terça-feira, 28 de novembro de 2017

Londres e Imprevistos cotidianos

ou como a Europa anda muito da esquisita...

Nunca pensei tanto no Stefan Zweig como esse final de ano. Não por sua frase célebre – “Brasil o país do futuro” – afinal, a otimista observação sempre foi vista com gracejos irônicos sobre esse “Zukunft” imaginário! Tempo é uma questão de perspectiva mesmo. Provavelmente porque somos brasileiros e não desistimos nunca! Rá. Mas, dessa vez, não é o Brasil e sua cara de peroba, mais sem graça e estúpida que as pegadinhas do malandro, que não me tiram o autor austríaco da cachola. Há uns três anos li “O Mundo de Ontem, Recordações de um Europeu” (acho que é esta a tradução) em que ele descreve suas andanças pela Europa “livre, leve e solto”. Como diria Caetano “sem lenço, sem documento”. Perambulações antes da Primeira Guerra Mundial, quando passaportes não eram necessários. Na verdade, o livro mostra essa estrutura toda se rompendo e as consequências das bizarrices políticas do século XX na vida pessoal do autor. Ainda assim, não parece um sonho poder ir e vir sem ter que apresentar documentos, extrato bancário, cor da calcinha, estilo de depilação, estatura e toda sua vida pessoal? Dreamer...

terça-feira, 31 de outubro de 2017

O túmulo do Marx em Londres

... uma história do dia das bruxas 

Preciso de um título “googlável”, mas ao escrevê-lo já sinto uma náusea similar a de um vegetariano preso em um açougue de um zouk marroquino. SEO é uma desgraça, não? Um mal necessário da blogosfera, o balde de água fria em qualquer aspirante a escritor de qualquer bodega. Queria mesmo titular este post como “as incongruências do mundo”, mas isso afastaria o leitor ainda mais do que esse gigante nariz de cera! Portanto, vamos logo ao assunto. Halloween! Gosto tanto da ocasião como  de chuchu, tartarugas, samambaias e aquela lata sem gosto de marrom glacê. Em alto e bom tom, não fede, nem cheira. Tem tanto tempero quanto comida de hospital. Um carnaval com toques de horror onde a garota propaganda é aquela abóbora bochechuda com o mesmo sorriso amarelo desde que o Thomas Jefferson trabalhava na declaração da independência dos EUA. E antes que algum sabichão venha falar das origens celtas da celebração – blá... E o que o Marx tem a ver com isso tudo? Ainda chego lá. Por enquanto, só torturando o desocupado leitor, descontando nele a miséria de ter que abrir a porta e ver crianças histéricas perguntando “doce ou travessura”...

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

London Skyline


Londres é bem famosa pelo seu visual cinzento, com ares de viúva chorosa, mau-humorada, sempre de preto e dona de humores instáveis e neblinosos. Mas, exageros à parte, a capital tem surpreendido nos últimos dias com seus entardeceres multicoloridos. Passo o dia brigando com a tese e lá pelas 17h-18h, quando vou apreciar minha xícarazinha de expresso, começa o cair da noite em diferentes tons.   

domingo, 20 de agosto de 2017

Crise da meia idade

I-Stock Fotos
Apesar do título, esse post tem a ver com música e não necessariamente com crise existencial. Mas vá lá. Depois de semanas sem conseguir comparecer na yoga (conferências, visitas, férias, trabalho), voltamos mais cedo para casa para não perder a próxima seção de ginástica no outro dia, às 10h da matina. Saímos do bar aqui pertinho, numa noite de vernissage com música ao vivo e retornamos comportadamente ao nosso aconchego do lar.

domingo, 30 de julho de 2017

Roteiro África-Benin: Videotrip




Untitled from Regina Cazzamatta on Vimeo.

(...) "Volto de longas viagens, 
amei ao longo da longa vida 
todas as ruas e todo o silêncio,
a costa e o azul safira
das ilhas distantes,
cheiro de mel e de coração de abelha
teve a distância 
e crepitantes acontecimentos
me fizeram cidadão onde estive.

Não fui estrangeiro de olhos mortos:
compartilhei o pão e todas as suas bandeiras" (...)
(Pablo Neruda)




quarta-feira, 12 de julho de 2017

Viagem África: economia sustentável e crescimento rural agrícola

A um quilometro do centro de Porto Novo, capital política da República do Benin, está o centro de ensino, pesquisa e produção do Projeto Songhai, alocado em uma fazenda autossustentável. A iniciativa – uma baita cooperação entre governos, ONGs internacionais, associações e comunidades– é tida como um laboratório para o continente africano. Em trinta anos de existência, a proposta já foi aplicada em 15 países com apoio do programa de desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP).

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Sul da Alemanha: Munique e Bavária

Alemanha, festeira e romântica! 

Aproveite a vida boa em Munique, terra da cerveja, e viaje por um roteiro com castelos e as paisagens mais incríveis da região da Baviera. 

(Texto originalmente publicado na Revista Viaje Mais! Junho, 2017)

A região da Baviera é uma das mais especiais da Alemanha, principalmente para nó, brasileiros, pois lá estão todos os grandes ícones que conhecemos sobre o país. A começar pelos gigantescos canecões de chope de um litro, que requer braço de halterofilista para erguer (ou seria halterocopista?).
A Baviera é a terra da cerveja e da Oktoberfest, a original. Sabe aquelas bandinhas nas quais os sujeitos vestem bermudas com suspensórios, e as mulheres, vestidos campestres de babadinhos brancos? São de lá. Munique, a capital, é a casa da BMW e do FC Bayern, o maior time de futebol do país, cujo estádio recebeu 4 milhões de visitantes no último ano. Sim, o futebol é uma paixão nacional lá também. Então, pode ir chegando e não faça cerimônia. A região é a mais festiva do país e gosta de receber. Viajar para Baviera é encontrar a Alemanha que você tanto sonha conhecer.

Castelo Neuschwanstei, em Füssen

Munique – A cidade mais altro-astral e festeira da Alemanha 

Showroom da BMW, Munique 
A capital da Baviera é uma cidade alegre e tem a cara de seus muitos biergartens, ou "jardins dacerveja”, traduzindo ao pé da letra, onde se vive o astral da Oktoberfest o ano inteiro. As pessoas são mais expansivas e menos o formais se comparadas aos alemães de outras partes do país, e a cidade é festeira e bem humorada. Para entrar no clima peça logo uma cerveja a caneca de um litro (a Maß) e uma típica salsicha branca (a Weisswurt). Será melhor ainda se o lugar escolhido para o brinde (aplique um sonoro “prost!”, “saúde!” traduzindo para o português) for em uma das cervejarias mais tradicionais e antiquíssimas da cidade, como a Augustiner (de 1328), a Spaten (1397), Paulaner (1634) ou a Hofbräu (1589), onde todo mundo fala alto e se abraça feito bons bêbados. Em Munique, bebe-se cerveja acima da média nacional.   
A famosa cervejaria Hofbräu, de 1589

Sul da Alemanha: Alpes da Baviera

Alpes de Berchtesgaden – a atmosfera serena e as grandes paisagens das montanhas bávaras 

Lago Königsee clicado da montanha Jener
Se a ideia é conhecer a natureza exuberante da Baviera, a boa é seguir a Berchtesgaden, uma cidade a 150 Km de Munique, encravada entre as montanhas dos Alpes Bávaros, em um dos cantinhos mais charmosos do sul da Alemanha. A cidade é pequenina, com um centro histórico simpático, com arquitetura em estilo alpino. Há muitos hotéis e resorts de montanhas nos arredores para quem quiser desestressar e curtir a tranquilidade bucólica da região. Dois a três dias, no entanto, é tempo suficiente para decorar todas as ruas da cidade e fazer os principais passeios pelo parque nacional de Berchtesgaden.

Castelos no Sul da Alemanha

Herrenchiemsee – Versalhes à moda bávara 

Palácio barroco Herrenchiemsee

Outra área marcada pelo devaneio de Ludwig II foi o lago Chiemsee, aliás o maior de todo os estado, com 80 km quadrados, chamado de o “mar da Baviera”. Em 1873, o soberano comprou a ilha Herreninsel para construir uma réplica milionária do Palácio de Versalhes. O projeto nunca foi pensado para servir como residência. Trata-se exclusivamente de uma homenagem ao absolutista francês Louis XIV, outro ídolo de Ludwig.

Castelo da Cinderela em Füssen

Füssen e seu magnífico castelo que inspirou Walt Disney 

O castelo que inspirou o da Cinderela, de Walt Disney

A Baviera foi um reino independente do restante da Alemanha até 1918. Os principais vestígios reais da região estão nos projetos alucinados e soberbos do jovem rei Ludwig II que chegou ao trono em 1864, aos dezoito anos, cheio de ideias mirabolantes. Seu primeiro plano surreal foi uma das obras mais bem sucedidas do turismo de massa do estado – a Castelo Neuschwanstein, na pacata cidadezinha de Füssen, a 125 km de Munique, ou duas horas de trem. É um passeio bate-volta para 99% dos visitantes.

Burgo Hohenschwangau, em Füssen
Nos arredores do burgo Hohenschwangau, onde passara parte de sua infância, Ludwig II assistiu cuidadosamente à construção do seu sonho do outro lado da montanha. Curioso é que ele procurara a solidão, um local tranquilo e idílico para mergulhar na encenação de um passado da ordem de cavaleiros medievais. As obras iniciaram em 1869, mas nunca foram finalizadas, assim como todos seus outros empreendimentos. Mesmo assim, o legado dessa alucinação recria ao mundo a mitologia germânica operacionalizada pela sobras de Richard Wagner. A sala dos menestréis, por exemplo, foi concebida para alimentar a fascinação do rei pelo compositor e pelas ordens de cavalaria. Os afrescos do conhecido cômodo ilustram cenas da ópera Tannhäuser. No mês de setembro, é possível assistir ali a concertos diversos. A admiração pelo maestro também é notada no quarto do rei, ocupado pela cama em estilo gótico e decorado com cenas do clássico Tristão e Isolda. 
Paisagem dos lagos que circundam os castelos em Füssen

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Londres e coincidências estranhas II

Faz tempo que planejo escrever um post turístico sobre a capital inglesa – tipo a Londres da realeza, os mercados mais descoladinhos, grafites secretos, os canais perto das docas, o que fazer “na faixa” e por aí vai–, mas sempre aparece algum “maluco” (no melhor sentido da palavra) e me desvirtua da ideia inicial. 

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Melhor de Londres – a metrópole da coexistência


Depois de uns 40 dias de adaptação, desde que deixei a bolha do bem estar social alemão e cai de paraquedas na capital inglesa, minha convivência com a cidade tem melhorado bastante. Estava disposta a não me deixar seduzir por esse centro financeiro global, ávido, hostil e ligeiramente arrogante, mas alguns desafios nos instigam além do normal. Especulação imobiliária e excessos de serviços financeiros são, sem dúvida, uma faceta local. Abro as janelas de manhã e tomo café com os edifícios do Bank of America, Citibank, Barclays e HSBC me observando. Canary Wharf – o centro financeiro londrino – está logo aqui com todas suas empresas, lojas, restaurantes, bares e todo um setor terciário à disposição, sem contar com a intersecção de transportes. É prático, pena que não provoca ou atrai suficientemente.  

segunda-feira, 20 de março de 2017

Londres e o mercado imobiliário – estranhas coincidências


Não gosto muito de posts de serviços, explicando o bê-á-bá de como resolver um problema em outra cidade. Sim, eles são necessários, mas chatos pra danar de escrever e/ou ler (a não ser que você seja o cara em apuros). Mas talvez eu mude de ideia e faça, algum dia, um guia prático sobre como achar um espaço embaixo da ponte só seu na capital inglesa.

sábado, 11 de março de 2017

Weimar-Alemanha e minha morada sem mim

IstockFotos
Já faz um tempo que procuramos alguém para alugar nosso apartamento em Weimar e comprar todos nossos móveis. Coisa simples. Saio com roupas e livros, o sujeito entra lá para viver no meu mundo e me dá uma grana pela mobília. Bom, simples em cidades dinâmicas como Berlin, Londres, Paris e Nova Iorque, mas não necessariamente no berço protegido do classicismo alemão weimariano. 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Leipzig e uma despedida acidental


Há coisas particularmente irritantes nesse mundo. Despedidas, acordar cedo, segundas-feiras e Deutsche Bahn (a empresa de trens alemã). Quando todas elas se reúnem em uma mesma experiência (sim, isso é bem possível), não há chocolate, pão de queijo ou café capazes de nos devolver o bom humor. Juro que tento!

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Espanha: Santiago de Compostela e litoral da Galícia

A religiosa Santiago de Compostela e o litoral da Galícia 

Por Regina Cazzamatta (texto publicado originalmente na Revista Viaje Mais! Novembro 2016)

Dizem na Espanha que Deus, após terminar a criação do mundo, apoiou as mãos abertas, para descansar, sobre o norte do país. Assim teria formado, com seus cinco dedos, as cinco “rías” da Galícia, os braços do mar que avançam território adentro, rasgando as montanhas. A lenda tem uma explicação: a Galícia vive cercada de fé e misticismo desde os tempos mais remotos. E é assim até hoje. Sua capital, Santiago de Compostela, clímax do célebre Caminho de Santiago, é o terceiro ponto de peregrinação cristã mais importante do mundo, depois de Jerusalém e do Vaticano.
Essa região do norte da Espanha, às portas do Atlântico, é uma terra bucólica, de morros suaves e cidades pequenas (a capital tem apenas 100 mil habitantes), onde brota uma cultura própria, que não tem nada a ver com os estereótipos espanhóis do flamenco e de touradas. Começa pelo idioma distinto, o galego, e segue pela religiosidade. O turismo é um traço importante, mas não se resume aos andarilhos peregrinos carregados de fé e devoção a San Tiago. Turistas bem mais céticos também vão à galícia, em busca do prazer de caminhar em belas cidades históricas, como a própria Compostela; dos divinos pratos de frutos do mar; e dos passeios ao litoral de águas cristalinas, de charmosos vilarejos de pescadores e grandes belezas naturais. 
litoral das ilhas cíes 
Sendo assim, não será preciso caminhar centenas de quilômetros para chegar a Santiago de Compostela, ainda que seja impossível não se contagiar com a emoção de se deparar com a catedral de Santiago, a alma da urbe. O templo é colossal, sempre cheio de fiéis de todas as partes do mundo, que fazem fila na entrada para tocar a coluna do Pótico da Glória e repetir as mesmas palavras: “Senhor, eu creio!”. Faz parte do ritual peregrino. Os devotos também se juntam na cripta para ver o baú de prata com os supostos restos mortais do apóstolo Tiago. 
Santiago clicada do topo da catedral
A história católica dá conta de que Tiago veio bater na Galícia em 38 d.C. em sua missão evangelizadora. Seis anos depois, já de volta a Jerusalém, foi assassinado. Dois discípulos recolheram o corpo de Tiago e colocaram-no em uma urna, que foi levada de volta à Espanha para ser enterrada. Oito séculos se passaram até que o santíssimo esqueleto fosse enfim encontrado por um eremita galega chamado Pelayo.
Peregrinos chegando a Santiago de Compostela
É claro que Pelayo não tropeçou distraidamente na tumba do apóstolo. O episódio ganhou tons bem mais dramáticos. No ano de 813, o eremita viu uma chuva de estrelas cair sobre um campo e, guiado por essas luzes, foi até o local e desenterrou a ossada. Obviamente, há dúvidas se os restos mortais na cripta da igreja são mesmo de Tiago. Mas isso é uma questão de fé, e fé, como se sabe, é o que não falta em Santiago de Compostela.
Do lado de fora da catedral, o burburinho rola com intensidade nas quatro praças que a circundam: Quintana, Imaculada, Prataria e Obradoiro. Essa última ganha mais vida com a chegada de peregrinos exaustos após longas e árduas jornadas. A atmosfera de vitória e trocas de energias positivas dominam o ambiente, com cantorias e lágrimas. Ao lado da praça, está o antiquíssimo Hotel dos Reis Católicos. Recheado de pátios e fontes memoráveis, o abrigo foi criado em 1499 como um hospital para socorrer peregrinos. Paradoxalmente, transformou-se hoje em uma hospedaria chiquezinha. 
Interior do Hotel dos Reis Católicos 
Ruas de Santiago durante a madrugada
No centro histórico de Compostela, por suas ruas estreitas, proibidas para carros, é bem fácil encontrar as famosas taperias espanholas. A capital galega abriga cerca de 1.100 restaurantes e bares, um para cada 100 habitantes. A especialidade quase sempre é a “mariscada”, uma orgia de frutos do mar. O pecado é não provar. Navalhas, percebes, berberechos... são alguns dos estranhos mariscos locais que são degustados com muito azeite e uma taça de vinho albariño. Ou, se melhor apetecer, uma cerva local, a estrela da Galícia. Nenhum frutos do mar, porém, é tão tradicional quanto as vieiras, a macia carne da concha que virou o singelo ícone da cidade, e está pendurada nas mochilas dos peregrinos. Em outros países, como na Alemanha, a vieira é conhecida como “concha de Santiago”. O problema é o preço salgadinho (uma unidade pode custar até €12). 
Vieriras ou conchas de Santiago
 O mercado de Abastos em Santiago é uma boa opção para degustar todas essas delícias e outras cositas más, como queijo tetilla (tetinha, em português), batizado assim por conta do seu formato de seio. Como 40% do leito produzido na Espanha provém da Galícia, dá para imaginar a qualidade dos queijos da região. Ou então o “pulpo á feira”, um polvo cozido que derrete na boca, temperado com páprica. E, na hora de adoçar a vida, nada e mais clássica do que a Torta Santiago – de amêndoas e salpicada com açúcar de confeiteiro –, acompanhada dos licores locais. 
Queijos tetillas vendidos no mercado de Abastos


A Costa Galega

Marco zero do caminho de Santiago, na costa Finisterre
O Caminho de Santiago não acaba em Compostela, segue até Finisterre, no ponto mais ocidental da costa  espanhola, a 90 km de distância. Os peregrinos encaram três dias para concluir esse trecho final da caminhada. Mas dá para ir até lá em pouco mais de uma hora de caro, ou mesmo em passeios bate-e-volta que saem da capital galega e levam a diversos pontos do recortado litoral que vai de Carnota a La Coruña. Finisterre é o pedaço mais famoso, onde está a rocha do marco zero do Caminho de Santiago. Próximo a ele fica o farol do Cabo Finisterre, de 1853. Nesse ponto, no alto da falésia, peregrinos que concluíram a jornada queimam suas roupas e amarram seus calçados surrados no penhasco. É um ato para simbolizar renivação e renascimento. 
Botas deixadas por peregrinos ao fim do percurso
Entre algumas excursões ao Cabo Finisterre estão paradas em pontos interessantes, como a ponte Maceira, no pequeno município homônimo. Toda de pedra, com arcos em estilo romano, a ponte foi construída na Idade Média para ajudar a travessia dos peregrinos. Outra belezura do trajeto é a cachoeira do Rio Ezaro, que deságua no mar em grande estilo com uma encantadora queda d´água. 
Desague do Rio Ezaro
Os passeios que partem de Santiago de Compostela também levam a La Coruña, onde o principal ímã turístico é a Torre de Hércules, o farol mais antigo em funcionamento do mundo, erguido há dois mil anos pelos romanos. Até hoje auxilia os navegantes que enfrentam o mar bravio e os nevoeiros comuns naquelas latitudes atlânticas. 
Torre de Hercules em la Coruña
Na pequena cidade de Muxía, o santuário da Virgem da Barca, uma fascinante igreja à beira-mar, merece estar no seu roteiro. Segundo a fábula, Santiago rezava no local, quando viu chegar um barco. Nele vinha Nossa Senhora, que o consolou e o motivou a continuar seu trabalho de evangelização. Muitos crentes vão até lá e passam por baixo de uma enorme pedra curvada, que simboliza o barco de Nossa Senhora, com o intuito de curar dor nas costas. 
Santuário da Virgem da Barca, em Muxía
De todos os vilarejos costeiros, o mais charmoso é Combarro, uma vilinha de pescadores, com uma ruela estreitinha à beira-mar, abarrotada de restaurantes e lojinhas com produtos locais. Barraquinhas de licores, panelas de barro, vinhos albariños e bruxinhas (curiosamente chamadas de “meigas”, para espantar os maus espíritos) são vendidos ali na minúscula orla. É daqui também que saem animadíssimas excursões de catamarãs (www.crucerospelegrinn.com) para uma voltinha na ilha do Tambo. O auge dos passeios é a degustação de mexilhões ao vapor com uma garrafa de vinho branco geladinha. Música, petisquinhos frescos, bebida trincando e a tripulação toda dançando. 
Orla de Combarros, litoral da Galícia 

Combarros from Regina Cazzamatta on Vimeo.

A grande joia da costa galega são as ilhas Cíes, um pequeno arquipélago transformado em parque nacional marítimo, a 14 km da costa da cidade de Vigo, que por sua vez está a 100 km de Santiago de Compostela. São apenas três ilhotas, pequenas em tamanho mas grandes em beleza. Duas delas são interligada por uma longa faixa de areia, a Paria de Rodas, que o The Guardian classificou, em 2007, como “a melhor do mundo”. É de fato muito bonita, mas convenhamos, os ingleses não entendem muito de praia. Além dela, são mais oito arquipélago, todas com areia branca e mar cristalino que poderiam mesmo compor um pequeno Jardim do Éden se as águas não fossem geladérrimas!

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Roteiro Vale do Reno

Vale do Reno – A Alemanha dos contos de fadas

Uma das paisagens mais encantadoras da Alemanha está nos 65 km que vão de Mainz a Koblenz, nas margens do Rio Reno, um roteiro recheado de vilarejos medievais, castelos e vinícolas. 

Por Regina Cazzamatta (Revista Viaje Mais, Outubro 2016)


O Rio Reno nasce nos Alpes suíços, passa pela fronteira com a França, atravessa a Áustria e morre em Roterdã, na Holanda. Talvez não exista nenhum outro rio no mundo tão bem localizado assim. Mas é na Alemanha que o Reno revela seu cenário mais inspirador, onde corre tortuoso em meio a montanhas repletas de parreiras, tendo às margens numerosos vilarejos medievais, castelos e casinhas típicas alemãs, daquelas com floreiras nas janelas. Um pedaço dessa região, conhecida como Vale do Reno, é especialmente cinematográfica: os 65 km que vão de Mainz a Koblenz, rota considerada Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco.

O Reno é o rio com maior quantidade de castelos ao longo de suas águas. Tanto que o trecho entre Mainz e Koblenz é conhecido como Rota dos Castelos. São cerca de 40 deles, ora erguidos no alto de montanhas, ora nas margens do rio. Os primeiros foram construídos nos tempos do Império Romano. Na Idade Média, as muralhas de pedras frias e insalubres desses castelos passaram a abrigar postos alfandegários com o objetivo de cobrar impostos dos comerciantes que navegavam pelo rio. Nesse cenário digno de filme de capa e espada, brotam também um sem-número de lendas e histórias de contos de fada. A mais famosa dá conta de Loreley, uma linda donzela de cabelos loiros que encantava os navegantes com um canto mágico. A beleza da mulher e a perfeição de sua voz hipnotizavam os capitães a tal ponto que se descuidavam do controle das embarcações e naufragavam. 
Além da belíssima e cheia de mistérios, a Rota dos Castelos é perfeita do ponto de vista da locomoção e da praticidade, já que fica bem próxima a Frankfurt, aonde chegam voos diretos e diários do Brasil. Da estação ferroviária de Frankfurt, anexa ao aeroporto, partem trens que levam apenas meia hora para chegar até Mainz. Ou seja, você embarca em São Paulo ou no Rio de Janeiro e, em pouco mais de doze horas, já dá de cara com as paisagens e lendas do Reno. 
O percurso ao longo do rio também é descomplicado. Pode ser feito de carro, trem ou barco, já que há rodovias e uma ferrovia que margeia o rio. A forma mais tradicional é viajar nos barcos da companhia Köln-Düsseldorfer (www.k-d.de), que funcionam como transporte público, parando de cidade em cidade. Operam no sistema hop on/ hop off, no qual o passageiro pode descer onde quiser e, no mesmo dia, reembarcar com o mesmo tíquete. Os barcos têm ótima infraestrutura: três andares, deque para admirar a vista e restaurantes que oferecem até carta de vinhos. O bilhete custa 21 euros ao dia. 
Como as paradas dos barcos ficam sempre próximas às estações de trem, geralmente, a poucos minutos de caminhada, também é possível fazer a viagem mesclando o meio de transporte, o que é bem legal. Os trens oferecem a vantagem da economia e da rapidez para pular de uma cidade para outra. É bom reservar, pelo menos, três dias inteiros para fazer o trajeto com calma. Se tiver mais tempo, pode ainda esticar o roteiro até Colônia (veja abaixo), o que dá um total de 120 km. Uma semana é o suficiente para voltar com a sensação de que conheceu razoavelmente bem toda a região. A questão é escolher apenas onde se hospedar, já que são dezenas de cidades pelo caminho, a grande maioria minúsculos vilarejos. Se você gosta de um pouco mais de agito, considere lugares maiores como Mainz, Rüdesheim, Koblenz e, no caso do roteiro completão, Colônia.  

Mainz

Para quem chega a partir de Frankfurt o caminho natural é iniciar o roteiro por Mainz, capital do estado da Renânia-Palatinado, com cerca de 190 mil habitantes. No centro histórico da cidade, há um incontável número de igrejas e para encontrá-las basta olhar para os lados, quase toda esquina tem uma. A mais monumental é a de Santo Estevão, construída em pedras de arenito avermelhado, toda pomposa à beira do rio. Em seu interior, há vitrais assinados pelo pintor russo Marc Chagall. 
Também chama atenção a Catedral “Dom”, que pode ser avistada de quase todos os pontos de Mainz e é comparada à basílica de São Pedro, em Roma. A semelhança não é mera coincidência. A ideia do arcebispo Willigis quando a construiu, em 1909, era torná-la parecida ao templo católico romano. No interior, há uma sala com exposição de peças sacras preciosas, joias que foram usadas por arcebispos da região e esculturas do século 12.
O filho mais ilustre de Mainz é Johannes Gutenberg, o inventor da tipografia e da imprensa. A cidade dedicou a ele um museu, o Museu de Gutenberg, cuja peça suprassumo exposta é a primeira bíblia impressa do mundo, de 1455. Para os apaixonados por livros, a mostra é fascinante. Há escritos chineses do ano 600, manuscritos originais de Matinho Lutero, o pai da reforma protestante na Alemanha, além de máquinas de tipografia pré-Gutenberg usadas para impressão em países orientais.
 Depois de tantos passeios culturais, é gostoso ver o movimento na Marktplatz, a praça central do centro histórico, antes de tomar o rumo da rua Augustiner, para ver vitrines nas lojas instaladas em belos casarões enxaimel de cinco andares. Para o pit stop, siga à taberna Eisgrub-Bräu para brindar sua chegada com um canecão de cerveja "helles" (clara) ou com o bierturm, a torre de chope, de três litros. 

O Vinho Branco do Reno 

O entono dos vilarejos e castelos no Vale do Reno é tomado de parreirais. A tradição da viticultura na região é antiga, foi trazida pelos romanos há cerca de dois mil anos. Atualmente, há cerca de 165 vinícolas nos 120 km entre Mainz e Colônia, sendo que 50 delas são abertas a visitação turística. Boa parte da produção é de Riesling, o “rei” dos vinhos brancos, de sabor leve e frutado. A Alemanha é a maior produtora mundial desse tipo de vinho, que ali tem selo de denominação de origem: O Rheinriesling, ou Riesling do Reno. Outro vinho branco famoso por essas bandas é o Müller-Thürgau, originário do cruzamento genético das uvas Riesling e Gutedel, que resultou em um vinho equilibrado, com tons de noz moscada.   
Se quiser conhecer um vinícola considere a Weinkeller Schwaab, que fica na montanha Marienberg, à beira do rio Mosela, nas proximidades de Koblenz. Ou então a Weingut Bastian, uma vinícola com 300 anos de tradição, na pequena vila de Bacharach. Ambas oferecem tours pelas cavas e parreiras, além de almoços harmonizados com vinhos da casa. 

Bingen

Mainz é uma ótima dose de cultura e história, mas é apenas o aperitivo da viagem, pois é na próxima parada, em Bingen, onde começa e área considerada Patrimônio Cultural da Humanidade. A cidade, na confluência dos rios Reno e Nahe, tem um agradável calçadão à beira da água, com gramados floridos, biergartens (cervejarias com mesas ao ar livre) e um museu, o Strom, que conta a história da vida de Hildegarda de Bingen (1098-1179), uma mulher cheia de talentos que, em plena Idade Média, lutou pelos direitos das mulheres. Era uma abadessa beneditina e também escritora, poeta, compositora, botânica e curandeira. Hildegarda escreveu diversos livros, de teologia à botânica. Um dos mais famosos é o catálogo de plantas e ervas medicinais, escrito em 1158. Suas descobertas sobre o lúpulo ajudaram a invenção da cerveja. 
Ainda nas margens de Bingen, avista-se a Torre dos Ratos (Mäüseturm), em uma pequena ilha no meio do rio. Apesar de ser uma torre de observação, a construção transformou-se num ícone do Reno. Inicialmente, ela foi erguida pelo arcebispo de Mainz, Hatto II (968-970), para recolher impostos alfandegários dos mercadores. Conta-se, em mais uma das lendas deste vale encantado, que os súditos do bispo, revoltados com a avareza e a admiração opressiva do clérigo, o jogaram da torre para ser devorado vivo pelos ratos. Fato ou ficção, o que se sabe com certeza é que a torre ainda serviria como farol de sinalização para os navegadores do Reno até 1975.

Rüdesheim

De Bingen, avista-se no topo da montanha, do outro lado do rio, um monumento chamado Niederwald, marco da vitória alemã na Guerra Franco-Prussiana em 1871. Os franceses reivindicaram o Reno como fronteira oriental do país, mas de nada adiantou. Vale a pena ir até lá, pois a vista desde o monumento, a 225 metros acima do rio, é uma das mais belas do Reno. Para isso, basta cruzar o rio até Rüdesheim, de onde parte um teleférico de 1.400 metros de extensão, que passa sobre os vinhedos da encosta, até o monumento. 
Rüdesheim é uma das mais belas cidades do roteiro e a mais visitada também. É famosa pela Drosselgasse, uma viela estreita, exclusiva para pedestres, cheias de cafés e restaurantes que vivem lotados. Não faltam também lojas de suvenir e produtos típicos alemães, como relógios-cuco e bonecos quebra-nozes. É o Reno na sua versão mais turística.
Há três castelos para visitar na cidade: Boosenburg, Vorderburg e Brömserburg. Esse último, erguido em 1044, não fica na montanha, mas na beira do rio, e lá funciona um interessante museu de vinho, com exposição de parafernálias usadas para produzir e beber vinho desde os tempos dos romanos.

Bacharach e Oberwesel 

Apenas 15 km seguindo o rio está Bacharach, um vilarejo medieval muito charmoso, escondido atrás de uma muralha do século 14, com casas em estilo enxaimel ao longo de sua rua principal, a Oberstrasse. Os bares estão todos ali. Basta escolher um, pedir uma taça de vinho Riesling, típico da região e entrar no clima. Para admirar a cidade de outros ângulos, faça o passeio por cima da muralha, dando a volta em todo o cetro histórico. 
Um muro medieval também contorna o núcleo antigo da vizinha Oberwesel, que todo mês de abril promove o concurso da Bruxa do Vinho, no qual uma linda moça é escolhida para representar a bruxa, que segundo a lenda, protege os vinhedos. A vencedora desse concurso com 70 anos de tradição tem sua foto exposta no centro de cultura da cidade, onde funciona um curioso museu que conta a história da região, incluindo o episódio em que o Reno congelou no inverno de 1963. 

Em Oberwesel, você poderá viver um dia de rei. Para isso, basta hospedar-se no Castelo Schönburg, que foi transformado em um luxuoso hotel em 1957. Apesar de enorme por fora, são apenas 24 quartos. E que quartos... A decoração faz qualquer um se sentir na era medieval. 
Foi nesse castelo que surgiu a lenda das “Sete Virgens”, que fala sobre sete lindas irmãs que lá moravam. Ricos cavaleiros vinham constantemente à nobre residência pedir a mão das moças ao pai delas, o conde de Schönburg. Mas, as exigentes donzelas sempre encontravam algum defeito nos pretendentes: gordos demais, baixos demais, feios demais... Para pôr um fim no mi-mi-mi das jovens, o pai convidou diversos cavaleiros de uma só vez para que as filhas, enfim, escolhessem um marido. Quando os convidados chegaram, as adolescentes evaporaram como um passe de mágica. De cima do burgo, o pai desolado viu as garotas fugindo de barco pelo rio e as amaldiçoou: “queria que todas vocês se transformassem em rochas”. O barco virou e as setes virgens afundaram nas águas do Reno. No verão, quando o nível das águas está mais baixo, avistam-se sete rochas no meio do rio: são as “Sete Virgens”. 

St. Goarhausen

Quando uma escarpa rochosa chamar sua atenção é sinal de que você está chegando à pedra de Loreley, a mítica donzela loira que enfeitiçava os capitães dos barcos com seu canto hipnotizante, a ponto de fazê-los colidir e naufragar. Na margem do rio, há uma estátua da voluptuosa Loreley. Vale dizer que nesse ponto o rio estreita-se bastante, tem apenas 113 metros de largura, fato que certamente propiciava maus bocados às embarcações no passado. 
Logo após a rocha de Loreley está a encantadora St. Goar, que poucos visitantes deixam de ir conhecer. A cidade abriga as ruínas do Castelo de Rheinfels, de 1245, que foi um dos mais poderosos do Reno, repleto de túneis e galerias subterrâneas. Do centro da cidade, leva-se 20 minutos caminhando até ele, por um belo caminho rodeado de parreiras. Depois da visita, não deixe de bebericar algo no café do burgo, com vista para o vale do rio. 
No fim da noite, St. Goar rende um passeio pelas estreitas e pitorescas ruas do centro antigo. É o melhor jeito de continuar com o clima carpe diem antes de encarar uma degustação de vinhos em um dos produtores locais. Para acompanhar o vinho, prove a Flammkuchen, uma massa bem fininha, preparada assada com creme de leite, cebolas e bacon. 

Koblenz

Aqui está o clímax da jornada: a charmosa cidade de Koblenz, fundada por romanos há cerca de dois mil anos, no encontro das águas do Reno com o rio Mosela. A grande atração é o teleférico que leva à fortaleza Ehrenbreitstein no cocuruto de um morro, a 118 metros acima do rio. Lá de cima, assiste-se, de camarote, ao vaivém dos transeuntes em Koblenz e ao tráfego de barcos em ambos os rios. 
A fortificação está voltada para o ocidente, de onde chagavam os inimigos. No caso, eram os franceses que invadiram a cidade em 1797, durante as guerras napoleônicas. Somente em 1815, com o Congresso de Viena, a fortificação foi devolvida ao governo da Prússia e o Kaiser Guilherme III levou a sério o desafio de torná-la a mais poderosa fortaleza já existente, terminando-a em 1832. Atrás das muralhas, há um hostel, dois restaurantes e o museu Landesmuseum, com uma exibição sobre a economia da região.
Exposições, aliás, não faltam na cidade, mas elas disputam atenção com as movimentadas margens do Reno e do Mosela, recheadas com cafés, restaurantes e jardins magníficos, muitas vezes repletos de flores púrpuras de lavandas, conforme a época do ano. Para aqueles que quiserem trocar a natureza pelas artes, o Museu Ludwig oferece quatro andares de arte contemporânea franco-alemã. A exibição está localizada em uma casa do século 12, da antiga ordem dos cavaleiros teutônicos, em frente a um grande gramado, onde os moradores se espalham para aproveitar a tarde. 
No centro da cidade, um pouco distante dos encantos bucólicos do Reno, está o Fórum Confluentes, espaço moderníssimo de 1.700 metros quadrados onde arte e cultura se encontram no mesmo local. Nesse prédio de seis andares há restaurantes, o Museu do Vale Médio do Reno, a Biblioteca da cidade e a exposição megainterativa Romanticum, em que os visitantes fazem uma simulação de viagem pelo Reno em um barco a vapor.
É no centro de Koblenz, o lado urbano e moderno da cidade, que deixamos o  mundo bucólico dos castelos e lendas do Reno para trás. Mas pode estar certo de que a lembrança dos vilarejos medievais não se apagará tão facilmente da sua memória, assim como não se apagará jamais o sabor suave do vinho branco ou a imagem do rio seguindo seu curso em meio a montanhas e parreiras. Você pode ir embora e dar adeus ao Reno, mas ele, o Reno, nunca mas irá abandoná-lo. Vai acompanha-lo para sempre. 

Para ir mais Longe: De Koblenz a Colônia