quarta-feira, 14 de março de 2018

Cinco razões para amar o metrô de Londres


Juro que não há nenhuma ironia nesse título. O tube londrino pode ser sim intragável. Pergunte para qualquer sujeito que se aventure pela Central Line em horário de pico, especialmente durante o verão. Além de exageradamente movimentado (são 1,37 bilhões de passageiros ao ano), meio milhão de ratos habitam os túneis do Underground – modo como o metrô é conhecido aqui na Inglaterra, pelo menos desde 1908. Uma voz docemente irritante de taquara rachada nos acompanha repetindo freneticamente “Mind the Gap” (cuidado com o vão entre o trem e a plataforma) como um disco riscado. Como se não bastasse, ainda é um antro de poluição. Segundo um estudo de 2002, o ar dos túneis é 73 vezes mais “sujismundo” que o da cidade em si. Um mísero rolezinho de 20 minutos pela Northern Line equivale, por exemplo, a um cigarro. Aliás, fumar no metrô foi uma prática permitida até 1987, quando um incêndio na estação King’s Cross causou a morte de 31 pessoas. O álcool, leia-se a birita subterrânea – foi abolido em 2008! E sim, apesar de sujo, poluído, lotado e irritante é a melhor forma de conhecer Londres. Veja porque:


1. Esses trilhos são cheios de superlativos 


Segundo a TFl, acreditemos ou não, os vagões de Londres percorrem todos os anos uma distância suficiente para fazer 90 viagens (ida e volta) até a lua! É o terceiro maior sistema de metrô em quilometragem do mundo, atrás somente dos de Beijing e Shanghai. Na Europa é o terceiro mais movimentado, perdendo para Moscou (lógico) e Paris. Toda semana, as escadas rolantes juntas rodam o suficiente para dar duas voltas no planeta! Só em 2016, os trens circularam 76,4 milhões de quilômetros para que nos movimentássemos pela capital. Cansou? Corre então para a estação Waterloo. Só lá 95 milhões de passageiros anuais podem dividir esse cansaço com você!

2. Há muita história nessa vida subterrânea 

Não é de estranhar que os trilhos mais antigos do mundo (de 1863), tenha presenciado momentos históricos decisivos. Na viagem de inauguração da linha central, em 1900, figurões como o príncipe de Wales e o escritor Mark Twain estavam na lista de passageiros. Anos mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial, muitas estações (hoje em desuso) foram transformadas em escritórios do governo. Parte da linha Piccadilly foi fechada durante o conflito (de Holborn até Adwych) e o British Museum usou espaços vazios para esconder seus tesouros. Esses túneis não só salvaram obras de arte, mas também a pele de muitos moradores que se protegiam dos bombardeios. Trens especiais traziam todas as noites 7 toneladas de alimentos e 2.400 galões de chá para a população subterrânea. Por esse emaranhado de túneis, 200 mil crianças escaparam de Londres rumo ao interior da Inglaterra para fugir dos bombardeios.

3. E muita música (boa) de graça 



Artistas e músicos aproveitam da audiência de 3,5 milhões de passageiros por dia para apresentar os mais diversos ritmos. Em 39 locais, espalhados por 25 estações da linha central, dá para curtir uma cantoria de graça. Artistas como Ed Sheeran, Jessie J, Bob Geldof e Katherine Jenkins já deram uma palhinha pelo Underground. A coisa é tão séria que não é só chegar chegando. Há audições para conseguir a autorização e proteger os ouvidos londrinos dos desafinados (já basta o Mind the Gap)! Interessados? Procurem o “Busk In London”. Quem quiser gravar um filme, custa 500 libras a hora pelo cenário. 

4. Além de uma porção de pensamentos do Dia (London Underground Tube Quotes) 

Muitas estações escrevem em lousas brancas de informação ao cliente não só alterações de horários nas linhas, como também mensagens de motivação. São pensamentos bonitinhos ou engraçadinhos do dia. Quarta-feira, 28 de fevereiro na estação Marylebone: “Seja lá quem esteja cantando "Le it Snow", por favor, pare!”. Estação Willesden, 25 de fevereiro: “Se você está errado e se cala, você é sábio. Se está certo e se cala, está casado”. Como é difícil perambular por todas as estações no dia, uma boa é seguir o “londontubesquotes” no Instagram. Vai do humor dos caras. Outro dia, no DLR (Docklands Light Railway, os trens da região das docas), o motoristas anunciava a cada nova estação com voz de tele sexo: “que vocês tenham uma excelente noite, com uma taça de vinho ao lado dos amados”. WTF? Arrancou algumas sobrancelhas inquisidoras e sorrisos dos poucos que prestam atenção nos anúncios.

5. E você presenciará a vida como ela é 


Mesmo para quem tenha grana sobrando, hospeda-se no Savoy e só anda com os charmosinhos táxis pretos, é lá na lata de sardinha diária que se observa o cotidiano londrino, aquele bem distante do Palácio de Buckingham. Eu desacredito, por exemplo, na habilidade das moças de se maquiarem em público, sentadinhas ali no metrô. Acho a coisa deveras íntima! Fico bem envergonhada de passar meio quilo de massa corrida no rosto sendo observada. Mas essa nem é a parte mais estranha. Tente aplicar um lápis de olhos sem se borrar toda naquele vai-e-vem dos trens. Baita malabarismo. E quem não está dando aquele retoque no visual, distrai-se com os tabloides ingleses, as edições gratuitas entregues nos metros cheia de notícias sensacionalistas. Como só 45% do metrô são túneis, essa experiência se refere também aos DLR e Overground. Muitas pessoas, turistas, línguas, manias estranhas e um mundo todo compartilhando o sentimento de amo-odeio Londres. Não perca!

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