Sexta passada fomos mais uma vez ao bar Zwiebelfisch, nos arredores da Savignyplatz. O Kneipe (assim são denominados os botecos por aqui) está lá há 30 anos, cheio de jornais e revistas legais e um gato siamês balofo que pula de mesa em mesa. A casa é bastante conhecida pela vizinhança em Charlottenburg, mas não tão popular entre jovens descoladinhos que preferem bebericar nos bairros de Kreuzberg, Prenzlauerberg ou Friedrichshain. O espaço foi, em meados da década de 70, ponto de encontro de literatos, artistas e aspirantes a escritor. É que hoje em dia esse pessoal ficou, diríamos, mais envelhecido para ser politicamente incorreta. De qualquer jeito, quando não estamos animados para sair, mas também não queremos ficar em casa, vale a visita para uma sessão cerveja, bate papo e leitura.
Devemos o achado ao autor Edgar Hilsenrath, alemão de família judaica, nascido em Leipzig em 1926. Ao ler o seu romance “Berlin...Endstation” (Berlin, estação final.), bastante auto- biográfico aliás, descobrimos o tal Zwiebelfisch. O protagonista Joseph Leschinsky, escritor judeu exilado nos Estados Unidos, retorna a Berlim depois de muitos anos para reencontrar um grande amor deixado para trás: a língua alemã (tem louco para tudo no mundo, mas também estamos falando de ficção). Para entrar no circuito literário da época, Lesche começa a freqüentar o misto de bar e café. Foi então que pensamos, “será que o lugar existe mesmo”? Batata, lá estava ele ao norte da Savignyplatz. Ok, um pouco diferente da descrição no livro.
O nome também é uma brincadeira com o mundo literário. Zwiebelfisch não significa somente peixe com cebolas, mas sim erros de tipografia. Por exemplo, quando aparece uma letrinha em Times New Roman entre as outras no formato Arial. Zwiebelfisch foi também uma revista de sátiras sobre tipografia, publicada entre 1909 e 1934. Atualmente, a Spiegel Online traz coluna homônima com placas e anúncios recheados de errinhos de alemão. http://www.spiegel.de/thema/zwiebelfisch/
De volta ao bar, o antigo glamour já não é mais o mesmo. Ainda assim é um boteco bem bacana, freqüentado pelos resquícios daquela clientela da Alemanha Ocidental e por moradores do bairro. Só não recomendaria a sopa de cebola. O que vocês imaginam no quesito apresentação do prato? Um creme, né? Até um caldo passa. Mas não é que me trouxeram uma água temperada com pedacinhos de cebola (tipo tempero para refogados) com migalhas de pão preto mergulhadas nesse monte de água. Pior, era gratinado. Quando a colher passava o queijo, respingava tudo. Parece receita dos tempos de guerra. Água com pão velho e cebola. Ta bom, tenho de admitir que custou só 5 euros e que o sabor em si não era tão ruim, apesar do aspecto estranho. http://www.zwiebelfisch-berlin.de/
2 comentários:
Re estou amando seu blog! A cada dia que passa com assuntos mais interessantes! Vou indicá-lo para algumas pessoas! Saudades de vcs!
Beijos!
Valeu! Indicações são sempre bem vindas! :) Só um detalhe, não reconheci você pelo e mail! Quem é?
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