domingo, 1 de julho de 2012

Instragram, Facebook, Twitter e tipos de pessoas



Sábado à tarde, crianças brincam no parque, enquanto as mães lêem revistas no banco em frente ao gramado.  A mesma cena é vista por mais pelo menos 500 pessoas que recebem o singelo momento congelado por uma imagem do Instagram nas redes sociais. Ninguém disse que os pais só lêem, eles também registram os momentos especiais para a eternidade. Atire a primeira pedra quem nunca bisbilhotou experiências da vida alheia compartilhadas por essas fotografias! Entardecer em praias paradisíacas, garrafas de prosecco, shows badalados, crianças recém nascidas sob fraldas sujas, casamentos, ultrasom e por aí vai. Intimidades do cotidiano!

 

Enquanto vejo essas cenas rotineiras de cidadãos do século XXI relembro dos quatro tipos de pessoas narrados por Milan Kundera. Todas precisam do olhar alheio e as categorias dependem sob qual tipo de olhar elas querem viver. Hum? Papo de psicólogo xarope, né? Nem tanto! O primeiro caso são aqueles sujeitos que apreciam um número infinito de olhares anônimos. Como exemplo, o autor coloca um jornalista e uma estrela americana. Mas hoje em dia, sem forçar a barra, dá para enquadrar aqui nós blogueiros e até (por que não?) os usuários das redes sociais! A gente nunca sabe quem está lendo as bobagens que escrevemos no nosso mural ou postamos em nosso blog. Se houver compartilhamento melhor ainda, porque assim o público se torna cada vez mais desconhecido! Alguém hoje em dia está fora dessa categoria? Bom, se você estiver, provavelmente não terá como se manifestar porque quiçá terá lido tamanha filosofia de boteco. 

 

No romance, a revista em que o jornalista trabalha é fechada pelo governo comuna e ele não tem mais seu público desconhecido. Saber que ele é constantemente vigiado pelos olhos estranhos da polícia secreta devolve a ela o sentido de viver, o motivo para respirar. “Encontrara na polícia o público perdido”. Nosso público perdido está no Facebook? Zuckerberg nos devolveu a razão para respirarmos? (ta bom, isso foi apelação barata só para dar dramaticidade). A segunda categoria de pessoas são as que precisam dos numerosos olhos da família. Não conseguem viver sem organizar almoços, jantares e coquetéis. Quando esse público não está lá é como se a luz se apagasse na sala de visitas. Depois há os que buscam o olhar do ser amado. Basta o companheiro fechar os olhos, que o parceiro desprezado também sofre com a escuridão. Finalmente, os últimos e até interessantes são os que buscam os olhares imaginários dos ausentes. O exemplo do romance é Franz, um professor universitário que embarca numa missão para o Camboja sempre imaginando que o olhar da pintora Sabina, do outro lado do mundo, pudesse estar ali para testemunhar tal coragem. 

 

Mas quem nunca fez nada pensando no olhar de um ausente? Estou até agora quebrando a cabeça para tentar me encaixar em um dos quatro perfis. Acho que tenho um pé em cada um. Claro, com medidas desproporcionais, dependendo do dia, mas isso não vem ao caso. Vou escolher agora uma foto para colocar no mural do meu face e parar da blá blá blá! 

 

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