Dar dicas de viagem é um negócio mesmo
complicado. Já pensou dizer para alguém em um trem de Munique rumo a pequenina
cidade de Füssen que o melhor a se fazer naquele dia é deixar o castelo mais
famoso de toda Alemanha pra lá? Sim, viajar duas horas de trem, acordar bem
cedinho e não entrar no Neuschwanstein (desculpe pelo palavrão!), aquele
castelaço do maluco do rei Ludwig II, que inspirou até mesmo a construção da
casinha da Cinderela na Disney!
Mas alto lá. Antes que alguém comece a traçar semelhanças minhas com o
maluco do Ludwig, vamos avisar logo que se trata de um dia de verão. A dica é
sim plausível para aqueles que só dispõem de algumas horas: deixe essa visita à casa
do mais xaropes dos reis para o inverno. E então pra que desembarcar nesse fim
de mundo bavárico? Somente para perambular pela região, encostada nos Alpes da
Bavária, cheia de lagos e com a vista, de quebra, dos dois monumentais
castelos, o tão citado Neuschwanstein e o parceiro amarelão Hohenschwangau.
Já tinha passado por lá em um mês de janeiro,
com temperaturas marcando lá na casa dos menos vinte. O visual era mesmo de tirar o fôlego, embora um pouco
indistinguível. Tudo belamente branco. O que mais me lembro era de sair da fila
das carruagens (sim, é brega, seu sei, mas estava muito frio) que levavam os
turistas para o topo do castelo exclusivamente para comprar uma terceira meia.
Aquelas cinzas de pelo de carneiro que a gente só usa em casa, escondida,
tomando chá, de óculo, descabelada e embaixo do edredom.
Dois anos depois aterrissei por lá num belo dia de julho. A fila para
comprar ou retirar tíquetes estava quase que no ponto de ônibus, coisa pior que
a espera do Louvre ou pra subir na Basílica de São Pedro. Foi assim que, sem
peso na consciência de não rever os cômodos do lunático Ludwig, descobri um
mundão lá do lado de fora. Da ponte Marienbrücke há a melhor vista pro castelo, bem à la conto de fadas.
As torres brancas destoando em meio ao bosque verdinho com os lagos ao fundo. É
só não olhar para baixo que fica tudo certo. Dali uma curta trilha direciona os
visitantes para o vale embaixo da ponte, regado por um barulho de uma pequena
cachoeira.
Mas, o melhor mesmo é ficar embaixo de um
guarda-sol no café- restaurante Alpenrose com o lago (o Alpsee) machucando os
olhos de tão azul. Ali, sentadinho, com petisquinhos, tortas ou um vinho branco
geladinho para aliviar o calor. Há também degustação de queijos da região de
Allgäuer. Se tudo isso ainda não convencer de que não vale a pena (na ausência
de neve) ficar dentro das paredes daquelas belas edificações, alugue um
pedalinho, vá até o meio do lago, deixe a mochila com documentos por lá e se
jogue. Literalmente. Se não houver outra troca de roupa, pule mesmo de cueca,
calcinha, sutiã, regata ou como der. Europeu nenhum liga pra isso mesmo e a
sensação de nadar em águas frescas, cercada pelos Alpes da Bavária e os dois
castelos na vista é impagável. Para os supersticiosos, fiquem tranqüilos. O
Ludwig se afogou no Starnberg, não ali.
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