quarta-feira, 19 de junho de 2019

Stonehenge e o solstício de verão




Há coisas nessa vida que costumo chamar de “experiência antropológica”. Dar uma espiadela em coisas “estranhas” para ver se gostamos. E, sim, vale para todas as esferas da nossa existência (por que não?). Ano passado decidi que passaria a madrugada do solstício de verão no Stonehenge. Além de ser de graça (quem mora em Londres entenderá a mão de vaquice), é a única oportunidade de chegar bem pertinho e encostar as mãos, pés, nariz e bunda na estrutura. Cada um com seu fetiche, tenho dito sempre. A única coisa é que dividimos o espaço com toda sorte de malucos (no bom sentido, tá?) que seguem para contemplar as lendas e mistérios da construção desse círculo concêntrico de rochas. Durante um tour oficial, o monumento é protegido e só podemos vê-lo a uma certa distância. Por isso, há vários motivos para se juntar a celebração.

Não gosto muito de multidão, então abri mão dos transportes oficiais que saem de Salisbury. Se bem que havia menos pessoas se comparado a um show dos Rolling Stones ou a um bloco popular de carnaval, eu diria. De qualquer modo, peguei um ônibus de Londres para Amesbury (em Wiltshire, a 13KM de Salisbury, por 10 pilas). A viagem dura quase três horas, mas não é mal, considerando que temos que caminhar quase 5 milhas do ponto até o Stonehenge. Sem chororô, é uma trilha plana de 1h30 por campos verdinhos, passando por igrejinhas e casinhas pitorescas pelo caminho. Além de ser bem sinalizado para os visitantes que começam a se aglomerar.
Sinceramente, criei expectativas demais. Imaginei uma espécie de Woodstock, uma rave psicodélica, um monte de seguidores do combo Paulo Coelho com Raul Seixas (numa versão britânica), mas qualquer tipo de álcool (ou drogas) é estritamente proibido. E a fiscalização é realmente pesada (ou eu inocente demais). Mas de qualquer forma, não tinha nenhuma marofa. O que muitas vezes me levou a pensar: “wtf, essa galera tá mesmo sóbria”? De todas as tribos que apareceram por lá só consegui reconhecer mesmo os Hare Krishna porque eles cantam aquela musiquinha Hare, Hare, Harennnnnnnn.... De resto, fiquei só olhando com cara de quem está entendendo tudo, mas no fundo pensando “que cazzo eles estão fazendo aí???”. Passa gente pintada de verde, com capa de jedi, trajes de bruxas, hippies saudáveis, naturebas, velhos com caras de sábios (ou de álbum do Led Zeppelin), tem mesmo para todos os gostos. Cliquem aí no vídeo acima!
O sol se põe às 22h e volta a nascer lá pelas 4h30 bem no centro das rochas. É bonito, melancólico, misterioso, saudosista, chapado, colorido, surreal, religioso, sei lá. Vale a pena ver uma vez na vida. A noite passa rápido, a galera canta, dança, se abraça, toca instrumentos estranhos na parte interior do círculo. Mais o tempo gasto nas filas do banheiro e das barraquinhas de comida e café, restará só umas três horinhas de soneca. Sim, eu tirei um cochilo no meio desse furdúncio todo (não tenho mais vinte anos, né?) e passei muito frio. Não tanto como pernoitar no Saara, mas passei. Verão inglês minha gente. No outro dia pela manhã, os cafés em Amesbury costumam servir o English Breakfast a partir das 5h. Recomendo o passeio completo, nem que seja pela experiência antropológica. Por que não?



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