Muitas vezes a vida nos prega uma
peça. Outras, a arte é que nos prega uma peça. Tanto faz. Mas aqui vai um
grande conselho: desconfie dos restaurantes chineses, principalmente daqueles
mais estilosinhos, sem cheiro de gordura. Nada contra a tais espeluncas, na
verdade, tudo a favor. Mas chega de tantas observações. Vou começar a contar
logo, antes que alguns, principalmente os que odeiam comida chinesa, desistam
de ler.
Era uma noite relativamente fria.
Voltávamos da ginástica, às 22h, pela
rua principal do correio, que segue até a estação de trem em
Weimar. Às quartas-feiras, nada de diferente acontece por aqui. Mas eis que
vimos a inauguração de um novo restaurante (chinês, claro!). Há muito tempo
tinha um estabelecimento naquela calçada, fechado, só com as imagens dos pratos
nas paredes. Provavelmente a reforma tinha acabado e estava rolando uma festa
de inauguração. Pessoal descoladinho, na faixa dos trinta anos, usando jeans,
camiseta, all stars e lenço no pescoço. Todos bebericavam sob uma luz
avermelhada, não daquele tom com cara de bordel francês do século 19. A
luminosidade estava mais para o início de uma balada ou algum efeito numa
galeria. Em resumo, era um clima
muito Berlim para Weimar.
Voltamos para casa animadíssimos e
combinamos de jantar lá na sexta. Entramos no local e fomos atendidos por um
alemão alto, branquelão. Achamos meio esquisito, mas resolvemos dar uma chance,
afinal, vai saber se o cara não morou dez anos na China e se apaixonou por uma
nativa. “Podemos pagar com EC” (débito automático), perguntamos. “Nós ainda não
aceitamos”. Fomos ao banco e retornamos à casa. Mas algo ainda estava meio
estranho. Uma mesa estava ocupada por duas garotas, mas havia somente um
pequeno guichê, com uma pilha de macarrão instantâneo. Eis que o cardápio chega
a mesa. Alguns vinhos, cervejas da China e um longo texto na primeira página.
O artista Konstantin Bayer, formado
na Bauhaus aqui de Weimar, apresentava na Galeria Eigenheim sua mais nova instalação
“China Restaurante”, em cartaz até o dia 05 de maio. Rá! Caí na risada. Eles
nos trouxeram um vinho ruim doce lá, deram um sorrisinho e saíram. Os artistas-
garçons serviam e depois ficavam analisando a reação de seu público. Algo que
gira em torno da inquietação, inconformismo, perplexidade e por aí vai. Alguns passavam pelo lado de fora,
colocava o nariz no vidro com cara de curiosidade e iam embora sem ousar
entrar. Vamos dizer que é uma experiência interessante ser feito e bobo pela aparência.
Também sei que esse papo de instalação e a interação público- obra está em alta. Mas não quando a gente realmente está com fome, né!
Alguém quer aliviar nosso
constrangimento e confessar que já entrou numa instalação artística, achando
que fosse um restaurante descolado? As fotos estão aí pra “provar” como esse
artista aí bolou tudo direitinho!
Obs.1: o restaurante chinês na mesma calçada continua fechado e não foi reformado.
Obs.2: apesar dos pesares, esta foi "menos pior" que entrar no carro errado e quase beijar o motorista!
2 comentários:
hahahaha,..eu ia ficar bem p*** da vida de chegar com fome e fazer parte de uma instalação ...
hahahaha... essa foi muito boa!
O restaurante "real" está fechado desde 2006, acho. Era uma espelunca. Acho que foi fechado quando algumas casas da rua foram reformadas, mas näo tenho bem certeza.
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