quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Dijon, França: Dez pontos turísticos

A capital da Borgonha reúne arte de peso, gastronomia de primeira e um flair todo particular. Tudo sempre regado a muito vinho, claro. Aliás, um dos mais elegantes produzidos em toda a França. Pelo menos é o que dizem os enólogos locais! Mais do que as atrações turísticas, o dia a dia na urbe parece mesmo roteiro de filme europeu. Locais fazem fila na frente da padaria e saem com suas baguetes embaixo do braço. O cestão de pães já é até deixado do lado de fora. Sem contar que qualidade e sabor são levados muito a sério por essas bandas. Degustam-se pelo menos 50 queijos em uma fromagerie até escolher qual levar para o lanche da tarde. E enquanto alguns tomam fumegantes xícaras de café nos arredores do mercado central, outros fazem passeatas contra acordos comerciais de propostas duvidosas.

Dijon foi capital dos duques de Borgonha do século 11 ao 15. Durante a era de ouro da cidade (você ouvirá falar o tempo todo de Felipe, o bom; João, o destemido e Felipe, o bondoso), pintores, escultores e arquitetos foram trazidos à Dijon, transformando-a em um dos principais polos artísticos europeus. Tente passear sozinho em uma madrugada durante a semana e aproveite as ruas vazias de paralelepípedos com seus prédios históricos. Um roteiro por aqui oferecerá, em geral, degustações de vinhos e mostardas, a possibilidade de descobrir sua fragrância personalizada de perfume ou o chapéu que melhor cai no seu rosto, além de uma boa dose de gastronomia. Tudo entre uma visitinha e outra pelas dez atrações turísticas mais legais de Dijon.  

1. Palácio dos Duques 

Um dos principais programas aqui é o palácio dos duques e do Estado da Borgonha, com sua fachada neoclássica, bem em frente a suntuosa praça da libertação, de 1686. Aliás, com uma bela fonte multicor, super convidativa à passeios noturnos a dois. A antiga fortificação abriga o Museu de Belas Artes (Musée des Beaux-Arts) e a Torre do “Felipe, o bondoso” (já começou, tá vendo?!). Em uma das escadarias, um quadro com os direitos do homem e do cidadão, fruto da revolução francesa, decora a parede esverdeada (Ok, com uma moldura brega, dourada meio rococó). Para subir na torre, um resquício dos tempos medievais da cidade do século 14, é preciso se juntar a um tour. Vale muito a pena. Não só pelos sete andares decorados com esculturas ícones da cidade, mas principalmente pela vista que descortina. Pense em um senhor charme, daqueles todo seguro de si!

2. Museu de belas artes

Os cômodos do castelo que abrigam a exibição já valeriam a visita por si só. Mas o principal destaque mesmo é a sala das tumbas – chamada mais educadamente de salão da guarda. Ali pode-se visitar os túmulos decoradíssimos do duque “João, o destemido” e "Felipe, o corajoso”. Esculturas dos duques, guardadas por leões e anjos de asas douradas, compõem o ambiente. O museu exibe ainda uma coleção de obras italianas, suíças e da Renânia, datadas do século 13 e 14.  


3. A catedral Notre Dame

A belíssima catedral de Dijon foi erguida entre 1220 e 1240, toda ornamentada com as gárgulas monstrenguinhas distribuídas ao longo de três fileiras horizontais. Lá dentro, aproveite para desfrutar da arquitetura gótica e dos belos vitrais multicoloridos. Mas antes de partir para outra, dê a volta do lado de fora e procure a corujinha –ícone da cidade– descansando em um canto de uma das laterais. Passe a mão esquerda na cabeça da ave e faça seus pedidos! Ainda não sei se funciona. Se rolar, conto depois. 

4. O roteiro da coruja



Todo chão da cidade está marcado com triângulos numerados, com uma corujinha simpática ao centro. Elas sinalizam o trajeto sugerido por um app (€ 3.50), criado pelo departamento de turismo de Dijon/Borgonha. É só seguir as flechas, ir parando em frente aos prédios históricos, fachadas e praças indicadas pelo roteiro e ler a descrição no seu seu celular! Super fácil e prático para quem gosta de viajar sozinho. Sem a gerigonça eu não saberia, por exemplo, que esta casinha do mercador Guilherme Millière, próxima a Notre Dame, é uma das mais típicas e antigas da cidade, de 1483. Ou que a “Praça do Carrossel” tem nome: François Rude – um arquiteto importante local, com um museu homônimo de suas esculturas, abrigado em uma antiga igreja na praça do teatro!


Praça Rude

5. Mercado Central

Como esse post é focado em Dijon, não queria falar das vinícolas aos arredores (Côte de Nuits ou de Beaune) e suas degustações. Isso virá nos próximos capítulos. Mas não tem como fugir de pelo menos uma garrafa de pinot noir ou chardonnay por aqui! E o mercado fechado, que rola três vezes por semana, é o espaço ideal para ver locais literalmente “se jogando” na gastronomia. Quiches, frutos do mar variados, pães, mostardas, macarons, vinhos e os clássicos escargots da Borgonha! Aos fins de semana a coisa ferve e todo mundo se estapeia para encontrar um espacinho mísero no quiosque La Buvette du Marché. Os caras tem uma carta de vinhos enorme, servem diversos rótulos também em taças e ainda preparam umas guloseimas para acompanhar – harmonização com tábua de queijos e escargots. Além de observar a vizinhança fazendo compras e se cumprimentando, ainda pode rolar uma interação. Estava quase para abocanhar um dos queijos a minha frente, quando escuto um “mademoiselle”. Achei que o senhor fosse reprender minha taça de vinho às 10h30 da manhã, mas como ele estava com uma em mãos... O Monsieur só queria mesmo avisar para eu inverter a ordem dos queijos, pois o último era muito forte e iria contaminar meu paladar! Depois ficou lá checando com uma cara de curioso se eu gostaria ou não do sabor. Como eu parecia bastante contente, ele ficou lá com um sorriso satisfeito (e nacionalista) das suas iguarias francesas! 

6. Praça Darcy e Rua de la Liberté

Parque Darcy
No centro, este foi o primeiro jardim público de Dijon, no ano de 1880. O espaço foi criado próximo a um reservatório que levava água à cidade, construído 40 anos antes, pelo engenheiro Henry Darcy. Por isso a bela fonte e suas cascatas na entrada. Os bancos sob as árvores e as quedas d´água são “guardadas” pelo urso branco, uma escultura de François Pompon, cujas obras também estão expostas no Museu de Belas Artes (item 2). Em frente ao jardim, o portão do Guilherme (um primo pobre do arco do triunfo) marca a entrada da “Rua de la Liberté”, um bulevar recheado de lojas, cafés e restaurantes. Aqui estão, por exemplo, desde a galeria Lafayette, até boutiques de chapéus (porque não?) como a “Chapellerie Bruyas” e perfumes personalizados (Les Ateliers du Parfumeur)! Não perca também a famosa loja de mostardas Maille (desde 1747). É possível experimentar desde as versões clássicas até as novas criações como as aromatizadas com trufas negras ou brancas.

portão do Guilherme

7. Poço do Moises 

Este pilar hexagonal, com sete metros de altura, suspenso sobre um poço é uma das obras de arte que restaram do monastério Chartreuse de Champmol, destruído durante a revolução francesa e transformado mais tarde (1833) em um hospício. Cada uma das colunas exibe o rosto de um dos seis profetas do velho testamento – Moises, Isaias, Daniel, Zacarias, Jeremias e David (eu pedi ajuda para os universitários para esta informação, tá?). Algumas hipóteses de estudos de história da arte sugerem que o rosto do duque “Felipe, o corajoso” pode ser visto na imagem do Jeremias. Restos de uma capela e do próprio monastérios ainda podem ser vistos pelo gramado do complexo. 

8. Cinema Eldorado 

                                     Cinema Eldorado
Há quem ache desperdício ir ao cinema em uma cidade nova, mas é um programa interessante sim, principalmente se for uma noite de inverno. Pense em um lugar mais legal que o Belas Artes ou a Reserva Cultural! O espaço é simples, despretensioso, tem um quiosque simples para bebidas, umas mesinhas de espera e uma coleção de revistas velhas de cinema (da década de 60 para frente). Além de só passar filmes legais (a maioria original, com legendas). É um outro ponto interessante para analisar a vida local. E antes de ir para casa, vale ainda dar uma passadinha de madrugada para conferir o Chateau de Gevrey-Chambertin, a 10 Km de Dijon, que está em reforma e só pode ser visto por fora mesmo. O entorno tá meio matagal, mas as muralhas iluminadas pela lua são imperdíveis. 
Chateau de Gevrey-Chambertin

9. Jardin de L’arquebuse e Jardim da Ciência

Dijon está recheada de praças e jardins, mas uma opção interessante para um bate-pernas vespertino é o L àrquebuse. Os cinco hectares de canteiros floridos - com crianças alimentando patos, ciclovias e quiosques de cafés por todo o lado - oferecem um cenário ideal para passeios de fim de semana. No complexo, o museu de história natural (entrada gratuita) abriga uma mostra interativa, cheia de animais empalhados e fósseis antigos de dinossauros e elefantes. 

10. Bares, cafés e bistrôs

Café Chez
Muito mais do que chegar, sentar e comer, passar umas horinhas observando as pessoas nos cafés é parte do programa. Na praça Rude (a do carrossel colorido) uma boa pedida é o salão de chá e café “Comptoir des Colonies”. O estabelecimento conta com uma vasta carta de chás e guloseimas. Lá pelas 18h, fica bem mais difícil conseguir uma mesinha. Muitos chegam, pedem uma xícara de infusão (que vem acompanhada de uma fatia de bolo simples) e ali ficam até cair a noite. Há opções também de aperitivos como o Kir Royal. Já para jantar, um bistrozinho bem simples (mas sempre lotado) é o “Café Jocquemar”. Há no máximo cinco opções, contando com as saladas, e um prato do dia, mas tudo muito bem preparadinho e com uma galera simpática no atendimento. A clientela é fixa, então é capaz que você ganhe olhares curiosos ao entrar na pegada turistona. Para os vegetarianos, o “Le Shanti” é uma das melhores opções. Por lá, a galera come saudável, faz yoga, serve o jantar nas mesinhas sobre tapetes e o garçom até senta ao seu lado descalço para tirar o pedido. E mesmo que você se enrole no francês, paciência por lá é o que não falta. Antes de dormir, quem ainda quiser tomar mais uma pode dar uma passada no “Café Chez”. O legal aqui é mesmo o ambiente, onde estudantes, músicos e grupos de esquerda se encontram para um bate papo ou jogatina. Há show pelo menos uma vez por semana em ambiente relativamente estudantil. 
Comptoir des Colonies - Kir Royal 





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