Foi triste ver o desapontamento das pessoas ontem em Berlim. Apesar do autocontrole alemão, muitos não conseguiram esconder a decepção e lágrimas nos olhos. Na Ku´damm a comunidade espanhola festejava, embalada pelo som das afinadas vuvuzelas. Engraçado como a copa do mundo aflora o espírito nacionalista. No jornal da meia noite, uma catalã enrolada na bandeira espanhola dizia – “nós seremos campeões do mundo”. Coisa de maluco mesmo. Embora seja bom ver as divergências superadas, ou esquecidas, nem que seja brevemente.
Um dia depois, sai de bicicleta para ir até a Dussmann (ao meu ver a livraria mais bacana da cidade), na Friedrichstrasse. Deixei o apartamento com o plano de seguir pela 17 de junho até cruzar o Portão de Brandenburgo na Pariser Platz e continuar pela Unter den Linden. Como a Alemanha foi eliminada ontem, imaginei que o espaço da Fanmeile, exatamente neste caminho (entre a Siegsäule e o portão) já estaria liberado. Engano meu. Ainda estava tudo lá, vazio, quieto, meio entristecido. Tive de deixar a magrela na estação Tiergarten e ir de S-Bahn, afinal só vale a pena o esforço se o fizermos sob nosso trecho favorito.
Sai da Dussmann e caminhei até a Pariser Platz para tomar um café na padaria Wiedemann, que estava fechada. Esse sol para lá das dez da noite me faz perder um pouco a noção da hora. Mas sem problemas, a padoca não tem nada de especial (minha relação com ela é sentimental) e passa até despercebida pela gigante Starbucks ao seu lado. Digressão rápida – eu tenho tudo contra a essa Starbucks ali, naquele local, mas já estou me acostumando com a idéia deles dominarem todos os lugares bonitos no mundo. A primeira vez que vim a Berlim, há cinco anos, ela não estava ali, não destoava na paisagem. E a minha padoquinha reinava sozinha bem em frente ao Hotel Adlon. Coloquei a cara na portinha de vidro e vi as três mesinhas, vazias, mas resistentes, ainda no mesmo lugar de sempre.
Com tudo fechado ali só me restou pegar um café para viagem no Dunkin´ Donuts. Lá dentro vi um grupo de amigas provavelmente de passagem por Berlim (dedução feita pelas sacolas de souvenirs), jantando só um Donuts cada uma. Bateu certa nostalgia da primeira vez que desci na cidade de mochila e passei os três dias também no ritmo de pizza, pão e derivados. Depois sai e me diverti com as pessoas fazendo poses, caras e bocas em frente ao portão. Mesmo perto da meia noite, a movimentação é intensa nas noites quentes de verão. Fica tudo mais bonito. Mas também dá certa tristeza saber que o final do ano está chegando e junto com ele a hora de ir embora. Talvez seja o início do processo de despedida.
Voltei para casa e enquanto preparava uma sopa, entrevistados diziam no rádio que ficariam felizes de qualquer modo com o terceiro lugar da seleção alemã. Fiquei intrigada. Nós brasileiros já dissemos isso alguma vez? Bom, se todo mundo falha, até a eficiência alemã, porque não se contentar só pelo fato de estar entre os finalistas? Eles são muito mais pés no chão e nós muito mais passionais. A briga é boa.
Um comentário:
Atualiza, Cazza. Adoro seus textos. beijos querida ! Mtas saudades
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