... uma história do dia das bruxas
Preciso de um título “googlável”, mas ao escrevê-lo já sinto uma náusea similar a de um vegetariano preso em um açougue de um zouk marroquino. SEO é uma desgraça, não? Um mal necessário da blogosfera, o balde de água fria em qualquer aspirante a escritor de qualquer bodega. Queria mesmo titular este post como “as incongruências do mundo”, mas isso afastaria o leitor ainda mais do que esse gigante nariz de cera! Portanto, vamos logo ao assunto. Halloween! Gosto tanto da ocasião como de chuchu, tartarugas, samambaias e aquela lata sem gosto de marrom glacê. Em alto e bom tom, não fede, nem cheira. Tem tanto tempero quanto comida de hospital. Um carnaval com toques de horror onde a garota propaganda é aquela abóbora bochechuda com o mesmo sorriso amarelo desde que o Thomas Jefferson trabalhava na declaração da independência dos EUA. E antes que algum sabichão venha falar das origens celtas da celebração – blá... E o que o Marx tem a ver com isso tudo? Ainda chego lá. Por enquanto, só torturando o desocupado leitor, descontando nele a miséria de ter que abrir a porta e ver crianças histéricas perguntando “doce ou travessura”...
Talvez eu precise de mais uns anos em Londres pro vampiro do Halloween me seduzir. Por enquanto, a coisa não anda fácil. Acabei num pub que, usando o gancho da data mais abobada do universo, criou a festa (no dia 27) com o lema dos 27 anos. A idade amaldiçoada. Bandas tocaram uma lambança dos clássicos Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e da Amy Winehouse. Longe de reclamar, a noite foi deveras interessante. A galera entrou em êxtase, cantou, recantou, rebobinou. Muitos vestidos de vampiro, noiva cadáver, com maquiagem de feridas remelentas. Cada um com seu fetiche macabro. Lúgubre, mas na moda. As vitrines estão monotemáticas. E o Marx? Calma, primeiro vamos falar da galera que morre engasgada no próprio vómito ou enfia uma bala na própria testa.
E foi nessa levada do Halloween, sem lambuzar a cara de Ketchup ou desenhar teias de aranha na testa, que fui dar um passeio no cemitério Highgate. Nenhuma tara gótica, juro!, fiz tudo mesmo a luz do dia, só para visitar o Herr Marx. Pra quem caiu nesse post procurando informações sobre o passeio – e aguentou ler minhas lamentações até aqui – peço profundas desculpas. Essa é a primeira lição de como não fazer um post! Finalmente, chegamos ao filósofo e em uma das maiores contradições desse texto. Confissão – eu escrevo títulos merdas baseados em dicas de SEO e pago 4 libras para visitar a tumba do sujeito que pariu o manifesto do partido comunista! Oie? A galera lucrando com as ossadas do Marx? Gênios. Cara, que mundo! E antes que alguém me mande pra Cuba, eu não tenho absolutamente nada de comunista. Só gosto mesmo de observar as contradições da vida. Ou as da morte.
Londres recebeu Karl Marx de braços abertos depois da partida perdida durante a revolução de 1848. O filósofo morou em dois locais na rua Dean, no Soho, quando o bairro ainda não cheirava a gentrificação. Época em que estrangeiros falidos e perseguidos ainda não tinham sido substituídos por hipsters e artistas londrinos. Ali na boemia, em um quarto insalubre, acompanhado de mulher e quatro filhos, escreveu parte do seu masterpiece “das Kapital”. As condições eram tão árduas, que nesse período três das crianças bateram as botas. E como tem gente que adora uma sarna pra se coçar, ainda apareceu uma amante na jogada. Com esse caos e o sujeito ainda escreve um dos trabalhos mais “influenciadores” da história, depois da bíblia, segundo estudos. E nem uma mísera forcinha do You Tube o cara teve. Isso que é influenciador. Só pra constar. De volta a Londres. Esta cidade deu um lar ao rapaz, mas claro que tudo tem seu preço. E o coitado ficará lá pagando os juros por toda a eternidade, enquanto o comércio gira em torno do Halloween. Quatro libras por visitante, lembram?
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