Bollocks to Brexit

Mais irritante que o „Mind the Gap” em Londres só esse slogan “Keep Calm and Carry On”. Enquanto os franceses queimam carros em protesto contra o planeta, os ingleses são aconselhados a manterem a calma e seguirem em frente. Sério? É muita contenção. O mundo caindo, o Titanic afundando, a casa pegando fogo, o demônio da Tasmânia varrendo a cidade, mas a bela cabeça fria (educadíssima) sempre permanece no devido lugar – “I beg your pardon”, “would you excuse me”? WTF? A vontade é de atirar a xícara de chá fervendo contra a parede, pisar nos scones e sair gritando “ma che porca miséria”! Sério, nem o Buda conseguiria não revirar os olhos assistindo uma discussão no parlamento britânico. Morro de curiosidade para saber se esses políticos têm o mesmo sangue frio quando se trata da vida pessoal deles. Com exceção da May que não deve ter uma.

Depois de assistir esse imbróglio se estender por quase três anos, foi bonito ver mais de um milhão de pessoas mandando os bons modos para os infernos na passeata do sábado passado. O prefeito de Londres, Sadiq Khan, já havia organizado um protesto similar em prol de um segundo referendo, mas a intensidade deste último foi marcante. Não só pelo número de pessoas, mas pela preparação. Foi fenomenal vê-los expressar raiva, incredulidade, inconformismo, humor político, algum tipo de reação. Tem emoção sim por trás daqueles bons modos do chá das cinco, só é preciso esticar ao limite. E isso Theresa May soube fazer. 

Teve bom humor – “vovós contra o Brexit”, “até o Ikea tem gabinetes melhores”, “casa comigo, sou francês”, – , mas também um certo tom de raiva como um cartaz com a primeira ministra segurando uma arma contra a boca. E mais todo tipo de maluco agrupado como uns que mandaram um “we will rock you” no meio da multidão. Freddie Mercury deve ter gostado lá de cima. Tirei dos caras a ideia pra a edição do vídeo, aliás. 

Junto com a passeata, começou uma petição para revogar o artigo 50 e permanecer na União Europeia. A coisa viralizou e alcançou quase 6 milhões de assinaturas. Desde então já recebi dois e-mails com informações diferentes. O primeiro dizia: “esse governo não revogará o artigo 50. Nós honraremos com o resultado do referendo de 2016 e trabalharemos ao lado do parlamento para alcançar um acordo que garanta nossa saída da EU”. Blá, blá, blá! Horas depois, outro e-mail afirma que a proposta será discutida na casa dos comuns no dia 01 de abril. Até parece piada. Por hora, só resta mesmo o maldito “carry on”, enquanto May toma o TERCEIRO não no parlamento!