Tour Leva Visitantes à Dividida Cisjordânia
(Texto originalmente publicado na revista Viaje Mais! Nov. 2012)
Diferentemente de outras regiões como
Jerusalém ou Tel Aviv, cidades da Cisjordânia – com exceção de Belém, onde está
a Basílica da Natividade, não estampam cartões postais pelo mundo. Enquanto a
bolha urbana de Tel Aviv faz esquecer os desentendimentos políticos, distritos
como Hebron reproduzem nas ruas claramente o conflito Israel-Palestina.
Não há perigo em visitar o lugar
porque empresas de turismo como a palestina ATG (Alternative Tourism Group) e a israelense de ativistas judeus Green
Olive Tours trabalham em conjunto para quebrar este estereótipo. Pode-se trocar
a palavra perigoso por tenso, pois os tours abordam assuntos espinhosos como os
assentamentos ilegais, o tratamento que a população recebe de soldados
israelenses e a demolição de casas palestinas.
No
programa está a visita a campos de refugiados, ao muro da segregação, aos
assentamentos de colonos judeus, além de almoço em casa locais. O encontro com
famílias palestinas ou até mesmo a hospedagem é vista como uma tática por essas
empresas para superar preconceitos. Turistas brincam com as crianças, conversam
com o casal, convivem com os locais e percebem que estão entre pessoas comuns. A
proposta desses grupos de turismo não é só dinamizar a economia local, mas
também promover a imagem da Palestina.
O ponto de encontro em Jerusalém é em frente ao
portão principal da instituição cristã YMCA (HaMelekh David St.). Mas o nosso
guia só entra no ônibus, na cidade de Beit Sahour, próximo à Belém. Ele é um
palestino da Cisjordânia, possui um RG verde, e, portanto, não tem autorização
para entrar em territórios Israelenses, inclusive Jerusalém. O ônibus passa por
regiões de diferentes status dentro da Cisjordânia: área A (sob total controle
palestino), B (controle civil
palestino e militar israelense) e C (sob total controle de Israel). O motorista
que faz o transporte dos turistas tem um RG azul, de Israel, mas é de
descendência árabe. Os israelenses de origem judaica são proibidos de entrar
nas áreas A. Parece complicado, mas ao longo da excursão a gente se acostuma.
Estima-se
que, no coração da cidade de Hebron, morem 400 colonos e cerca de três mil
soldados israelenses para protegê-los. O mercado árabe é coberto por redes para
evitar que objetos e lixos atirados pelos colonos caiam nas ruas, sobre as
lojas. Para chegar à Tumba dos Patriarcas, onde Abraão está enterrado, é
preciso passar por três pontos de controle, os checkpoints. É bom não apontar as câmeras nos rostos de soldados
para evitar problemas. Todos passam sem complicações. Locais se espremem na
fila com os turistas para escaparem da constante e minuciosa revista.
Compreensível, pois fiéis que se dirigem à mesquita são fiscalizados três
vezes, durante o caminho. Uma vez por cada checkpoint. Levando em conta que
alguns muçulmanos rezam cinco vezes por dia, eles são controlados pelo menos
quinze vezes.
A
Tumba dos Patriarcas é dividida em duas áreas. Uma mesquita e uma sinagoga, com
entradas separadas. No meio dos dois complexos, está o túmulo de Abraão.
Turistas podem visitar os dois templos. Para entrar na mesquita, é preciso
tirar os sapatos e as mulheres recebem uma capa cinza para cobrirem o corpo e a
cabeça. Lá dentro, muçulmanos rezam ajoelhados sobre os belos carpetes
vermelhos. Os problemas ficam do lado de fora.
Na
antiga rua Al-Shuhada, hoje chamada de Abraão, uma das três últimas famílias
palestinas que restaram ali recebem os turistas para o almoço. Eles moram
exatamente em frente ao terceiro checkpoint
e vivem da pequena loja de cerâmica na frente da casa e do preparo dessas
refeições. Trata-se de uma rua fantasma, após o fechamento do comércio e da
desapropriação das residências.
Um comentário:
Preciso visitar meu marido palestino em Jenin, será q eu posso ter problemas no aeroporto em Israel? Devo dizer que não conheço nenhum palestino e estou indo só a turismo?
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