Neste último sábado, fomos convidados por um casal alemão (muito gente boa) para uma rodada de fondue, às 19h. Éramos em três brasileiros, dois mexicanos, dois espanhóis, três alemães e um húngaro. O problema é que, antes do encontro, o grupo de latinos resolveu dar uma passadinha na festa do vinho no vilarejo de “Werder, an Havel” (logo mais escrevo um post sobre a celebração) . A vila é bem próxima de Potsdam, onde supostamente deveríamos aparecer por volta das 19h. A combinação foi um pouco desastrada. Leia-se: vinho de morango, framboesa, maça e derivações (se é que podemos chamar isso de vinho); feriado do dia primeiro de maio (passeatas e tropas de choque por toda esquina) e um grupo alegre de amigos tentando entrar nos poucos trens disponíveis e lotados na estação da vila, talvez um pouco menor que Pirapora.
Chegamos na casa dos nossos anfitriões às 19h50. Se levarmos em consideração que um convidado alemão deu o ar da graça dez minutos antes do combinado, estamos com uma diferença de uma hora exata (genau, como diriam os próprios germânicos). Então demos conta que uma brasileira ainda estava faltando. O espanhol balbuciou: “ apesar do atraso, não fomos os últimos”. Resposta do dono da casa: “da próxima vez escreverei no convite que o último a tocar a campainha lavará a louça”. Silêncio seguido por gargalhada geral.Sentamos em volta da mesa impecavelmente posta.
Como o nível alcoólico estava alto depois dessa invenção moderna de festa da colheita, começamos com os famosos sucos “Já”. Para quem não conhece, Ja é a marca de produtos genéricos e por isso bem baratinho. Em alemão falamos Ya. Comentamos que em português diríamos Já como Jane, Jaca, Jabiraca. E os falantes de espanhol da mesa deram a versão deles da pronúncia. Já como Juan (para nós Ra e Ruan). Foi então que a brasileira (aquela que chegou por último) soltou.: quer dizer que vocês escrevem no chat de internet Jajaja no lugar de Rarara? Alguém remendou (juro que não fui eu): “ pior que isso só papai Noel dizer Jô Jô Jô. Quem fala espanhol é mesmo esquisito. Onde já se viu o Patolino chamar o El Pato Lucas!
Quando não poderia ser pior, o Húngaro (Jozsef) que até agora prestava atenção no duelo lingüístico espanhol-português lançou a pergunta. “Se o diminutivo do meu nome é Josca (é assim que os amigos o chamam), significa que para vocês eu sou o Rosca”? Nem preciso continuar a contar o que aconteceu...
Depois de tanto sacanearem e explicarem a maldade por trás da rosca, ele começou a se gabar das dificuldades da língua húngara – dezoito declinações! Até que a namorada dele se interferiu e disse: “claro, vocês também não tem gêneros nem preposição”. E ele esbravejou “mas pelo menos não é uma língua sexista". Todos os estrangeiros da mesa, que há meses brigam com a língua alemã, soltaram um suspiro aliviado com as quatro clássicas e mais que suficientes declinações. Ao reclamar que de inicio o nominativo é bico, mas depois a professora aparece com aquele acusativo e para lascar de vez vem o dativo e o genitivo, os alemães fizeram cara de interrogação.
Nós aprendemos tudo fora de ordem. Na escola eles estudam nominativo, genitivo, dativo e acusativo, sei lá porquê. O fato é que nessa discussão um brasileiro mostrou o dedo indicador para falar da primeira declinação. A alemã anfitriã caiu na risada. É assim, olha, e mostrou o polegar. Esse povo se expressa mesmo cada um ao seu modo. Agora o papo era como pessoas estranhas de países esquisitos contavam com as mãos. Nós brasileiros dizemos um e mostramos o indicador. Depois vem o dois com o dedo do meio, três com anelar , quatro quando acrescentamos o mindinho e finalmente cinco com o polegar.
Os alemães fazem nessa ordem: polegar, indicador, meio, anelar e mindinho. I-m-p-o-s-s-í-v-e-l. Ou nascemos alemães ou na pior das hipóteses contorcionistas. E a rodada filosófica da noite terminou com a pergunta daquele cara que foi o primeirão a chegar: “ mas porque vocês precisam mostrar os números com as mãos”, disse ele incrédulo. “É só dizer em voz alta”. Sem mais comentários, hora da sobremesa.
2 comentários:
assistiu Inglorious Basterds??? a maneira alemã de "contar com os dedos" faz tooooda a diferença no filme hehehehe ou jejejejeje adoro os posts! abraços!!
Assiti! ahahah. Nem para espiã eu serviria! Talvez sem falar, sem gesticular e com uma peruca loira eu enganaria um alemão! rsrs
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