quarta-feira, 5 de outubro de 2016

Veneza em Hamburgo - Alemanha

Estreou sábado passado, no Bucerius Kunst Forum, a mostra “Veneza, a cidade dos artistas”, em cartaz até janeiro de 2017. Sim, esse post é sobre uma exibição aqui da região nórdica e não terá comparações esdrúxulas do Alster com o Grande Canal, dessas que de tempos em tempos somos compelidos a fazer! Já existe a Veneza do Leste (Praga), a de Portugal (Aveiro), a da Escandinávia (Estocolmo) e não serei eu a criar a da Alemanha! De volta ao que interessa. Embora eu ainda esteja na fase de descoberta e me deixando seduzir por Hamburgo, a pequena italiana dentro de mim não aguentou ignorar a vernissage para encarar algo muito mais “Deutsch”.
A exposição em si não aborda a tradição da escola veneziana de artes, mas sim a relação da cidade com a pintura. Como os canais, pontes e procissões inspiraram diversos artistas desde 1500 até o começo do século 20. Uma transformação do modo de ver a urbe de Canaletto às experimentações de Turner e Monet. Não que eu morra de amores por Veneza. Acho-a tão bonita que se torna até melancólica. Sempre. E a massa de turistas e os preços altos nos fazem oscilar da melancolia para a irritação (onde já se viu uma Bialetti custar 70 paus?). Perceberam que estou em negação, né? Acontece. 
Minha teoria é que cada um tem uma Veneza só sua. Essa é a principal motivação para visitar a exposição, contemplar cada quadro e achar a cidade que procuramos em nosso imaginário. O cronista italiano, Contardo Calligaris, disse peculiarmente em uma crônica que Veneza é habitada por espíritos. Ele argumentava que a lembrança dos mortos é essencial para saber quem somos. E arremata: “as ruas venezianas são abarrotadas por fantasmas do passado, numerosos demais para que eu enxergue os turistas, por mais que eles circulem em hordas”.
Meu antepassados não estão por lá (pelo menos não os que me importam). Fico então só com as boas lembranças de uma garota de 22 anos, com pouca grana no bolso, tentando descobrir o que tinha de tão especial e atraente naquele misterioso emaranhado de canais. Tudo muito mais simples que os futuros retornos, só com uma garrafa de vinho comprada no supermercado e degustada, no gargalo mesmo, ao balangar de pernas sobre as águas. E envolta por um abraço, claro!


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