O Arcade Fire nos levou a Berlim. Mas dessa vez enfiei na cabeça que seria diferente. Nada daquele “mi-mi-mi” de revisitar todos os meus bares favoritos, dar uma passadinha em frente à casa que moramos, uma chegada rápida na sauna de sempre... Sabe aquela lista pessoal Berlim Top Ten? Então, esquece. Foi difícil, mas o esforço recompensou. A primeira descoberta, — sim um pouco tardia, mas isso que dá se prender às lembranças— foi o café Sankt Oberholz. Bem na Rosenthaler Platz, a casa reúne a boemia digital da cidade, seja lá o que isso for.
Não importa a hora, as largas mesas de madeira estão sempre lotadas com Macs enfileirados. De vez em quando, destoa um Vaio aqui ou acolá. O chão parece um emaranhado de fios e as pessoas ficam lá fixadas na telinha. Sim, além de comida, os caras tem boa conexão de internet, tomadas e extensões por todo canto. Mas o mais legal de tudo é descobrir que o dono do bar é um daqueles berlinenses cheio de projetos. Ele largou várias faculdade no meio, abriu o café e ainda escreveu um livro sobre a experiência! Está à venda por lá — Für hier oder zum Mitnehmen?: St. Oberholz, der Roman (Aqui ou para Levar? St. Oberholz, o romance). Um pouco de experiência pessoal com a história do bairro e da Rosenthaler Platz. O público parece ser o típico estudante ou freelancer que às 11h da manhã em uma quarta-feira já está lá enchendo o nariz de café.
De lá, compramos a revista Tip Berlin para ver a boa da semana e partimos para o Arena Badeshiff. Nunca tinha ido conferir pessoalmente a tal piscina no meio do rio Spree, apesar das muitas estadias em Kreuzberg. O tempo nem sempre ajuda, mas dessa vez o sol apareceu. A entrada custa cinco euros para o dia todo. O deck pode ficar bastante cheio e não sobrar sequer uma mísera cadeira, então é sempre bom ter uma canga a tiracolo. Além do sol, nada como nadar com vista para a Oberbaumbrücke — a ponte do filme "Corra Lola, Corra".
Para tudo ter ocorrido exatamente como planejado só faltou um Freiluftkino (cinema a céu aberto), mas todos os filmes começavam às 20h45, quando o sol começa a baixar nessa época do ano, e batia com o horário do show. E como tudo parecia estar em clima de verão, tive a feliz surpresa de assistir a apresentação, pela primeira vez, no Waldbühne, um anfiteatro a céu aberto, no parque Wuhlheide. É meio longinho, no fim da linha do S3, mas...
Dia seguinte, ressaca. Faz parte. Dia meio chuvoso, tomamos café e paramos na loja de quadrinhos Grober Unfug! Não tínhamos planejado exatamente comprar (como diriam nossos amigos portugueses) nenhuma banda desenhada, mas o Yoda mega gigante chamou atenção na vitrine. E entre uma bisbilhotada e outra, já estávamos na fila do caixa... Pois é, em clima berlinense trouxemos para casa os dois volumes: Berlin, City of Stones e Berlin, City of Smokes.
E para matar algumas horas antes de pegar o trem, passamos pela Akademie der Kunst, quase na frente do Bellevue. Só paramos lá por causa da exposição fotográfica da Gisele Freund e um projeto da academia de Paris para dar cores aos rostos fotografados por ela. Mas o mais bacana mesmo, PB ou em cores, foi ver a intimidade do lar dos literatos — Sartre, Beauvoir, Joyce, Nabokov, os Woolf e por aí vai...
Antes de voltar, só mais uma parada no Neu Odessa Bar. Embora a casa seja famosa pelos coquetéis mega elaborados, fomos de chá gelado caseiro, que não estava nada mal. Só não poderia terminar o post sem fazer uma confissão. Pisei em um único lugar de sempre, da lista dos favoritos: a pizzaria dos punks em frente ao metrô Senefelderplatz. Eles continuam mal educados e rabugentos, mas a pizza também continua ótima e o azeite apimentado é imbatível.
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