim: “Não pense que nosso jardineiro é desatento. Nosso jardim está sendo cuidado, mas as flores brotam em períodos diferentes”. Outro ponto alto da ilha é a estufa de borboleta, também “recheada” de plantas: são mais de 150 tipos. Vá com uma roupa fresca porque o ambiente reproduz fielmente a umidade e o calor de um ambiente tropical. Ali, as borboletas parecem não se assustar com os turistas nem com as lentes das câmeras, já que continuam voando de lá para cá e até pousam na cabeça de algumas pessoas. “São flores que voam”, disse uma senhora quando uma borboleta estacionou em seu boné. Depois, a mulher e os outros visitantes seguiram para um cano do complexo desprovido de toda beleza presente até então, mas nem por isso menos interessante: o varal de casulos.
Bruxas e Tesouros
Do porto de Mainau, a boa é seguir de barco para Meersburg, num trajeto que dura cerca de meia hora. Ao se aproximar da cidade alemã, já se avista a principal atração: o burgo que dá nome ao lugar. Após desembarcar, não há como não o encontrar, já que as românticas e estreitas ruelas conduzem direto ao castelo, que propicia uma verdadeira viagem à época medieval. Estima-se que as muralhas estejam lá desde o século 7 e que, a partir de 1.526, a construção tenha se tornado residência oficial do principado de Konstanz. Uma ponte com chão de pedra e grades de madeira conduz os visitantes ao interior do burgo. Antes de começar a circular pelos antiqüíssimos cômodos, porém, tome um café, acompanhado por algum dos diversos bolos caseiros, no Fürstliches Café, que fica junto ao castelo. Embora o salão de estilo barroco seja bem bonito, ele praticamente não é freqüentado por ninguém no verão.
Tais equipamentos lá foram colocados depois de 1838, quando a propriedade passou para as mãos de Joseph Von Laßberg, uma importante figura local. Sua riqueza permitiu que ele levasse adiante um hobby: colecionar objetos da Idade Média, incluindo os sinistros aparelhos, entre os quais está uma balança de madeira usada para verificar o peso das bruxas. A ala dos tesouros, onde ficavam os livros sagrados e pinturas está atualmente um pouco vazia. Muitos objetos foram levados após as invasões napoleônicas ou se encontram no Neues Schloss (novo castelo). Esse é um casarão rosa acima do burgo. A vista de seus jardins para o lago e para a própria estrutura monumental de pedras do palácio é maravilhosa.
No porto, observe a Coluna Mágica, também do artista Peter Lenk, aquele da controversa obra Impéria, que fica em Konstanz. Na estátua de Meersburg, estão retratados a poetisa Annette Laßberg (irmã do antigo proprietário do castelo local, aquele que colecionava objetos de tortura) e Franz Anton Mesmer, descobridor do “magnetismo animal” ou mesmerismo, que se refere ao estado de uma pessoa a ser magnetizada. A poetisa é representada como uma gaivota, enquanto Mesmer tem um ímã nas mãos e está sobre um círculo no qual seus inimigos estão presos.
Embora o burgo de Meersburg seja incrível, há quem diga que o castelo mais bonito de todo o Lago de Constança seja o Schloss Arenenberg, no lado suíço. Para concluir se isso é verdade, é preciso ir até o vilarejo de Mannenbach. De Konstanz ou Kreuzlingen, no sentido Untersee, saem barcos para lá. A viagem é um pouco mais longa, cerca de uma hora, o que também se traduz numa excelente oportunidade para contemplar mais belezas à beira do lago.
Se você for a Mannenbach fora da alta temporada, não se assuste, pois é bem capaz de encontrar poucas pessoas por lá. Em períodos assim, certamente haverá mais vacas e ovelhas nos campos próximos, que chamam tanto a atenção quanto os casarões locais cheios de floreiras na janela. Isso porque os animais, ao se movimentarem, fazem uma bela sinfonia por causa dos sinos que carregam no pescoço. Independente do movimento da cidade, não se perca do objetivo de visitar o castelo, o qual, localizado na parte alta da Mannenbach, propicia vistas magníficas do campo verde e pontuado por ovelhas. Também é vislumbrado lá de cima, mais uma vez, o onipresente lago azul. Por dentro, a construção também impressiona pelas pinturas e pelo classudo mobiliário que ainda conserva.
Aproveite a visita para almoçar no bistrô logo ao lado do palácio, que aceita pagamento em euro. Naquelas cadeiras dispostas ao ar livre, não deixa de experimentar a “cerveja do kaiser”, praticamente impossível de ser encontrada em outra localidade. Se na hora de pegar o barco de volta for preciso esperar algumas horas, aguarde no bar-restaurante do Seehotel Schiff, ao lado do porto, cujas mesas de madeira e cadeiras com almofadas listradas na parte externa são ótimas para descansar as pernas e ocupar os olhos com uma aprazível vista das redondezas. No cardápio, há um menu- degustação de peixes da região (de €50 a €60 por pessoas) e, entre os pratos avulsos, existe uma seleção reduzida de sopas, saladas, tortas e sanduíches.
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