Hoje é um daqueles dias que classifico típico
da “geração Easy Jet”. Acordar
numa cidade, deixar as malas em qualquer luggage room, andar o dia inteiro, entrar em algum trem ou
avião e chegar cansada para dormir em outra capital. A vida anda meio acelerada,
o tempo caminha a passos gigantes. De volta a Berlim, custa-me acreditar que já
não moro aqui há dois anos. Enfiada na longa e lenta linha U2 sentido Mitte,
naquela sensação de “caminho da roça” decidi visitar o museu de comunicação. Não
sabia bem onde ficava, mas graças ao meu aparato tecnológico, computador nas
costas e smartphone em mãos, achei sem grandes dificuldades a Leipizger Straße.
É uma travessa da Friedrichstraße, dava para ter achado sem a ajuda da BVG e
seu aplicativo, só perguntando pra alguém mesmo.
Fui
recepcionada por três robôs. Um deles, muito educado e esquisitinho, me deu as
boas vindas. Um outro caminhava constantemente atrás de uma bola e o terceiro
mostrava imagens do prédio antigamente. Desfiz-me do computador, celular e
máquinas fotográficas. É, deixei um pedaço de mim na chapelaria para poder
fazer uma visita bem rapidinha e seguir para meu café favorito em
Prenzlauerberg. Mesmo de passagem, a gente precisa ganhar tempo pra conseguir
abraçar o mundo e matar as saudades de tudo.
Malditos
curadores! A mostra é tão boa e interativa, verdammt gut!, que perdi (ou ganhei) umas horas a mais em
relação ao planejado. Não vou
contar muita coisa para não estragar a surpresa dos próximos visitantes. Mas
digamos que voltamos um pouco no tempo. Na câmera dos tesouros, há um protótipo
de telefone, o primeiro atlas da Bavária com dicas de viagem, o contrato
mundial dos correios e um selo bem valioso só porque houve um erro de impressão
e o bendito saiu azul e não verde. Tudo fica exposto em tubos pretos, que ao
perceberem a presença curiosa de alguém, acendem as luzes e começam a falar! Impagável
é a evolução dos meios de transportes usados pela DHL – da carroça, a Kombi,
até chegar no caminhãozinho amarelão de hoje. As pessoas não andavam tanto por
aí, mas sua cartas e pacotes já giravam pelo mundo.
Lógico
que a mostra chega a fase do rádio e da televisão, aborda a comunicação em
tempos de guerra e coloca áudios bem legais – Thomas Mann falando da BBC,
alertando o povo alemão contra o esquisito desenvolvimento político; o maluco
do Goebbels dando um depoimento sobre as medidas anti-judaicas e a declaração de libertação do país no
fim da Guerra. Tudo segue ainda
mais adiante, até os tempos da internet. Eu que estava livre do IPhone, minha extensão corporal e conexão com o
mundo, comecei a sentir um certo incômodo. Uma criança passou, olhou aqueles
aparelhos de telefone giratório, colocou os dedões lá e ficou olhando pasma
como se estivesse na era jurássica. Quase falei pra ela que tinha um na casa da
minha avó, até com cadeadinho pra evitar o excesso de ligações dos netos adolescentes.
Se estivesse com Smartphone por perto, fingiria que só pertenço a esse mundo e
reprimiria o fato de ter tido contato com tamanha antiguidade.
Vi
objetos da minha relativa curta vida expostos na seção tempo. Caneta Bic,
máquinas de escrever, vitrolas, pilhas.... como assim o Game Boy?!, bips,
aparelhos de celulares que só fazem ligação, revistas.... Tudo bem, nunca
trabalhei com máquina de escrever, mas eu já brincava de jornalista em uma. Tudo
isso me fez rir, mas uma coisa levou-me de volta à infância. Mas acho que vou
abrir um post só pra isso. Afinal, preciso de uma atividade pra ajudar o tempo
a passar no trem. Agora já é hora de restabelecer minha comunicação com o
mundo, me despedir dos robôs e partir. Como não dá para saber o que seria de
uma jornada sem ICE, estou levando também os relatos de viagem do Mark Twain pra
imaginar uma Alemanha (e um mundo) menos acelerada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário