sábado, 9 de janeiro de 2016

Roteiro Portugal! Ai que giro!


Bandeira de Portugal hasteada na Ponte Santa Clara em Coimbra
        Não é difícil enumerar razões pela qual Portugal é uma viagem imperdível. Só para citar as mais tradicionais e indissociáveis ao nosso imaginário estão os pastéis de nata, as sardinhas grelhadas na brasa, o vinhozinho do Porto, além dos belos miradouros que exibem as belezas do Tejo, do Douro ou da costa rasgada pelo atlântico. De histórias do destemidos navegadores, aos amores trágicos de D. Pedro e Inês de Castro — todas saudadas pelos cânticos dos Lusíadas —, o país é um prato cheio para quem curte história, gastronomia (comilança das bravas mesmo), religião, natureza e arquitetura. Então, uma listinha de dez motivos pelos quais achei Portugal muito é fixe!

1.Vinhos e o cênico Vale do Douro

Típica vila de Pinhão no Vale do Douro
      Nós brasileiros gostamos de visitar as capitais e grandes cidades, mas não dá para deixar Portugal sem conhecer os tradicionais vilarejos do paradisíaco vale do Douro. O rio recorta os vales repletos de vinhedos, descortinando paisagens de cair o queixo. Pinhão, por exemplo, tem tantas vinícolas, que é praticamente impossível, em um único dia, visitar todas. Uma belíssima propriedade é a da Quinta do Bomfim, que oferece diversas modalidades de provas para bebericar vinhos do porto. Quer um exemplo? Que tal um Graham de 1972? Produzido no vale e envelhecido por 42 anos em Vila Nova de Gaia. Já em Peso da Régua, dá para se hospedar na Quinta do Vallado, um misto de vinícola e hotel cinco estrelas, com ambiente intimista, lareiras e biblioteca. Além de jantares abastados e regados a muito vinho. Claro, que um tour aos vinhedos  e uma senhora degustação fazem parte do pacote. A experiência é tão bacana que rende um post à parte. Vinhos de mesa, do porto e azeites de primeira! O risco é não querer mais sair do hotel.
Hotel- Vinícola Quinta do Vallado

2. O charme e as belezuras do Porto

Teleférico da Vila Nova da Gaia
O rio Douro também é a grande estrela da cidade, marcado pela ponte principal, a Luis I, com turistas que saçaricam por cima e por baixo dela. De um lado, as casinhas típicas e multicoloridas da Ribeira, um calçadão ensolarado, — até mesmo no inverno—, apinhado de cafés, restaurantes e poses dos forasteiros em transe com o cenário. Do outro lado, a Vila Nova da Gaia, onde estão as cavas de vinho do porto, com seus antigos barquinhos de madeira que transportavam os barris até o local de armazenamento. Quem chega do Vale do Douro, depois de enfrentar inúmeras degustações, pensará bem se deve encarar mais uma. Mas, as cavas são diferentes dos vinhedos. Ali, a bebida nacional descansa por anos, envelhecendo e pegando sabor até chegar em nossos copos. O tour da Calem é bem completinho e inclui duas taças para provar. Se a ressaca atacar, peça a iguaria local: as famosas francesinhas. Apesar do nome delicado, o sanduba tem bifes, salsichas, presunto, um ovo mole quebrado por cima e tudo isso coberto de queijo derretido. Se joga! Quem ainda conseguir andar, há ainda no Porto uma grande quantidade de atrações, como um vagaroso passeio pela rua das Flores, cheia de cafés e lojinhas descoladas, que termina quase que na Igreja e Monumento de São Francisco, onde tudo que reluz é ouro. É de ficar boquiaberto.
Ponte São Luís I, na cidade do Porto

3. Sintra e a mega concentração de palácios 

Sintra sobre os arcos do Palácio Nacional
Tão pertinho de Lisboa,  Sintra é uma belezinha, que rende com certeza pelo menos dois dias de visita. Diversos palácios e atrações espalhados pelas montanhas demandam tempo. Duas linhas de ônibus ligam os principais pontos turísticos. A 434 (5 euros para o circuito completo) passa pelo centro histórico, Castelo dos Mouros e Palácio da Pena. Já o 435 (2,50 euros) percorre a Quinta da Regaleira, o Palácio de Seteais e o Palácio de Monserrate. A sala dos Brasões, no Palácio Nacional de Sintra, é bem legal para os descendentes de portugueses procurarem seus brasões. Eu até achei o Costa! A edificação fica ainda mais bonitona clicada de cima dos castelos dos mouros, uma muralha encravada na montanha que exigirá bastante das pernas.
Castelo dos Mouros, Sintra

4. O clima universitário de Coimbra 

Universidade de Coimbra ao topo da montanha
      Com uma das universidades mais antigas da Europa (de 1290), o clima estudantil paira no ar, mesmo para quem visita a cidade durante o recesso das aulas. Repúblicas com fachadas das mais inusitadas (torradeiras e engradados de cerveja pendurados na janela) compõem o coração histórico de Coimbra. Ao perambular pelas ruelas estreitas do morro, acima do rio Mondego, encontramos pichações de cunho artístico, politico e até feminista. Ou até mesmo plaquinhas do gênero: “aqui morou Eça de Queiroz quando estudante”. O turismo gira, claro, em torno da universidade que também matriculou outrora Antero de Quental e o próprio Camões. Entres os destaques, a lindíssima biblioteca Joanina (iniciada em 1717), com três andares de prateleiras de madeira nobre, trazida das antigas colônias portuguesas. Outros nobres visitantes por ali são os morcegos, mantidos para evitar a deterioração do acervo pelas traças. Tão queridinhos que foram parar até nos escritos de Umberto Eco. Quem quiser arriscar um doutorado (ou doutoramento como dizem por lá), defenderá a tese em um dos cômodos mais belos do complexo — a Sala dos Capelos, de 1655! Na outra margem do rio (com uma esplendida vista para o relógio universitário no topo do morro) está também o hotel Quinta das Lágrimas, com seus belos jardins. Aberto ao público, foi ali que Inês de Castro foi brutalmente assassinada.
Fonte Quinta das Lágrimas


5. Lisboa entre tradição e modernidade 

Pôr-do-Sol da janela da Torre de Belém, Lisboa
Ah, quem não associa Lisboa com aquele belíssimo por do Sol à beira do Tejo, visto sobre as janelas da Torre de Belém? Ou a vista paradisíaca do castelo com uma tacinha de vinho? Sem contar os clássicos bondinhos amarelos que sobem aos miradouros ou às tortuosas e quase intestinais ruelas de Alfama! Apesar desse quê bucólico e tradicional, o bicho pega fogo, por outro lado, na Praça do Comércio e na Rua Augusta, cheia de lojas, restaurantes, casa de bolinho de bacalhau, pastelarias e uma porção de rapazes oferecendo um bocado de Marijuana. O clima boêmio no bairro alto, recheado de barzinhos descoladões também é uma outra faceta. Mesmo nas históricas ruas de afama encontra-se arte de rua e grafites moderninhos, dos mais criativos, dando ainda mais cor às casinhas lisboetas. Parece que a cidade tem tantas personalidades quanto Fernando Pessoa poderia criar. Aliás, para visitar as ossadas dos grande heróis de Portugal — Pessoa, Alexandre Herculano, Vasco da Gama e Camões — é só bater cartão no mosteiro dos Jerônimos.

6. A melancolia tocante do Fado

Fado de Coimbra, no Fado ao Centro
O som da guitarra portuguesa acompanhada por interpretes fadistas dá uma tristeza danada, é quase inexplicável. Depois de uma apresentação melhor ir dormir mesmo. Esta tradição musical nasceu em um bairro operário de Lisboa e domina por séculos o clima nostálgico português. Na capital, o Clube de Fado é uma boa pedida, com artistas de primeira linha. Há apresentações a cada trinta minutos e nos intervalos serve-se  a comida. Quem chega durante a cantoria, precisa esperar na porta até a próxima pausa antes de se acomodar. Já o fado em Coimbra nasceu das serenatas feitas por estudantes da universidade (por isso é até hoje cantado somente por homens), ganhou influências dos alunos estrangeiros e segue com a tradição, homenageando muitas vezes as belezas da cidade. O Fado ao Centro tem apresentações diárias sempre às 18h. Os artistas cantam envoltos na capa preta universitária e há também projeções com imagens antigas da cidade. Conta-se que se a moçoila gostava da serenata, ela acendia e apagar a luz do quarto três vezes. Os transeuntes, ao invés de bater palmas, davam somente uma tossidinha para incentivar o rapaz apaixonado a cantarolar, mas sem correr o risco de acordar o pai de alguma Julieta.

7. Comilança de montão 

Pasteis de Nata
Não sei se já me adaptei à contenção alemã, mas me senti uma pecadora gulosa em Portugal. Como diria a minha avó, come-se como um bispo. Os couverts em si já são suficientes para sustentar uma refeição toda — azeitonas, pães, patês de sardinha e atum, saladinha de polvo, queijinhos frescos tipo de feira, fiambres (presunto cozido), tudo arrematado ainda com bolinho de bacalhau! E se quiser uma pimentinha, só pedir um piri-piri! E as porções? Mesmo dividindo ainda sobra! Além das sardinhas grelhadas na brasa (servidas inteirinhas, com cabeça e tudo, adoro!), lulas no espeto, arroz de polvo, ainda tem uma lista imensa de bacalhaus para experimentar! À lagareiro, assado com azeite, alho e batatas ao murro; à Brás, com creme de gemas e batata palha ou até mesmo uma versão coberta por miolos de broas esfarelados. Diferente de outros países da Europa, mesmo pousadas e pensões servem sucos de laranja fresquinhos e frutas naturais. E ao entrar no quesito doces, aí que a porca torce mesmo o rabo. Se fossem somente os pasteis de nata, mas e a infinidade de quitutes e pães doces nos balcões para acompanhar o cafezinho? Não vou nem comentar da heresia das francesinhas! De sobremesa, tem algo mais deliciosos que peras bêbadas (cozidas ao vinho e servidas com calda de chocolate)? Se não fosse o vinho do porto como digestivo, teríamos que chamar o guindaste!
Bacalhau  à lagareiro 

8. Queluz e a resposta portuguesa a Versalhes 

Jardins do Palácio de Queluz, Lisboa - Queluz

Nos subúrbios de Lisboa, a corte portuguesa não quis deixar por menos e também criou sua versão de um palácio de veraneio à la Versalhes. Embora um pouco menor, o projeto com seus magníficos jardins é bastante semelhante ao francês. É preciso dizer que do lado de fora, a edificação está bem caidinha, mas a visita interna não decepciona. Na sala Dom Quixote (nome dado por causa das pinturas nas portas e paredes baseadas na obra) nasceu e morreu Dom Pedro I (ou IV em Portugal). Não é incomum encontrar grupos de escolas visitando o espaço, o que torna tudo mais legal. Atores e atrizes tocam instrumentos da época, vestidos à caráter, e muitas vezes até rodopiam uma valsa no salão! Nos jardins, além de árvores e arbustos milimetricamente desenhados, há uma enorme fonte decorada com belos azulejos portugueses multicoloridos. Vale a visita!

9. Fátima e sua vibe religiosa 

Santuário de Fátima 
Diversas excursões saem de Lisboa para o santuário, no local em que Nossa Senhora de Fátima teria aparecido algumas vezes a três crianças, em 13 de maio de 1917, segundo relatos da igreja católica. Por esta razão, seis milhões de visitantes passam por ali todos os anos, numa espécie de centro espiritual português. Há quem diga que a vibração é incrível, o clima de religiosidade paira no ar e todas essas coisas. Mas, de qualquer forma, aos não religiosos, a catedral ¬— circundada por colunas e arcos de mármore, como a basílica de São Pedro no Vaticano — é monumental. Também é interessante ver peregrinos, fiéis e pagadores de promessas seguindo de joelhos rumo à entrada da igreja. Até mesmo em dia de chuva! Velas em forma de coração, pulmão, pernas e braços são atiradas ao fogo nos veleiros para aqueles que pedem pela saúde de alguma parte especifica do corpo. A capela da aparição marca o local do milagre. Já dentro da Basílica estão enterradas as três crianças, os pastorinhos!

10. Os vocábulos portugueses 

Pagando tributo ao Fernando Pessoa 
É capaz que quando a gente desembeste a falar, alguém nos diga “não percebo”. Aconteceu já comigo ao pedir aquela pimentinha pra colocar no bolinho de bacalhau! Até que eu descobri o piri-piri! Mas, após algumas horas de cara de interrogação, aprendemos gírias e palavras bem legais. Para xícara, peça uma chávena. Já estou até a perceber! Uma camareira da pousada, por exemplo, me disse que o Nordeste brasileiro é muito giro (bonito). Também tem o muito fixe (legal, da hora, bacana, dez ou algo assim). E o restaurante do Porto “Fisch Fixe? Fixe, né? Um taxista em Peso da Régua ficou meio com a pulga atrás da orelha quando me ouviu dizer “fechamento” (em relação à edição de um jornal). Interrompeu a conversa, disse que era uma palavra feia e inexistente e o correto seria “encerramento”, “encerrado”. Não consigo usar, acho estranho. Nada fixe. Mas esses desencontros acabam na maioria das vezes rendendo boas risadas: vai uma punheta de bacalhau aí? 


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