Fácil assim resumir um típico mês de dezembro: temperaturas gélidas, alguns flocos de neve começam a dar as boas vindas e a escuridão reina a partir das 16h. As mãos já não se separam de suas luvas e os dedões dos pés voltam a se sufocar entre meias e botas de inverno. Nada mais propício para o período de hibernação regado a muitos filmes, livros e vinhos. Mas, apesar do clima de recolhimento, as feirinhas de Natal ainda são uma grande motivação para os ursos saírem da toca! E o que não seria de dezembro sem os Weihnachtsmärkte e os rituais natalinos!
Claro que há variações entre as cidades, mas em nenhuma feirinha faltará as luzes reluzentes, o vinho quente (Glühwein), o cheiro das castanhas torradas e caramelizadas, assim como o Adventskalendar ⎯ aquele calendário infantil com 24 janelinhas, de 01 a 24 de dezembro, abertas dia a dia, geralmente com uma surpresa, na contagem regressiva para a chegada do Noel. Algumas feiras (como em Leipzig ou Jena) há também uma ala medieval, com roupas típicas, pães dos mais diversos tipos e ferreiros vendendo suas obras.
Não dá para imaginar a festa sem o vinho quente, geralmente temperado com cravo, canela, cascas de limão ou laranja e uma pontinha de anis. Além de saboreá-los, ainda dá para levar para casa as xícaras com desenhos da cidade e o ano em questão. Quem devolvê-las, recebe de volta os cerca de 2,50 euros de depósito. É inexplicável a sensação de se aquecer, queimar a língua naquele primeiro gole e saborear a bebida ao lado das tochas de fogo, montadas pelas barracas para aconchegar os visitantes trêmulos de frio. E por falar em queimar a língua, uma outra boa pedida para subir a temperatura é o Feuerzangenbowle, que literalmente significa um ponche de alicate de fogo! A bebida é bem mais simpática que o nome, dado por conta de seu preparo. O vinho temperado é aquecido em uma espécie de recipiente de fondue. Sobre o aparato, uma lâmina de metal com açúcar molhado em rum espera a hora de entrar em cena: ateia-se fogo até que o melaço derretido caia no pote! A desvantagem de tomar na feirinha é não poder acender a chama você mesmo!
Há diversos comes e bebes, mas o meu favorito, mesmo que muitos não associem com o Natal, é o Sauerteigbrot. O nome é feio e quer dizer pão de massa azeda (ou de alta fermentação), mas olhe a foto! Irresistível, não? Quentinhos, saídos do forno e recheados com presunto, salame ou legumes. Queijo derretido está, claro, em todas as versões. Impossível morar na Alemanha e não experimentar. Ao dar a primeira mordida, a fumacinha quente e aromática escapa de dentro do pão direto para minhas grandes narinas, enquanto o queijo derretido escorre pra dentro da boca. Melhor ainda é sujar a ponta do nariz com o Schmant, uma espécie de creme de leite, bem no topo da melhor criação dos padeiros alemães. A primeira vez que conheci o gorducho foi na parte medieval na feira de Leipzig e desde então, sempre que cai dezembro ou pinta uma festa de rua, saio a caça do massudo!
Confesso que não como muito as mil versões das castanhas caramelizadas. Geralmente as roubo dos amigos. São gostosas, mas enjoativas. Seria legal se pudéssemos colocar as mãos nos tachos, meio à la Amelie Poulain, só para lambuzá-las de açúcar e depois ficar lambendo os dedos, mas como sou uma pessoa educada, edito essa parte. E como também sou sincera, não darei dicas do que nunca provei: Eierlikör e aquelas bolachas enfeitadas em forma de coração. Não precisarei explicar o porquê ao traduzir a primeira palavra: licor de ovo! Quem se arrisca? E as bolachas sei lá. Sabe aqueles bolos e tortas que são lindos, enfeitados, cheios de firulas e ruim pra danar? Talvez seja preconceito meu com as bolachas, mas, por via das dúvidas, tô fora! Por fim, se a neve ainda não tiver comparecido, há algumas cidades com pista de patinação no gelo, ideal para tomar uns tombos depois de umas xícaras de vinho quente.
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