A um quilometro do centro de Porto Novo, capital política da República do Benin, está o centro de ensino, pesquisa e produção do Projeto Songhai, alocado em uma fazenda autossustentável. A iniciativa – uma baita cooperação entre governos, ONGs internacionais, associações e comunidades– é tida como um laboratório para o continente africano. Em trinta anos de existência, a proposta já foi aplicada em 15 países com apoio do programa de desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP).
O idealizador da empreitada, o padre dominicano Godfrey Nzamujo, acreditava que o único meio de combater a miséria seria tornando os pobres produtivos. Ou seja, criando projetos socioeconômicos para capacitar homens e mulheres a criarem recursos. Assim nascia o “Songhai”, uma fazenda com produção total e zero desperdício, por meio da agricultura sustentável e integrada. Aqui, jovens passam por um treinamento de 18 meses, onde recebem curso, moradia e alimentação.
Assim, a ideia é capacitá-los a produzir o modelo Songhai em qualquer lugar, começando por sua próprias vilas e comunidades. Uma forma de gerar empregos, prevenir o êxodo rural e assegurar a autossuficiência dos vilarejos, inclusive ao oferecer gás e eletricidade à população. Há também um programa de acompanhamento ao fim do curso, especialmente para as mulheres, que podem se beneficiar de micro créditos para iniciarem suas próprias fazendas. Jovens do próprio país, de 18 a 35 anos, estão isentos de taxas.
Ali eles aprendem o conceito completo. Todos os resíduos da produção primária (plantas, animais e reservatório de peixes), por exemplo, são reinvestidos, ou sejam, voltam para a cadeia de produção. As unidades de decomposição servem para fornecer os fertilizantes naturais do solo, além de produzir bioenergia doméstica com um gaseificador. O biogás produzido na fazenda é usado para cozinhar e aquecer a água. O espaço também investe em processamentos naturais como usar o óleo do caroço da palma na produção de sabonetes.
É possível visitar as plantações e workshops ou ainda se hospedar na fazenda. O complexo tem mais de 70 quartos, dois restaurante e um café com internet. Aqui você comerá pães, grãos, carnes, aves e peixes produzidos localmente, além de poder comprar produtos na vendinha (como o imbatível e ardido suco de gengibre). O turismo sustentável por lá também é uma fonte de renda, por meio de hospedagem e tours de uma hora pela chácara. Além das línguas locais (fon, ioruba e etc), a maioria fala francês e alguns poucos se viram bem em inglês. É bem possível que a equipe local confunda qualquer pessoa branca com franceses, a nacionalidade que, por razões históricas, mais frequenta o país a turismo ou a trabalho.
Durante o tour, além de aprender sobre a produção sustentável, é possível ver os pés de papaia, cacau, banana, manga e as criações de peixes, galinhas, gansos e escargots. Motivo de orgulho, o projeto recebe visitantes também de países vizinhos como o Togo e a Nigéria. Durante o passeio, um grupo de estudantes limpava compartimentos com resquícios de fezes de animais, usadas para a produção de biomassa. Uma nigeriana comentou que esse trabalho era a parte do castigo. O guia, honrado com o projeto, prontamente respondeu: “Castigo por que? Eles precisam dominar toda a técnica. E quanto mais merda, mais energia e mais dinheiro para o grupo”! Um exemplo surgido na África de agricultura e alimentação, combate ao desemprego juvenil, saúde e meio ambiente.
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