domingo, 24 de abril de 2016

Norte do Vietnã: um roteiro imperdível pelo vale Mai Chau

Pé na Estrada - Parte Um

Depois de alguns dias ouvindo o zunzunzum de motocicletas e buzinas, rebolando para atravessar as ruas em Saigon ou Hanoi, fugir para um oásis natural e idílico pode ser um sossego para os aventureiros. Mais do que descansar a mente, trata-se de conhecer a vida local longe dos grandes centros urbanos. O passeio começa às 8h da matina, de Hanoi, a 160 KM do Vale de Mai Chau, nosso destino final. O guia, de nome complicado de pronunciar e um semblante zen que Deus lhe deu não entendia o porquê gostaríamos de trocar dinheiro. Segundo ele, não haveria gastos no trajeto que se descortinaria ao longo dos próximos dias. 
Embora 160 KM é uma distância que qualquer vovozinha faria em duas horas dirigindo, as condições das estradas no país não são lá essas coisas. Sem contar com os pit stops ao longo do caminho. Aliás, o primeiro deles é um casamento. Ao longo da estrada, ao entrar e sair dos vilarejos, há diversas festas rolando no sabadão. Como a gente sabia? Dá para notar pela decoração típica dos salões, improvisados nas garagens da casa dos pais. Um monte de fitas multicoloridas, fotos do casal e um ar de bailinho de bairro da década de 80. E foi assim mesmo que entramos de bicão num casório. Só chegar, cumprimentar os pombinhos, deixar uma “lembrancinha” na caixona de doações e tomar uma birita com algum local felicíssimo que chega lhe oferecendo uma garrafa! 
De lá partimos para uma feira de uma minoria thai, bem no topo de uma montanha. Além da facada no meu coração vegetariano (olha só essas carnificina, fresquinha, aí da foto!), há um monte de guloseimas para experimentar. Foi meu primeiro contato com o arroz assado dentro do bambu. Só colocar um salzinho e mandar ver. Difícil foi me concentrar na tarefa sendo observada por uma vaca curiosa atrás de mim, com aqueles ares de quem goza de uma garota urbana fora do seu habitat poluído. Se pudesse, ficaria na região muito mais tempo como experiência antropológica. Estávamos lá, julgando tudo diferentão e interessante, fazendo imagens de comidas, roupas, pessoas, até que notamos um casal nos fotografando discretamente. Não sei bem o que eles acharam novidade, mas é tudo uma questão de perspectiva. 
Seguimos, então, para a vila Mai Hich, local do pernoite, em uma espécie de pensão. Na parte de cima da choupana de madeira e palafita, havia um cômodo comum para alojar todos os visitantes. Mas cada um recebia seu colchão, travesseiro e mosquiteiro. Banheiros e chuveiros ficavam na parte de baixo, do lado de trás da casa. 
Antes do entardecer saímos em um passeio de bicicleta pelo vale Mai Chau, em meio a inúmeros campos de arroz. Quando as famílias têm um pouco mais de condição financeira, um búfalo d´água ara os campos. Na falta do animal, os camponeses é quem colocavam as mãos na massa, protegidos do sol com os típicos chapéus em forma de cone. Em geral, mulheres, uma vez que naquela época do ano, em janeiro, os homens seguiam para Hanoi em busca de emprego. 
Passamos por uma escolinha de Kung Fu, vimos as crianças treinarem ao melhor estilo Bruce Lee, ou, na real, atrapalhamos mesmo a aula com fotos e tchauzinhos, enquanto a molecada se desconcentrava com a curiosidade! Na volta, paramos em frente a uma casa que, aparentemente, preparava uma festa. Segundo nosso guia e tradutor, a família terminara recentemente a última construção de um cômodo e queria celebrar. Alguns homens estavam em uma espécie de lago, com água até a cintura, pegando peixes. 
Com o fim do dia, o silêncio domina o vale. Algumas crianças na estrada nos olha com curiosidade. Não há iluminação nas ruas e o sistema elétrico das casas (quando há) é um pouco precário. O programa são os cachos de bananas nanicas pendurados no teto de madeira da pousada. Sobremesa para degustar ao lado de fora ouvindo o silêncio da noite. Sim, o dia termina no campo lá pelas 21h, mas dormir cedo é uma boa ideia para encarar as trilhas pela reserva natural de Pu Luong assim que o sol raiar. 


Nenhum comentário: