quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Alemanha e os Mercados de Natal: os famosos e melhores Weihnachtsmärkte

Às vezes acho melhor evitar esses posts sazonais que todo santo ano fala exatamente da mesma coisa. Mas é tão difícil não se deixar levar pelo clima das enfeitadas e coloridas feirinhas de fim de ano... Seja pelas luzinhas reluzentes, pelo vinho quente, comidinhas típicas ou a criançada patinando no gelo. Para quem cresceu em um país tropical, quando dezembro significa mesmo férias regadas a muita piscina, churrasco e solão de rachar o “cocoruco”, essa atmosfera em terras gélidas mais parece aquelas retratadas em contos infantis. Ou filmes. Frio, flocos de neves a postos e aquela pegada toda intimista. Mas apesar do inverno nada convidativo, esse é um período em que as pessoas saem às ruas para aproveitar as barraquinhas de artesanatos, parquinhos de diversões, bebidas quentinhas e guloseimas regionais. A partir do primeiro advento (veja glossário abaixo), cada cidadezinha inaugura seus mercados. Eles pipocam por todo canto — no total há cerca de 1300, nos países de língua alemã, para colocar até os mais rabugentos no ritmo das festas. Aqui, cinco sugestões das mais bacanas espalhadas pela Alemanha:

1. Nuremberg e a fama entre os turistas

A feira de Natal de Nuremberg é uma das maiores e mais famosas. É também o chamariz da cidade, atraindo milhares de forasteiros nesse período do ano. Assim, prepara-se, pois por aqui não há nada de intimista. Uma legião de turistas americanos e japoneses saçaricam pelos corredores com máquinas fotográficas em mãos. Mas, ainda assim, tem uma vasta opção de artesanatos natalinos, velas, bolas de natal delicadíssimas e pintadas à mão, além de ursinhos de pelúcia e bonequinhas. Uma dica legal é subir na varanda da igreja da praça principal para ver o mercado de cima, um formigueiro de pessoas se preparando para a chegada do menino Jesus. 

2.  A vista de arrancar suspiros no Mercado do Wartburg (Eisenach) 

Somente aos finais de semana, esse mercado é todo especial já que está abrigado no pátio do castelo Wartburg. No topo da montanha — imperiosa sobre a floresta da Turíngia, conhecida também como o coração verde da Alemanha, — foi neste burgo que Martinho Lutero ficou escondido e acabou por traduzir parte da bíblia do latim para o alemão. Aqui, além de todos os atrativos natalinos e guloseimas, há ainda de quebra uma vista de arrancar suspiros, ainda mais quando a neve cai sobre a imensidão de pinheiros na paisagem. Sem contar que a fortaleza toda iluminada é um sonho. 


3. Leipzig e o salmão defumado dos vikings 

A capital do Estado da Saxônia é uma das mais “cools” da Alemanha Oriental, depois de Berlim. Claro que seu mercado de Natal também tem todas aquelas coisas fofoletes, espalhadas no centro histórico. Aliás, quem quiser fazer um desvio para escutar o famoso coral da igreja Thomaskirche, onde Bach está enterrado, irá se surpreender com o talento da meninada. Outro destaque por essas bandas é a ala medieval da feirinha. Apesar de outras cidades também oferecerem algo semelhante, em Leipzig o quê da Idade Média é de impregnar. Experimente o salmão defumado em grelhas ao entorno de uma fogueira. O melhor lugar para saboreá-lo é dentro de uma tenda, sentado em bancos de madeiras cobertos com peles de carneiro para esquentar o popô. Depois, só curtir as exposições com ferreiros, roupas e capas meio à la “Em Nome da Rosa” e tudo aquilo que nos remete aos tempos da inquisição.

4. Berlim com sua diversidade de feirinhas

Cada bairro da capital alemã tem seu próprio mercado de Natal — o do castelo de Charlottenburg e da Alexanderplatz (a da torre de TV) são bem legais. Mas, um que realmente tem um toque diferente é a da Gendarmenmarkt nos arredores da Friedrichstraße. Como é preciso pagar uma entrada simbólica, há quem diga que o clima é posh e exibidão. De fato, há uma tenda gourmet (olha que a onda também chegou em Berlim) onde a galera toma champanhe com ostras. Há também roupas e acessórios cortados por designers todos alternativos. Mas, apesar desses excessos, o mercado conta também com coisas mais acessíveis e gostosas como as racletas. Queijo suíço derretidão caindo quentinho sobre uma baguete. Além de crepes e outras delícias engordativas. 

5. Stuttgart e arredores exibem telhadinhos incríveis 

O primeiro mercado de Natal na capital de Baden Württemberg foi mencionado a primeira vez em 1692, fato que o coloca entre um dos mais antigos. Em termos de comidinhas, artesanato e aquele clima de jingle bell, não há muita diferença. O destaque por aqui são os telhadinhos das 290 barraquinhas — capaz de fazer cair o queixo dos 4 milhões de visitantes que frequentam a festa todo ano. Há concursos pela melhor cobertura, então já dá para imaginar o empenho em vender a melhor decoração. Bastante legal também é o calendário do advento montado nas janelinhas da prefeitura! Já nos arredores, a feirinha de Esslingen é i-m-p-e-r-d-í-v-e-l. Procissões de mercadores, com fantasias medievais, circulam pelo ambiente abarrotado e chamam atenção com seus lenços esvoaçantes, tambores e instrumentos musicais. Outra boa pedida é a charmosa e pequenina feirinha de Ludwigsburg, com seus enormes arcos de anjos reluzentes sobre a luz do sol (quando ele aparece). 


Vocabulário Natalino  

Weihnachtsmarkt  — palavrão para mercado de Natal

Glühwein — vinho quente, geralmente temperado com cravo, canela, cascas de limão ou laranja e uma pontinha de anis.

Pfand — É o deposito que deixamos para a caneca do vinho. A bebida (só o líquido) custa em média 2,50 ou 3 euros. Mas, pagamos um pouco mais pela xícara. Ao devolvê-la recebe-se o dindim de volta. Cada mercado tem sua canequinha personalizada, com imagens da cidade, ano da festa, formatos de bota ou coração. Quem quiser, pode levar como souvenir. É exatamente pra isso que serve o bendito Pfand!


Kürtöskalács ou Baumstriezelei. Aquele pão doce húngaro enrolado, assado na brasa sobre carvões e depois passado na canela com açúcar! 

Feuerzangenbowle — a tradução literal significa um ponche de alicate de fogo! A bebida é bem mais simpática que o nome, recebido por conta do preparo. O vinho temperado é aquecido em uma panela gigante. Sobre o aparato, uma lâmina de metal com açúcar molhado em rum espera a hora de entrar em cena: ateia-se fogo até que o melaço derretido caia no vinho!
Sauerteigbrot — pão preto de massa azeda, geralmente encontrados nos mercadinhos com alas medievais. Saem do forno soltando fumaça, recheados com queijo e champignon ou queijo e presunto, finalizados com um pouco de creme fresco temperado. Sou muito fã do sanduba. 
Adventskalender — Um calendário do dia 01 a 24 de dezembro com „janelinhas“, onde são escondidos chocolates ou outras lembrancinhas. A cada dia abre-se uma “portinhola” até o grande finale! Caixas de chocolate em forma de Adventskalender são bastante comuns nos supermercados (inclusive de marcas melhores como a Lindt), mas a tradição também pode fazer parte de decorações como na prefeitura em Stuttgart. 
Nikolaustag – Em terras germânicas, o dia 6 de dezembro é dedicado ao Papai Noel, o rechonchudo barbudo vestido de vermelho. Na noite de natal, como não poderia deixar de ser, a estrela é o Christkind, o menino Jesus mesmo.
Tannenbaum — São os pinheiros de Natal. Aliás, na maioria das famílias elas são montadas no dia do Natal e não no começo do mês de dezembro. Também não é incomum encontrar bandinhas ou grupo de pessoas cantando a música natalina Oh T-a-n-n-e-n-b-a-u-m, Oh T-a-n-n-e-n-b-a-u lar lara lalá lara!

Stollen — Pão doce típico de Dresden, com frutas secas cristalizadas e açúcar de confeiteiro. Gosto de chamá-lo de primo do panetone, embora a massa seja mais seca e pesada. 

Weihnachtsplätzchen — São os biscoitos natalinos, assados em formatos de pinheiro, estrelas, bonecos de neve e outras coisas meigas. Como dezembro é frio, não é estranho as pessoas se reunirem para assar essas guloseimas. Depois, empacota-se diversas receitas de bolachinhas, com inúmeros formatos e firulas, para presentear os mais próximos. 

Lebkuchen — são aquelas bolachas em forma de coração todas coloridas penduradas nas barraquinhas com mensagens de “feliz natal”, “eu te amo” (ich liebe dich) ou a “Regina é legal”... Lembra bastante uma massa de pão de mel. 
Käthe Wohlfaht — Na verdade, trata-se de uma das lojas mais legais com produtos e enfeites. Durante todo o ano, a marca vende seus designers natalinos na charmosíssima Rothenburg ob der Tauber, e no mês de dezembro monta barraquinhas nos principais mercados. As bolas artesanais pintadas à mão são as mais chamativas (e caras). 

Para quem quiser arriscar dar um nó na língua, só lançar um Frohe Weihnachten — Feliz Natal. 



Um comentário:

Mão de Vaca disse...

Minha humilde opinião: o de Nüremberg é cheio de turistas e não é um dos melhores! Sou mil vezes uns menores e menos conhecidos mas mais aconchegantes... o de Augsburg adoro :)