Sou meio fanática por listinhas. Tenho várias em mente ou até mesmo rascunhadas na agenda. Listagem de afazeres da semana, leitura para colocar em dia, seminários para preparar, CDs que devem entrar para minha coleção e por aí vai. As de supermercado são detestáveis, mas necessárias para evitar muitas idas e vindas ao inferno alimentício. Minhas favoritas são as listas de sonhos. Elas são mutáveis (ninguém mais quer ser astronauta, né?), reescritas com facilidade e dizem muito sobre as pessoas. Aliás, acho que todo mundo tem a sua. Sempre quando estou entediada no trem ou em alguma palestra chata e interminável, olho para o lado e matuto - se esse sujeito aqui tivesse tal documento íntimo, qual desejo estaria em primeiro lugar? E com o que sonham as garotas que usam sapatos vermelhos? Se as moedinhas da Fontana de Trevi pudessem falar...
Na verdade, o conteúdo não importa muito, é até mesmo bem particular. Peculiar é quando, seja lá por quais razões, ninguém mais se dê ao trabalho de imaginar. Conheci de perto um senhor cujo o sonho era voar. Literalmente! Nada de balão, helicóptero ou zepelim. Ele observava os pássaros, refletia sobre a anatomia dos bichos e passava horas a fio com os argumentos mais estapafúrdios do planeta, tentando provar que um dia ele chegaria lá. Uma outra pessoa bem mais jovem, que conheço relativamente bem, pode-se dizer, sonhava em ter uma clarabóia na sua casa. “Será que um dia a gente terá dinheiro para mandar construir uma numa cobertura”? Sempre pensei, mas nunca tive coragem de dizer. Talvez fosse mais fácil conseguir a grana do que limpar o céu de São Paulo para que a clarabóia fizesse sentido. Talvez, se a primeira personagem conseguisse mesmo voar, poderíamos pedir para ela dar uma forcinha e levar um mini ventilador consigo para dispersar a poluição!
Ao contrário desse querido senhor, o rapaz sonhava com coisas mais concretas. Quer dizer, depende do ponto de vista. Quando criança nem tanto. Ele nunca me disse oficialmente, mas é bem possível que quisesse ter um amigo dinossauro, visitar a lua, ser um cientista entre outras coisas do gênero. Pesquisador ele, de fato, virou. Passou então a sonhar com a tal clarabóia, com a descoberta das ondas gravitacionais e até (por que não?) com viagens turísticas espaciais. “Você concordaria se eu embarcasse numa dessas, mesmo muito velhinho”? Cada pergunta! Mesmo que conseguissem construir ônibus espaciais, custaria uma fortuna! Embora a probabilidade ainda seja maior do que o homem voar com os próprios braços.
Fato é que para perseguir seu objetivo e um dia tentar detectar as tais ondas gravitacionais, ele se mudou para a Alemanha, entrou para um grupo de pesquisa, encarou as simulações computacionais mais esquisitas, mexeu e remexeu no código numérico e, apesar de nada ter sido detectado, a possibilidade o instiga e o motiva a continuar vasculhando. Mesmo que no fim seja somente uma contribuição do tamanho de uma pastilha no chão de mosaico de um World Trade Center. Dura realidade positivista! E como todo pesquisador estrangeiro, ele teve de enfrentar as dificuldades de entender uma nova cultura, arrumar um novo lugar para morar e segurar o orçamento. Alugou um apartamento em um prédio de 1910 da Alemanha Oriental, com cinco andares e sem elevador. Nesse caso, o último andar não tem bem o status de uma cobertura! É o que os alemães chamam de Dachgeschoss. Espaço reservado num edifício para jovens casais e estudantes. Apesar do lugar ser aconchegante, mora-se entre as pilastras, que dão sustentação ao prédio. As janelas são inclinadas, nada mais que um buraco de vidro vedado entre os tijolos do telhado inclinado (foto).
Na verdade, o conteúdo não importa muito, é até mesmo bem particular. Peculiar é quando, seja lá por quais razões, ninguém mais se dê ao trabalho de imaginar. Conheci de perto um senhor cujo o sonho era voar. Literalmente! Nada de balão, helicóptero ou zepelim. Ele observava os pássaros, refletia sobre a anatomia dos bichos e passava horas a fio com os argumentos mais estapafúrdios do planeta, tentando provar que um dia ele chegaria lá. Uma outra pessoa bem mais jovem, que conheço relativamente bem, pode-se dizer, sonhava em ter uma clarabóia na sua casa. “Será que um dia a gente terá dinheiro para mandar construir uma numa cobertura”? Sempre pensei, mas nunca tive coragem de dizer. Talvez fosse mais fácil conseguir a grana do que limpar o céu de São Paulo para que a clarabóia fizesse sentido. Talvez, se a primeira personagem conseguisse mesmo voar, poderíamos pedir para ela dar uma forcinha e levar um mini ventilador consigo para dispersar a poluição!
Ao contrário desse querido senhor, o rapaz sonhava com coisas mais concretas. Quer dizer, depende do ponto de vista. Quando criança nem tanto. Ele nunca me disse oficialmente, mas é bem possível que quisesse ter um amigo dinossauro, visitar a lua, ser um cientista entre outras coisas do gênero. Pesquisador ele, de fato, virou. Passou então a sonhar com a tal clarabóia, com a descoberta das ondas gravitacionais e até (por que não?) com viagens turísticas espaciais. “Você concordaria se eu embarcasse numa dessas, mesmo muito velhinho”? Cada pergunta! Mesmo que conseguissem construir ônibus espaciais, custaria uma fortuna! Embora a probabilidade ainda seja maior do que o homem voar com os próprios braços.
Fato é que para perseguir seu objetivo e um dia tentar detectar as tais ondas gravitacionais, ele se mudou para a Alemanha, entrou para um grupo de pesquisa, encarou as simulações computacionais mais esquisitas, mexeu e remexeu no código numérico e, apesar de nada ter sido detectado, a possibilidade o instiga e o motiva a continuar vasculhando. Mesmo que no fim seja somente uma contribuição do tamanho de uma pastilha no chão de mosaico de um World Trade Center. Dura realidade positivista! E como todo pesquisador estrangeiro, ele teve de enfrentar as dificuldades de entender uma nova cultura, arrumar um novo lugar para morar e segurar o orçamento. Alugou um apartamento em um prédio de 1910 da Alemanha Oriental, com cinco andares e sem elevador. Nesse caso, o último andar não tem bem o status de uma cobertura! É o que os alemães chamam de Dachgeschoss. Espaço reservado num edifício para jovens casais e estudantes. Apesar do lugar ser aconchegante, mora-se entre as pilastras, que dão sustentação ao prédio. As janelas são inclinadas, nada mais que um buraco de vidro vedado entre os tijolos do telhado inclinado (foto).
Mas muitas vezes, as coisas não saem bem como planejamos. Há muita aula, falta de tempo para se dedicar à pesquisa, corte de verbas, burocracia... No fim de dias assim, complicados, ele se deita no tapete preto cheio de almofadas vermelhas, apaga todas as luzes, até mesmo aquelas que vem dos eletrônicos, e coloca Pink Floyd para tocar. Mas foi numa noite dessas, que ao tentar levantar e dar com o cocoruco na parede inclinada, ele percebeu que um dos seus sonhos estava bem ali, há um certo tempo despercebidamente realizado. Lá estava sua clarabóia, escancarando o céu estrelado e a Ursa Maior. De vez em quando, ele até sentia falta do Cruzeiro do Sul, mas acho que ninguém consegue ter o céu inteiro para si. O que temos em comum? Talvez o sonho de envelhecer sonhando juntos.... E se chegaremos lá, nós também não sabemos...
Obs.1: até lá, tentarei negociar a viagem em um ônibus espacial por um “tour” pela Faixa de Gaza ou por uma temporada em um quibuts. A não ser que eu possa plantar batatas na Lua...
Um comentário:
Lindo texto, Regina! Soube do seu blog hoje, agora há pouco, na casa dos tios do Rodrigo. Passarei a acompanhar. Um abração para vcs
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