Chegar em Frankfurt durante a feira
do livro pode ser um pouco estressante. O evento todo dá uma boa chacoalhada na
cidade. São 280 mil visitantes, 9 mil jornalistas de 61 países, além de editoras,
tradutores, autores, designers, ilustradores e agentes. Para quem fala
alemão, há uma programação enorme, gravações de programas, leituras,
apresentações de novos textos literários e
por aí vai. Este ano, no pavilhão de viagem, as discussões sobre blogs
de turismo e conteúdos para aplicativos renderam boas discussões. Foi por ali
que vi pessoalmente, pela primeira vez, o Cohn Bendit, líder estudantil de 68 e
hoje presidente do Partido Verde no Parlamento Alemão. Lá estava ele, polêmico
como sempre, falando do seu novo
livro “Para a Europa” (Für Europa). Aliás, ele até declarou em rede nacional
que se aposentará no ano que vem e irá ao Brasil gravar um documentário de como
nós, brasileiros, vivenciamos a copa do mundo! Esta eu quero ver.
Por enquanto, parece tudo muito
legal. Mas a minha descrição não deve corresponder a de um agente literário.
Esses sujeitos fazem uma espécie de RP entre editoras para negociar copy
rights. Ficam em mesas, espalhadas simetricamente em um galpão gigantesco, longe
de todo o murmurinho agitado da feira, recebendo editoras do mundo todo a cada
30 minutos. Tempo para comer? Coisa de
30 minutos, se o coitado tiver sorte. Ali eles ficam sem luz do sol, das
9h às 18h, cercados por mesas e garrafões de água. Mais ingrato que isso, é ter
de apresentar títulos estranhos como um “livro agenda” para anotar os parceiros
com que as pessoas dormiram, até com espaços de avaliação para determinadas
partes do corpo. Leia-se pernas, bunda e seios! Pois é. Produto de uma editora
americana que edita uma porção de coisas rentáveis (ou não) do gênero.
A diferença cultural também é um
aspecto a ser levado em conta. As editoras japonesas são bem formais, lhe
entregam o cartão de visita com as duas mãos, fazem uma leve reverência com o
corpo e mandam uma avalanche de perguntas para a editora que está atrás dos
direitos. Legal mesmo é a seriedade do mesmo oriental explicando a narrativa
de um determinado mangá com teor erótico. A formalidade é mantida, sem nenhuma
piadinha ou risadinhas no canto da boca. Os espanhóis são mais próximos do
nosso jeitão. Convidam para um bebericar rápido, prometem mandar o material ao
voltar para o país de origem e explicam a correria pré-feira que dificultou a
elaboração de um status de venda mais consolidado dos títulos. Nesse espaço, as
editoras e seus agentes apresentam seus livros, negociam copy rights e fazem o
maior cerimonial do planeta. São
7.384 expositores que aparecem por lá para cuidar da imagem da empresa e fazer
novos contatos. Ao fim do quinto dia, a cara de cansaço e a bolsa embaixo dos
olhos dos pobres funcionários é nítida. Mas ainda assim, eles mantém a pose
para cuidar da tal imagem. Cada um, cada um.
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Obs.: No próximo ano, o Brasil será
homenageado e terá uma grande programação voltada para nossos autores. O país
está na moda, ninguém fala mesmo em outra coisa. Bom, assim talvez as
pessoas por aqui passem a entender que nossa literatura vai além do Paulo Coelho.
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