quarta-feira, 30 de maio de 2012

Concentre-se, concentre-se, concentre-se !



Sentada na minha mesa, em frente ao computador, perdida entre inúmeras pastas e janelas. Caos.  A campainha toca, atendo o interfone e uma voz ofegante quase grita: “Post Paket”. Abro a porta, mas ninguém aparece. Deve ser mais um desses funcionários preguiçosos do correio que nunca trazem minha encomenda até o último andar. Desço cinco lances de escada e me deparo com meu pacote marrom da Amazon deixado no primeiro degrau. Nunca pensei em reclamar com a DHL. Cliente na Europa não é um cara especial.
Volto para a escrivaninha. Desembrulho a caixa e vejo a surpresa. “Estratégias e Frames da cobertura de campanhas eleitorais – uma comparação entre EUA e Alemanha”. Desânimo. Coloco-o ali na pilha de livros à esquerda. Preciso começar logo a preparar esse seminário sobre as eleições americanas. Fadiga. Porque elas são tão complicadas? Detesto os Republicanos. Diversão com o vídeo “Mitt Romney goes Eminem”. Já viram? Muito bom! http://www.youtube.com/watch?v=bxch-yi14BE. Melhor deixar isso para mais tarde. Dispersão. À direita estão os textos para as aulas de comparação de sistemas de mídia. Talvez seja melhor migrar para lá. Mas o calor não combina com a leitura do Habermas em alemão! Toda a esfera pública deve estar tomando sol num lago agora. Mas de quem se trata essa tal Öffentlichkeit?! Logo mais uma outra apresentação. Sai de mim moleza! Plim! Mais um email. Tomara que chegue alguma piadinha. Sem chance. Lembrete: reunião amanhã às 10h com o grupo de pesquisa sobre a comunicação entre humanos e robôs. Queria um R2 para repetir constantemente: “concentre-se, concentre-se, concentre-se”.
Preciso produzir. Mas antes uma rápida espiadela no Facebook. Vou corrigir a matéria do Bodensee. Meus olhos ardem. Já li a mesma coisa mil vezes. Vou deixar lá para mais tarde. Preciso esquecer o que escrevi. Um pequeno post para relaxar, desabafar, inspirar, reclamar, atormentar!  Tela em branco. Vazio. Deve ser fome. Mas o almoço tem que ser rápido. Cento e vinte páginas me esperam para terça-feira que vem. Memória ou lembrança? Qual a diferença?! Atas políticas com propostas para retrabalhar a cultura histórica alemã... Saudades de ouvir um sambinha. A montanha de papel, livros e e-mails se acumulam. Logo mais dará alergia. Vontade de espirrar. Estou perdendo o ritmo. Não consigo mais ler o jornal diariamente... Mas as notícias me perseguem nas redes sociais. Organizo tudo. Abro um calendário, programo a semana.
Olho os pássaros pretos de pena arrepiada sobrevoarem a janela, rindo da minha cara. Livres, desconcentrados e aproveitando o curto verão....

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Restaurante Anna Amalia — o único com uma estrela do guia Michelan na Alemanha Central


Vou confessar que, no início, achava a Turíngia um tanto caipira.  Apesar da presença marcante de figurões do classicismo alemão como Goethe, Schiller e cia, é difícil compará-la com a perfumada Provence ou a charmosa Toscana. Leva tempo para a gente se acostumar e passar a admirar suas belezas particulares. Mas a danada nos conquista. A prova está aí, numa reportagem do ano passado para a Viaje Mais!
Mas apesar do seu jeitinho provinciano, descobrimos até um restaurante, o Anna Amalia, do guia Michelin (condecorado com uma estrela), o único de toda a região.  A casa pertence ao  tradicional Hotel Elephant, em Weimar, onde Thomas Mann teria se hospedado e até usou o cenário para ambientar seu romance “Lotte in Weimar”. Acometidos pelo pecado da gula, fomos dar uma conferida para ver se o chef Marcello Fabbri realmente nos deixaria de queixo caído.
Não preciso nem falar que o ambiente está bem longe de uma cantina italiana. Decoração sóbria, clássica e fina. Casais bem mais velhos conversam baixinho, senhores de gravata tentam impressionar seus clientes e turistas do hotel dominam o salão. Criança é algo inexistente, afinal, esses serzinhos barulhentos atrapalhariam qualquer degustação e fariam os hóspedes engasgarem com tamanho tormento! Mas apesar dessa formalidade inicial, recepção com champanhe e essas coisas, a equipe é extremamente simpática (ou perceberam logo que a gente não tem um quê assim tão formal). Explico. Não há melhor remédio para quem já está no inferno a não ser “abraçar o diabo”. Por isso, decidimos por um menu degustação de oito pratos. Era para não correr o risco também de sair com fome, já que arte não enche muito a barriga!  Já diria minha avó....
Só tinha um pequeno detalhe. A quinta criação do chefe era a base de cordeiro e eu não vou com a cara de carnes vermelhas nem no boteco do Viera nem no restaurante do guia Michelin. O bom de enfrentar uma situação assim em outro país é que a gente pode fofocar a vontade sem que a equipe perceba que alguma coisa não está legal. Cheia de dedos, tentei explicar ao maitre o problema e perguntei o que ele me sugeria, qual prato se encaixaria melhor naquela seqüência gastronômica. “O que você quiser”, ele me disse. Bem diferente daqueles garçons franceses que torcem o nariz quando algum pobre coitado pede uma carne bem passada. “Mas esse é o ponto do chefe”, dizem com aquele ar de superioridade. Já vi isso acontecer e por isso estava preparada para receber um tom de reprovação. Mas me surpreendi. No lugar das peças de cordeiro com espuma de pecorino, repousadas sobre berinjelas regadas ao hortelã, me trouxeram um excelente risoto negro de lulas! E não me olharam com repúdia só porque eu dispensei uma criação do mestre! Amei.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

O Sonho dos Outros

Sou meio fanática por listinhas. Tenho várias em mente ou até mesmo rascunhadas na agenda. Listagem de afazeres da semana, leitura para colocar em dia, seminários para preparar, CDs que devem entrar para minha coleção e por aí vai. As de supermercado são detestáveis, mas necessárias para evitar muitas idas e vindas ao inferno alimentício. Minhas favoritas são as listas de sonhos. Elas são mutáveis (ninguém mais quer ser astronauta, né?), reescritas com facilidade e dizem muito sobre as pessoas. Aliás, acho que todo mundo tem a sua. Sempre quando estou entediada no trem ou em alguma palestra chata e interminável, olho para o lado e matuto - se esse sujeito aqui tivesse tal documento íntimo, qual desejo estaria em primeiro lugar? E com o que sonham as garotas que usam sapatos vermelhos? Se as moedinhas da Fontana de Trevi pudessem falar...

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Vida de cão



Gosto daquelas orelhas peludas compridas e douradas dos cocker spaniels, mesmo que às vezes esse estilo os deixe com cara de bobalhões. Mas sempre há uma certa graça em vê-los sair do almoço com os cachos lambuzados de alguma guloseima ou pingando água. Toda vez que encontro um, olho para o focinho engraçado e, ao simples sinal do balançar do rabicó arrebitado, logo pergunto: “é você”?  Explico.

Ganhei meu primeiro cocker dourado quando era bem criança. Não me lembro muito do processo de persuasão para trazer o cão pra casa, somente do olhar desolado e de compaixão do não escolhido. Colocaram dois filhotes na minha frente para que eu me decidisse por um deles. Estava nas minhas mãos o destino daquelas criaturas infantis e bobalhonas. Uma delas foi devolvida impiedosamente para a gaiola forrada com jornais. Mas eu logo me esqueci do infortúnio do pobre e da vida de cão que poderia levar. Trouxe o Scooby no colo cheio de afagos e já tinha até uma cesta enorme de vime esperando por ele na cozinha. O que eu soube muito mais tarde é que a minha escolha não fora muito feliz. Trouxe para casa o bichinho adoentado, tristonho, sem muita vontade de brincar. Com o passar dos dias, seus pelos dourados das patas foram caindo, deixando a pele esbranquiçada à mostra. Embrulhava as patas dele com pedaços de pano como uma pequena muleta para que ele esquecesse o problema. Mas a cada dia ele ficava mais careca. Perdia a luta contra a cinomose, embora eu nem soubesse bem o que era isso. Não havia outra possibilidade para o pobre. Levaram-no ao veterinário e me disseram que eles ficaria por um mês na UTI.

Um mês! Mas quanto tempo! Um absurdo. Ele nem estava tão debilitado assim. Fato é que demorou uns vinte dias para eu descobrir o paradeiro do Scooby. Ele fora sacrificado e agora os cômodos em que ele morou precisavam ser limpos e arejados para que o vírus desaparecesse. Minha avó me revelou o segredo às escondidas depois de ouvir por longas noites meus planos mirabolantes para resgatar o cachorrinho do veterinário. Chorei olhando as fotos dele todo remendado sem acreditar, mas não contei para mais ninguém que eu descobrira a verdade. Queria ver até onde iria a narrativa adulta. Foi minha primeira perda. Tudo bem, eu já tinha visto um filhote de jabuti morrer, mas como eles não interagem muito, alterei o marco das minhas lembranças.

Eis que depois de trinta dias, entra pela porta da sala um cocker dourado serelepe, curioso, cheirando tudo e todos que via pela frente. Ele ainda tinha aquele jeitão engraçado, que só as pessoas mais inocentes tem, mas era portador de um focinho muito maior. Acho que, por isso, ele também se sentiu melhor com a família! Brigamos várias vezes porque ele insistia em comer os pés das minhas bonecas e tomar água do vaso sanitário. Sempre lá vinha ele, chacoalhando aquele orelhona de elefante, pingando em minha direção. Com o tempo, ele foi se tornando independente. Fazia suas necessidades sozinho, pedia para que lhe abrissem a porta e saía pelo bairro sem coleira. Quando retornava, arranhava a porta e uivava até que alguma alma caridosa destrancasse o portão. Tornou-se popular nas redondezas, a vizinhança o chamava pelo nome, Jack, e muitas vezes vinham ao nosso lar reclamar do mal comportamento daquele cão metido a independente. Quantas vezes não se intrometia no meio da pelada, roubava a bola de futebol, corria mais que uma lebre e quando era capturado, a redonda já estava em frangalhos. Como se não bastasse, ainda resolveu brigar com os outros cães. Voltava muitas vezes com as orelhas rasgadas e sangrando. Após os cuidados, alguns resmungos para deixar passar mertiolate, ia descansar na sua poltrona e ai de quem estivesse lá. Se ele fosse com a sua cara, pularia no seu colo, senão o enxotaria de lá com as patas sujismundas do último duelo. Fiel, dormia sobre as roupas daqueles que viajavam para matar a saudade, mas preservava sua esfera privada. O que passara na rua, era assunto dele.

Um dia ele saiu como sempre fazia e nunca mais voltou. Esperamos um dia, dois dias e nada. Vasculhamos todas as ruelas da região, perguntamos para todos os conhecidos, mas até hoje ninguém sabe do seu paradeiro. Teria arrumado uma namorada? Fora seqüestrado, envenenado por algum vizinho impaciente ou caíra na tocaia da gang vira-lata? Ou teria somente se perdido ao querer sempre ir um pouco mais longe? Deve estar por aí rodando pelo mundo até hoje, embora muito velhinho, quase um ancião. Em 2005 achei um cocker spaniel chamado Jack em um cemitério de animais no entorno de Enniskerry, em Dublin. Se ele tinha pelos dourados acho que ninguém mais pode dizer. Perguntei: “É você”? Não obtive resposta. Mas acho improvável que ele tenha se camuflado no porão de um navio junto às batatas. Por isso, até hoje continuo indagando para aqueles que correspondem meu olhar “é você?”. Nem sei se nos reconheceríamos mais... 

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Onde ver neve na Europa? Alpes da Baviera — Zugspitze: o ponto mais alto da Alemanha

Uma viagem para descobrir os Alpes alemães
(Texto originalmente publicado na revista Viaje Mais! Jan.2012)


Desbrave o gelado Zugspitze a quase 3 mil metros de altura e relaxe em Garmisch-Partenkirchen, a estância de inverno mais famosa do país

                 A Baviera, ao sul da Alemanha, é mais conhecida pela Oktoberfest em Munique, a capital estadual, e pelos passeios entre castelos da Rota Romântica como o icônico Neuschwanstein), que começam ou terminam por lá. Mas a região também abriga os Alpes alemães, incluindo o pico mais alto do pais, conhecido como Zugspitze. A área foi um exótico presente do então imperador da Áustria, Francisco José, para a Baviera logo apos seu casamento com a famosa princesa Sissi. Assim, a terra natal de sua mulher ganharia uma montanha “de verdade”, teria dito o soberano.

Ali, a  2.962 metros acima do nível do mar, visitantes comem suas salsichas brancas e tomam cerveja ao lado da placa que faz questão de lembrar: “Biergarten mais alto da Alemanha”. Mas não é só pela sensação de experimentar uma gelada nas alturas que cerca de 500 mil visitantes sobem a montanha todos os anos. A paisagem belíssima e os Alpes oferecem uma gama de atividades como esqui, alpinismos, trilhas, snowboard, exposições e até mesmo programas gastronômicos. Opções de lazer que o tenente Joseph Naus – a primeira pessoas a alcançar o Zugspitze em 27 de agosto de 1820, com a proposta de realizar estudos de topografia para o rei da Bavária – mal poderia imaginar.
As dificuldades para chegar ao topo de maneira rápida, fácil e segura também foram superadas. Hoje não é mais preciso estar em plena forma para chegar lá me cima.  Depois de trinta anos de construção, foi inaugurada em 1930 a ferrovia que leva os visitantes de Garmisch – Partenkirchen (a uma hora e meia de Munique) direto ao local.

Até o topo

A rota é operada por uma empresa privada e os trens saem deatrás da estação principal. Tal percurso demora cera de uma hora e quinze minutos. Nos trechos mais íngremes, a locomotiva sobe por túneis. Mas para aqueles que não têm medo de altura, recomenda-se ir de trem somente até a estação Eibsee  e de lá pegar o bondinho (Eibsee-Seilbahn), na ativa desde sua construção, em 1963. O Eibsee é um lago bem no pé da montanha, no vale dos Alpes, que merece uma visita. Para quem tiver com tempo, pode até desfrutar um almoço por lá. Depois da rápida checagem nos arredores do lago, é só se preparar para subir. Mesmo para os mais receosos, vale a pena superar o medo. Os ouvidos sentem rapidamente a diferença de pressão e, quanto mais alto, parece até que irá quase colidir com a montanha.
Apesar da descrição parecer assustadora, trata-se somente da primeira sensação. Não é difícil presenciar moças apertando as mãos de medo e soltando-as logo em seguida para apoiá-las nos vidros da frente, com o olhar estarrecido e deslumbrado, tal o espetáculo da natureza.  As crianças que iniciam a subida muitas vezes chorando param quase que imediatamente, conforme o Eibsee vai ficando pequeno e para trás, como se tivessem esquecido o motivo inicial do choramingo. 
Na chegada, há uma exposição gratuita com filmes e fotos antigas que contam a história do Zugspitze, da construção das ferrovias e teleféricos e até dos estudos meteorológicos. Cartazes, tíquetes antigos e imagens dos trabalhadores cavando o túnel do trem completam o acervo. Mas o destaque é o terraço que se estende até a porção ocidental do topo, na fronteira com o Tirol, na Áustria. Ao atravessar para o outro lado, as fotos são todas voltadas para os Alpes austríacos. De tempos em tempos, passam aviões de pequeno porte praticamente na mesma altura das cercas de segurança. Do lado alemão, lunetas indicam as direções de atrações da Bavária como o castelo Neuschwanstein, do rei Ludwig II. Deste mesmo terraço, uma estação meteorológica fornece informações climáticas há mais de cem anos. Detalhe que passa despercebido: quem vai reparar nisso, quando a plataforma tem à disposição uma vista panorâmica de 360 graus para 23 montanhas de qautro países diferentes (Alemanha, Áustria, Itália e Suíça)?

 Um pouco abaixo do Zugspitze (a descida é feita com outro bondinho, o Gletscherbahn) estão as geleiras. Todos os dias, dependendo das condições climáticas, sai um tour às 11h e outro às 13h30 para explorar a região. O ponto de encontro é em frente ao restaurante SonnAlpin. Não esqueça de maneira alguma os óculos escuros! Segundo o guia local, o brilho do sol no topo é quase 20% mais intenso e a neve ainda reflete mais 10% da claridade. Apesar de ser todo em alemão, é interessante se juntar ao tour gratuito nem que seja somente para caminhar pelos pontos mais distantes, acompanhado por pessoas experientes. Os guias, em geral, sabem qual trilha está mais fácil, qual a situação da neve e o quanto está afundando.

Herança esportiva

          A mini“expedição” começa em direção a igreja Maria Heimsuchung, capela inaugurada em 11 de outubro de 1981 e em pleno funcionamento. Ali, visitantes podem assistir à missas bem pertinho do céu. E eles o fazem. Mesmo pessoas idosas sobem até a igrejinha, a passos vagarosos para não se desequilibrar no chão escorregadio.
           A caminhada continua em direção à pista de esqui. O primeiro boom da região ocorreu com os Jogos Olímpicos de inverno de 1936 e depois com o Campeonato Mundial de Esqui, em 1978. Em fevereiro de 2010, Garmisch - Partenkirchen ganhou as páginas dos jornais novamente, quando abrigou o Campeonato Mundial de Esqui Alpino, o que rendeu cerca de €27 milhões em melhorias da infraestrutura. Eventos que fizeram muitos ambientalistas torcerem o nariz.
          Ser a área mais famosa e conhecida para a prática de esportes de inverno tem lá o seu preço. E o fator ecológico é um ponto a ser levado em consideração. “Daqui uns anos, por conta do aquecimento global, é possível que nós não tenhamos mais neve no verão por aqui”, diz um instrutor. Por esta e outras razões, há desde 12 de maio de 1999 um centro de pesquisa ambiental e observação climática. Trata-se do Schneefernhaus. Na realidade, tal construção funcionou como um hotel de luxo cheio de atrações exóticas por 62 anos. Mas, uma pesada avalanche em 15 de maio de 1965, com um saldo de dez morte e 24 feridos, soterrou a história do hotel, que acabou transformado em um centro de pesquisa.    
           Para pernoitar ali, bem no topo da Alemanha, uma boa pedida é a Aldeia-Iglu (Iglu-Dorf). De 31 de dezembro até meados de abril, dependendo da temperatura, é possível passar a noite à la esquimó e ver o sol nascer e se pôr nas geleiras. O “hotel” é totalmente construído a cada nova temporada e, apesar das adversas condições climáticas, sempre com estilo. Artistas são chamados todos os anos para decorar a morada  de gelo. Os quartos para dois, os chamados Iglus românticos, oferecem até esculturas de neve, além de uma garrafa de prosecco de boas-vindas. Os preços variam de €99 a €369 por pessoas e não inclui o transporte até lá em cima. Um guia do hotel encontra os hóspedes em frente ao restaurante SonnAlpin e os conduz em direção aos quartos.
            Independente do clima das geleiras, muita chuva ou tempestade de neve,  dentro dos iglus vocês fica protegido sempre a uma temperatura entre 0 e -5 graus Celsius. A casa oferece sacos de dormir térmicos e especiais para a ocasião. Para espantar o frio, nada como um fondue de queijo na hora do jantar, iguaria também inclusa na diária. Outras opções gastronômicas são gulasch (sopa húngara) ou o chili com carne. Água e chá estão sempre à disposição. Outros tipos de bebida são pagas pelos hóspedes à parte e em dinheiro! Na escuridão, os mais aventureiros podem se juntar à expedição noturna, uma caminhada de 40 minutos pelas geleiras. Outra boa pedida é aproveitar também a estrutura de sauna e piscina com água quente (sempre entre 38 e 40 graus Celsius) na área comum do complexo. É desnecessário lembrar que calças térmicas, sapatos confortáveis, gorros e luvas são imprescindíveis. Vale a dica que não há duchas e os banheiros são químicos, individuais ou coletivos. Pode ocorrer, por razões de segurança, pelo menos duas ou três noites por temporada, que os hóspedes tenham de deixar seus iglus e se dirigirem ao restaurante SonnAlpin. Embora a aldeia gelada não se encontre em áreas ameaçadas por avalanches, a qualquer sinal de perigo são tomadas as precauções necessárias.
No terraço onde está o SonnAlpin dezenas de visitantes deitam em espreguiçadeiras para aproveitar o sol do inverno, enquanto apreciam as delícias gastronômicas bávaras. Ali bem ao lado, o café Gletschergarten é uma boa dica para quem não quer almoçar, mas só saborear diversos tipos de bolos e tortas, regados a chás, cafés e até mesmo uma taça de vinho – tome cuidado, pois o efeito do álcool a quase 3 mil metros do solo é um pouco mais intenso. Inaugurado no verão de 2007, o café é todo envidraçado, o que não priva os turistas da bela paisagem.

Minitrenós à disposição

Durante a temporada, é possível alugar esquis e outros equipamentos. Porém, enquanto o inverno não aparece, dezenas de minitrenós ficam espalhados pelo terraço para que os visitantes arrisquem uma descida pelas montanhas de neve. E não somente as crianças que se deixam  levar pela brincadeira. Adultos ficam e prontidão esperando por um trenozinho livre. No final do dia, a disputa diminui. Ainda assim, é de bom tom trazer o equipamento de volta após descer ladeira abaixo, mesmo que você esteja atrasado para pegar o último trem que desce para o vale às 16h30. Pouquíssimas vezes no ano, geralmente no verão, é possível vivenciar lá em cima a “Noite da Bavariera”. Depois que todos os turistas deixam o Zugspitze, sobe uma secreta locomotiva às 17h15. Quando o sol se põe e a montanha se encontra na mais completa escuridão, os felizardos são acomodados no restaurante SonnAlpinn para um jantar buffet com iguarias e musicas típicas da Bavária. Há também a versão do jantar de gala durante a lua cheia, com datas também muito restritas. A recepção ocorre no terraço com champanhe e o jantar  no restaurante Panorama Lounge.

Trilhas e bondinhos

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Conflito cultural? Será?



B.S é uma americana que até o fim da high school morou com os pais em um estado praticamente na fronteira com o Canadá. Nas férias, ela acampava na região dos Grandes Lagos e curtia a natureza cantando com o grupo de escoteiros músicas do Cat Stevens. Lá mesmo, em sua terra natal, ela conheceu um garoto alemão, um intercambista da sua escola. Começaram a namorar. Um ano se passou e pelo que tudo indicava o romance dos jovens não seria lá muito promissor. Ele voltou para casa, ela ainda tinha mais um ano de colégio para terminar. Mas esse não foi o curto desfecho de dois garotos sem grana, separados por um oceano inteiro. Ela arrumou um emprego no Joey´s Pizza e trabalhou até mesmo nos finais de semana. Juntou 12 mil dólares em um ano e desembarcou de “mala e cuia” na Alemanha. E os planos que seus pais tinham determinado para ela, cursar a faculdade na mesma instituição em que a mãe trabalhava por um descontão? Esse não era bem o desejo dela.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O raios do BFF!


Estávamos aqui rindo com uma matéria da Atrevida sobre a vergonha que as mães fazem os filhos passarem nas redes sociais. Nem sabia que a revista ainda existia. Deve ter sido com certeza reformulada, repaginada, reestruturada e modernizada para cair no gosto da molecada de hoje em dia. Percebi isso ao me deparar com a tal sigla BFF. Acho que estou deveras meio velha. Há quinze anos (ou  mais, assumo) eu lia a mesma publicação e entendia tudo o que se passava. E agora esse BFF. Do que será que eles estavam falando? Deve ser “Best Fuck Friends”, pensei. Só pode. Mas para um público de doze anos é bem moderninho, né? Consultei o pai dos burro do século XXI e lá no Santo Google achei uma definição bem mais legal: Bunda Feia e Fedida! Pensei em mandar uma mensagem no Face para a minha prima de onze anos para comunicar a minha descoberta sobre esse universo, mas lembrei que, após umas notas baixas, ela não pode mais circular pela rede. Pelo menos por enquanto.
Vamos lá. Meu castigo era não poder mais sair na rua e brincar com os vizinhos. E o máximo da vergonha era a minha mãe entrar na balada (quem sabe até de domingo à tarde) para me buscar e ver um ou outro garotinho mais alcoolizado da turma, abraçando algumas garotas. Não me proibiam de usar as redes, mas sim o telefone. Vai dizer que a sua avó nunca colocou um cadeado no discador de girar do aparelho para você não estourar a conta! O telefone tocava e a gente saia correndo achando que era para nós! Agora mandamos mensagens pelo MSN, Facebook, Skype... Ai que saudade daquele cadeadinho! Não tenho nada contra a rede, pelo contrário, a uso bastante. Mas achei as dicas da revista para as tais BFF de como se comportar no Face engraçadas. Veio a calhar com o livro da vez, o “Together Alone”, da Sherry Turkle, antropóloga e professora do MIT. Quase escrevi “o livro na minha cabeceira” mas tenho que assumir que eles está no IPad, na cabeceira, mas também no IPad. Mas isso é assunto para um outro post.
Ah, só para constar. O BBF é o “Beste Friend Forever”. Muito mais inocente do que imaginávamos.





sexta-feira, 4 de maio de 2012

Arrependimentos do cotidiano



Eu me arrependi de muitas poucas coisas ao longo desses meus quase 30 anos (aí, que estranho dizer isto!). A maioria são arrependimentos bobos, sem muito significado, como pular a janela enquanto brincava com meu primo de “gato mia” e o deixar lá no quarto escuro por meia hora procurando por ninguém! Ou de descer uma rampa de patins de costas e achar que fosse parar por obra do destino. Ok, também não fiquei feliz por beber tanto numa festa de estudantes em Dublin, dormir e não ver o alarme do prédio ser acionado e a policia chegar. Afinal, perdi a melhor parte da comemoração. Entra para minha lista também um fora aqui, outro ali. Mas uma coisa mexe realmente comigo. E não pode mais ser desfeita.
Meu pai era um cara que não andava de carro. Os motivos não vêm ao caso, afinal isso é um blog e, embora poucos leiam, é uma exposição da esfera privada (blá, blá, blá, bando de teórico chato!) E, não. Ele não pertencia ao Partido Verde ou ao Green Peace, embora  isso até fosse possível. Nos últimos dez anos, a única vez que ele entrou num veículo com quatro rodas foi numa ambulância ou para chegar à igreja no dia do meu casamento. Detalhe. Isso depois da família inteira esconder os convites e “esquecer” o endereço da celebração para não correr o risco dele chegar como mais gostava. A pé! Sei o quanto isso deve ter sido difícil.
Fato é que ele se foi. Cedo e a pé, como gostava, mas se foi.  E aí que vem a minha irritação. O caixão dele foi carregado até a campa por um carrinho. Tipo aqueles pequenos de golfe, mas não importa. Era um veículo motorizado. E isso me incomoda porque eu deveria ter dispensado aquele motorista e sua ximbica e o levado em mãos. Tudo bem, ele era um cara magrinho, mas ainda assim, estava pesado. Mesmo carregado por oito pessoas. Mas esse não é realmente o motivo para a gente ter deixado ele lá naquela lata velha ambulante. Ao contrário dele, a gente se esforça pra ser normal. E como nos empenhamos em nome dessa tal normalidade. Isso não dá mais para ser consertado. Ninguém morre duas vezes. Acho que nem ele conseguiria essa façanha.

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Simulacro chinês

Muitas vezes a vida nos prega uma peça. Outras, a arte é que nos prega uma peça. Tanto faz. Mas aqui vai um grande conselho: desconfie dos restaurantes chineses, principalmente daqueles mais estilosinhos, sem cheiro de gordura. Nada contra a tais espeluncas, na verdade, tudo a favor. Mas chega de tantas observações. Vou começar a contar logo, antes que alguns, principalmente os que odeiam comida chinesa, desistam de ler.