Um casal, que tentava escapar da monotonia dos domingos, passeava nos jardins do castelo de Charlottemburg no distrito homônimo de Berlim. Apesar da luminosidade da primavera e do sol, que depois de quatro longos meses de inverno resolvera mostrar as caras, o dia estava fresco, principalmente sob as sombras. Às margens do Spree, os garotos andavam a passos dominicais em direção ao ponto turístico combinado.
Ao longo do caminho, faziam planos para o mês, para o ano e para toda uma vida. Quanto tempo ainda passariam naquela cidade? Será que falariam melhor a língua local? Para onde viajariam nas próximas férias de verão? E o quanto seria necessário economizar para chegar ao fim do mês sem assaltar a poupança?
Entre indagações, mapas e pausas para fotografia, chegaram ao parque. A descrição do espaço em si é desnecessária – mais uma daquelas grandes e suntuosas áreas verdes inspiradas nos jardins do Palácio de Versalhes. Mas era ali que turistas, locais e crianças aproveitavam o sétimo dia da semana, criado ou inventado para o descanso.
Depois de caminhar pelas árvores, espantar-se com diferentes tipos de flores nos canteiros ornamentados e alimentar patos na lagoa, o jovem casal continuou a passos tranqüilos até um grande e descampado gramado. Foi então que um deles fez o convite:
- Vamos deitar um pouco na grama e tomar sol?
- Boa idéia. Hum, se bem que o campo deve estar úmido e esta sua blusa de linho azul é praticamente nova e tão bonita.
- É mesmo, né? Teremos de colocar na máquina de lavar. Deixa para lá. Vamos.
E assim continuaram a contornar a ampla área verde e a jogar conversa fora até, a poucos metros dali, depararem-se com uma senhora em torno de 60 anos - pelo menos era a idade que aparentava sob sua tez branca e abatida. Sentada em uma cadeira de rodas - posicionada em diagonal em relação ao gramado para que seu rosto ficasse completamente em direção ao sol- ela tinha uma confortável manta sobre o colo.
De olhos constantemente fechados, repousava a cabeça com cabelos ralos e brancos sobre uma pequena almofada. Ela não se movia a não ser por um dos cantinhos da boca que esboçava um leve sorriso. Uma moça mais jovem atrás da cadeira, de olhos vermelhos e lacrimejosos, acendeu um cigarro e acariciou o pouco de cabelo que restava na senhora.
Sem falar nada, o casal se deitou no gramado e deixou com que a terra úmida e viva sujasse seus pulôveres, enquanto todo o sol que poderiam tomar esquentasse seus corpos naquele dia fresco de primavera. E foi ali que passaram mais de uma hora com seus planos e dúvidas sobre o futuro.
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