quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Táticas para procurar WG na Alemanha

Alugar apartamento em Londres não é tarefa simples. Lidar com os preços mais caros do planeta e um monte de corretores engomadinhos exige paciência e ânimo. Muito ânimo. Mas depois de encarar a experiência britânica duas vezes, passei a achar a procura por cafofos na Alemanha bem mais amena. A busca por um quarto em terras germânicas tem me rendido boas risadas nos últimos tempos. Veja, os preços são mais camaradas e dá para driblar essa figura abominável do estate agency. Assim, tudo sempre me pareceu muito descomplicado pelo site wg-gesucht.de, até eu perceber o preconceito com os trintões. E relembrar das entrevistas peculiares para analisar as esquisitices dos futuros coleguinhas de apartamento. 

Quando estudantes saem para um semestre no exterior, costumam alugar seus quartos na WG (Wohnungsgemeinschaft, em alemão) por alguns meses. Daí muitos anúncios já colocam lá: “homens e mulheres até 30”! WTF? Sério? Para driblar o problema e passar para a etapa da entrevista, comecei a usar estratégias de comunicação na minha cartinha de apresentação. Propaganda enganosa, sim, mas por uma boa causa. Nem é tão mentira assim, só alguns eufemismos. 

Não tenho um marido, mas um namorado. Morei alguns anos (nunca oito) na Alemanha. Não interessa minhas atividades na universidade, só digo que estudo. Só não falo que faço Erasmus para não forçar a barra! Um pessoal de Weimar me escreve, respondo trezentas perguntas por WhattsApp, falo das minhas atividades no tempo livre – yoga, vinho, fotografia, blogs, cinema, Londres. Entrevista, eba! Arremesso os óculos longe para não parecer uma tia séria. Apartamento de veganos! Eu disse que praticava yoga, não que comia mal! Fiquei meio em choque, lembrei que spaghetti não contém ovos, e desamarelei o sorriso. Quase caiu uma lágrima pelo parmesão, mas a galera era aparentemente de boa. Juro que não fiz expressão nenhuma, mantive o olhar mais neutro possível. Sequer levantei uma das sobrancelha quando uma das meninas disse que fazia um Ausbildung em alimentação vegana. Até que começaram a me explicar as regras da casa. 

Como uma das mocinhas dormia num quarto improvisado na sala, fui advertida em relação ao barulho. Não seria prudente convidar muitas pessoas e fazer festas ao longo da semana! Caí na risada e não contive em perguntar – “vocês acham que tenho quantos anos”??? Mal terei tempo de sair da biblioteca, quiçá fazer balada caseira. Euzinha aqui, com quase quarenta (tá faltam alguns anos, mas vamos dramatizar) ouvindo regras de comportamento da molecada? Que festa? Só se for sopa de abóbora, vinho, ciabatta e Netflix!

Depois da onda vegana, troquei mensagens com uma professora de arte canadense que já assumiu de antemão viver em meio a livros e papéis. São só três meses e nada que eu não esteja acostumada com meu home-office. Meio preocupada ela comentou que só tinha um frigobar e não cozinhava muito. Lembro de ter mencionado documentos italianos (estar legalmente registrada nos dois países), mas não de que jantava todas as noites com antipasto, primo, secondo, dolce e limoncello. Perguntou na lata minha idade e ficou aliviada ao saber que não ia aparecer uma nona comilona por lá. Tanto faz. Achei a moça/senhora interessante. Trabalha com refugiados, dá aula de artes, parece ser meio desorganizada. Teria bastante hábitos alheios para eu bisbilhotar. Mas estou com uma pulga atrás da orelha. Todo primeiro final de semana do mês há uma reunião de uma sociedade não mencionada. Daí o interesse dela se eu voltaria a Londres de tempos em tempos. Que sociedade cazzo? Estou aqui imaginando as coisas mais bizarras do mundo. Algum tipo de maçonaria feminina, reunião espírita, do Islã, treinamentos de dominatrices, crochê, tricô, pâtisserie, terapia em grupo, encontro do AA!!!! 

A opção mais legal até agora foi de uma garota com problemas auditivos, que lê lábios. Por razões óbvias ela não participou do processo por telefone. Bati um papo com o colega dela. Um alemão interessante, aparentemente sem manias estranhas (nada além das questões culturais padrão). E enquanto não recebo alguma resposta definitiva, sigo nas entrevistas com essa gente doida de pedra. No bom sentido, claro! :=


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