Aos 14 anos, eu achava que a pena de morte fazia mais sentido que um aborto. Afinal, um bebê é inocente e um assassino não. Tive coragem de dizer tamanha besteira em rede nacional no programa do Serginho Groisman. Grupos de jovens, mais velhos que eu, não se conformaram (com razão, assumo) com minha declaração simplista. Todo esse preâmbulo aí é só para deixar claro que as pessoas pensam, repensam e mudam de opinião. E tá mais que na hora do Brasil mudar! Achei graça quando Daniel Cohn-Bendit, o símbolo da revolução de 68 e do amor livre na França, assumiu seus três maiores equívocos em entrevista à revista Der Spiegel (Ed. 14/2012). Um deles foi a sua “infantil aversão ao casamento”. Atualmente, ele vive há 30 anos com a mesma mulher. Mas agora chega de digressões e vamos ao ponto.
Estou vendo a avalanche de comentários no facebook, notícias e artigos sobre a discussão da liberação do aborto em casos de anencefalia. Que progresso! (comentário irônico, caso alguém tenha problemas de interpretacão de texto). Tinha lido algumas semanas atrás (eu amo as férias!) um livrinho bacana e já o tinha recolocado na prateleira. Mas com essa discussão toda achei que o título merecia pelo menos uma pequena nota. A feminista alemã Alice Schwarzer publicou todas as entrevistas que fez com Simone de Beauvoir ao longo de dez anos. Ao questionar a colega francesa porque somente depois de 23 anos da publicação de “O Segundo sexo”, Beauvoir aderiu à causa das mulheres, Alice recebeu a seguinte resposta:
“Quando as mulheres do movimento feminista francês me perguntaram se eu me juntaria a elas para trabalhar no manifesto do aborto, que todas nós tínhamos feito, eu pensei: este é o caminho para atrair atenção a este escândalo que nos dias de hoje ainda existe, a proibição do aborto! Assim começou. Para mim era claro o marchar junto com elas e carregar o slogan, o qual eu era totalmente a favor: aborto e contracepção livre e sem custo! Livre maternidade!".
A liberação, mesmo que parcial, até o terceiro mês, ocorreu tanto na França, quanto na Alemanha em 1975. Ambos os países são cristãos, católicos ou protestantes. Passaram-se quase 40 anos e o nosso Brasil aprovou o aborto em caso de anencefalia! Independente de questões religiosas ou convicções individuais, será que o Estado tem o direito de se interferir em tal decisão? “Minha barriga me pertence”, já protestaram as mulheres citadas em todas essas reportagens.
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