sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Templos do Cambodia: uma viagem por Angkor, Siem Reap e o lago Tonle Sap

Templos invadidos pela força da natureza, cabeças imensas do Buda, dançarinas protetoras cravadas nas rochas, esplêndidos nascer ou pôr-do-sol, monges, vilas flutuantes, pagodas e tantos outros sabores do país.

Obs.: sabe quando o pôr-do-sol é tão incrível que até um monge (aqueles que andam descalços mesmo) sacam um spartphone do bolso para retratar o momento? :)


Cambodia - Janeiro de 2016! Angkor, Siem Reap, Tonle Sap lake from Regina Cazzamatta on Vimeo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Sul da Alemanha: Munique e Rota Romântica na Alemanha - como planejar um ótimo roteiro

Munique & Rota Romântica — Onde vivem os sonhos

Uma viagem de 12 dias pelo trajeto turístico mais famoso da Alemanha que leva da pulsante capital da Baviera (e da cerveja) às pequenas e mágicas cidades que parecem congeladas numa fábula dos irmãos Grimm

(Texto originalmente publicado pela Revista Viaje Mais! Dezembro de 2015)

      Pairando no alto de uma montanha, por vezes surgindo como se fosse um delírio da mente por se esconder em meio à nevoa e à densa vegetação dos Alpes, o Castelo de Neuschwanstein magnificamente enfeita o panorama de Füssen. Construção mais conhecida do sul da Alemanha, o castelo foi a concretização do sonho — ou seria um devaneio? — do sensível rei Ludwig II, que pessoalmente se juntou a um cenógrafo para planejar os suntuosos ambientes do local. Sim, foi um cenógrafo que elaborou o projeto monumental, iniciado em 1869 e nunca efetivamente concluído, o qual, inspirado na obra do compositor Richard Wagner, celebra a mitologia do país. A parceria entre um monarca com tendências megalomaníacas e um profissional com alma de artista, e liberdade para criar, só podia dar no que deu: um castelo para lá de majestoso, cênico e riquíssimo de detalhes, que parece saído dos contos de fadas. Ou melhor, das fábulas dos irmãos (alemães) Grimm. Do estilo às muitas histórias que rondam o local, tudo faz jus ao roteiro de sonhos em que a construção está inserida, a Rota Romântica, uma das viagens mais lindas e desejadas pelos turistas em solo europeu.
O monumental Neuschwansteinm, em Füssen
       O trajeto começa na região da Francônia, na cidade de Würzburg, grande produtora de vinhos brancos e casa do magnífico Residenz, um gigantesco, e reluzente, palácio barroco que é o primeiro presente recebido na Rota Romântica. O passeio segue então para o Estado da Baviera, e passa por quase 30 lugarejos, incluindo a perfeitinha Rothenburg ob der Tauber, um dos melhores exemplares dos cenários à la histórias infantis e um vilarejo tão colorido e enfeitado que os alemães dizem ser um local onde se pode celebrar o Natal o ano inteiro. A viagem termina em Füssen, aos pés dos Alpes, já na divisa com a Áustria, que não contente em hipnotizar o olhar com Neuschwanstein, esbanja mais um castelo monumental, Hohenschwangau, onde Ludwig II passou os primeiros anos de vida. Encantadora e envolvente assim, a estrada, além dos ares idílicos, certamente evoca o que os locais chamam de Gemütlichkeit, mistura de aconchego, conforto e satisfação.
       Apesar de não fazer parte da rota, a pulsante Munique, por ser um dos principais pontos de chegada de turistas internacionais à região, deve ser acrescentado ao roteiro. Capital da Baviera e terra da Oktoberfest original, ela é garantia de ótimas experiências com seus museus, parques e palácios, além da culinária típica. Afinal, onde mais se forra o estômago no café da manhã com salsichas brancas, acompanhadas de um caneco de cerveja de trigo? Incluir Munique no roteiro é também uma forma de aproveitar em uma mesma viagem dois mundos totalmente diferentes, indo de uma urbe cosmopolita e abastada para vilarejos bucólicos e graciosos, que se mantêm tal qual são mostrados em pinturas da era medieval.

Dia 1 a 3 — Munique, um show de cidade

Igreja das Mulheres em Munique (Frauenkirche)
       Pode ser por causa das cervejas sensacionais da Oktoberfest, pela atmosfera moderna e vibrante desta que é uma das principais metrópoles alemãs ou ainda porque os münchners (nativos de Munique) são muito receptivos e bem humorados. Fato é que dez milhões de visitantes passam anualmente pela cidade e esbarram numa gente que sabe mesmo como levar a vida. Basta olhar como, nos dias quentes do ano, eles invadem, cheios de alegria, o sem-fim de áreas verdes, como o Englischer Garten (veja o box ao fim do texto), as 900 cervejarias e os 80 biergartens (jardins da cerveja, espaços, normalmente ao ar livre, dedicados à bebida).
Biergarten durante o verão - Jardins da Cerveja 
      Para se juntar a eles e começar a trocar uma ideia, é simples. Basta aprender duas palavrinhas mágicas na língua de Goethe: bier (cerveja) e kneipe (bar que se pronuncia knaipe). Como você é turista, essa dupla de vocábulos o levará a endereços como a cervejarias Augustiner e Hofbräuhaus. Esta última surgiu, há 400 anos, como um bar para atender a realeza e, hoje, está entre as mais conhecidas, e procuradas, cervejarias do planeta. Tanto é que, nos dias de pico, são vendidas pelo menos dez mil Maß, aquele canecaço que comporta a “módica” quantidade de um litro de cerveja.
Mariensäule ou Coluna da Maria, Munique 
       Outro ícone é a praça central (Marienplatz), onde se impõem o chamativo prédio neogótico da prefeitura, as duas torres da igreja das mulheres (Frauenkirche) e uma coluna (Mariensäule) com a padroeira da Baviera abençoando o vaivém lá embaixo. Mas é ao meio dia, em ponto — lembre-se de que você está na Alemanha—, que a praça lota de vez, quando uma legião de turistas se aglutina para ver o “show” que rola na torre do relógio da prefeitura. Por oito minutos 43 sinos entoam quatro melodias, enquanto bonecos de madeira se movimentam.
Vitrine da Karstadt
        Ainda por ali, grandes galerias de compras, como a Kaufhof e Karstadt, fisgam os shopaholics — e sempre há quem ignore o bom senso e adquira as roupas tradicionais da região, que mesmo os nativos só usam em eventos como a Oktoberfest. As compras literalmente mais gostosas, porém, são garantidas pelo mercado Viktualienmarkt, onde 140 lojas e barracas comercializam frutas, iguarias internacionais e produtos típicos, a exemplo dos famosos embutidos.
Uma Maß de cerveja — a caneca alemã de um litro
            Para continuar exercitando o estilo de vida local, a boa é prosseguir a bateção de perna no Parque Olímpico. Ele abrigou os jogos de 1972 e, mesmo para os padrões de hoje, é um colosso, composto por ginásios, alojamentos, um estádio e um lago —outrora usado nas provas aquáticas da olimpíada, a garotada hoje ali se diverte dentro de grandes bolas de plástico, enquanto os pais saboreiam uma cerveja no biergarten vizinho. 
Parque Olímpico - Munique 
     A área é vislumbrada por completo quando se sobe até o mirante panorâmico da Torre Olympiaturm, de 291 metros, que conta com um restaurante giratório e também faz parte do Parque Olímpico, assim como o complexo da monstruosa BMW. Num moderníssimo prédio, que emula um motor de quatro cilindros da marca, a fabricante de carros mantém a linha de montagem, um museu e um showroom, onde os visitantes podem entrar nos veículos, tirar fotos e pilotar um cobiçado “possante” — isso num simulador, que fique claro.
Showromm da BMW, Munique
          À parte os carrões da BMW (e a cerveja, claro), os moradores têm mais um grande orgulho: a equipe de futebol do Bayern, que, como o outro time local, o TSV 1860, joga na Allianz Arena. Ostentando um projeto arrojado, o estádio, que pode ser visitado fora dos dias em que ocorrem partidas, muda de cor conforme quem entra em campo. Se você o vir iluminado de vermelho, o time que comandará o espetáculo é o milionário Bayern, de estrelas como o atacante alemão Thomas Müller e o meia holandês Robben. Já a iluminação azul indica a presença do TSV 1860 em campo.
Estádio do Poderoso Bayern de Munique 
       Agora, para começar a entrar no clima de contos de fadas que permeará a próxima etapa da viagem, na Rota Romântica, visite os castelos da região. Em Munique, há dois. Um é o Residenz, maior palácio urbano da Alemanha e encantador por dentro — com sua câmara de tesouros, a sala e concertos que segue recebendo apresentações e o Teatro Cuviliés — e por fora: a vontade é ficar horas relaxando no jardim outrora usado pela corte. Já no Nymphenburg, que funcionava como residência de verão da realeza, nasceu o rei mais amado e controverso da Baviera, Ludwig II.
Jardins do Palácio Residenz de Munique
       Ainda no clima de esquenta aposte numa excursão à ilha de Herren, no Lago Chiemsee, adquirida pelo monarca em 1873. De Munique, gasta-se cerca de uma hora de trem até a cidadezinha de Prien am Chiemsse, onde se pega um barco ou ônibus para chegar a ilhota que guarda o castelo Herrenchiemsse, mais um impressionante exemplo da megalomania de Ludwig II. A construção, que custou ainda mais do que Neuschwanstein, é a prova máxima do fascínio do rei pela cultura francesa: a Sala dos Espelhos é praticamente uma réplica do salão homônimo que existe em Versalhes, e abrigava os rega-bofes da corte. Candelabros, lustres de vidro e sete mil velas iluminam o delírio da majestade, que morreu em 1886, antes de o projeto ficar pronto, em circunstâncias que até hoje não foram totalmente esclarecidas.

Dias 4 e 5. Würzburg — a joia barroca que marca o começo da Rota Romântica

Palácio Barroco (Residenz) em Würzburg
      Viajar pela Rota Romântica, recheada de cidadezinhas fofas e que parecem aprisionar o passado medieval nas ruas de pedra e nas construções típicas ultraconservadas, é como chegar a um universo paralelo, que parece estar a anos-luz da realidade moderna. Como ninguém quer despertar abruptamente desse sonho bom ou deixar que o conto de fadas termine antes da meia-noite, o ideal é passar de um a dois dias em cada local, dependendo da quantidade de atrações que cada vila tem a revelar.
       Os mais apressados podem ver bastante coisa em poucas horas, principalmente a bordo do ônibus da Europabus, empresa que oferece um roteiro que pinga de cidade em cidade do trajeto. Mas, para curtir a vizinhança como ela merece, num ritmo mais slow motion, nada como flanar lentamente pelo labirinto de ruelas e sentir a magia de cada lugar. Mesmo os amantes da velocidade, que pretendem abusar das autobahns vão entender que a boa é desacelerar assim que se alcança Würzburg, a 276 Km de Munique e onde o tour oficialmente começa.
Rio Main clicado da Marienbrücke (Ponte da Maria)
      Por conta de sua beleza — Würzburg se esparrama entre morros repletos de parreiras, à beira do Rio Main —, o escritor alemão Hermann Hesse (1877-1962) disse que, se pudesse escolher seu local de nascimento, optaria pela cidade. Não é difícil entender por quê. A começar pelo Palácio Residenz (a urbe, como Munique, tem uma construção real chamada Residenz), uma das estruturas barrocas mais exuberantes do país, tombada pela Unesco e que já dá uma senhora mostra do poder de sedução da cidade.
Jardins do Palácio Residenz, em Würzburg 
        O complexo, envolto por um enorme e vistoso jardim, serviu de residência aos bispos-príncipes a partir de 1720, que não pouparam no quesito ostentação ao ornamentar o palácio, tal como fizeram na monumental escadaria arqueada que recepciona os visitantes no interior da construção. Eles trouxeram ainda um artista de Veneza, Giovanni Tiepolo, para decorar o teto acima dos degraus, criando o maior afresco do mundo, uma representação dos quatro continentes. Outros símbolos de opulência são o gabinete dos Espelhos, onde tudo que reluz é ouro, e a igreja outrora usada pela corte (Hofkirche). Anexa ao complexo, saltam aos olhos suas colunas de mármore e a faustosa decoração dourada, num total contraponto com os singelos anjinhos que seguram uma coroa no topo do altar. O Residenz é tão grande que, à parte esses cômodos que podem ser visitados, o palácio abriga ainda museus, faculdades e até órgãos governamentais.
Ponte Marienbrücke, em Würzburg 
       Para celebrar essa ode ao bom gosto que pontua os monumentos locais, vá até a Ponte Alte Marienbrücke, que descortina um baita visual do Rio Main e da fortificação Marienberg. Uma vez ali, peça uma taça de vinho riesling ou müller-thürgau produzido pelas vinícolas da região, à venda nos quiosques que alguns restaurantes mantêm junto à ponte. E, por falar na bebida de Baco, o panorama fica ainda melhor morro acima, ao se tomar o rumo da cidadela, quando se vê Würzburg mergulhada entre colinas e plantações de uvas. É um deslumbre só.

Dias 6 e 7. Rothenburg ob der Tauber — a grande estrela medieval

A medieval Rothenburg ob der Tauber - a estrela da Rota Romântica
      O esperado mergulho num cenário tal qual aquele que aparece nas histórias infantis e que efetivamente dá o tom da Rota Romântica ocorre 64km adiante de Würzburg, em Rothenburg ob der Tauber, que tem os “pés” graciosamente fincados na arquitetura tradicional da Idade Média. Um dos municípios medievais mais bem preservados da Europa, o que não é pouca coisa diante do “acervo” europeu nesse quesito, Rothenburg exibe uma profusão de coloridas casinhas típicas, as Fachwerkhäuser, caracterizadas pelas estacas de madeira que sustentam a estrutura e pelo telhado de tijolos vermelhos, num estilo que, no Brasil, é chamado de enxaimel. O que já é fofo de tudo fica ainda mais lindo nos dias de verão, quando floreiras com rosas vermelhas dominam as janelas, e no auge do inverno, época em que os telhados cobertos de neve contrastam ainda mais com o tom vibrante das fachadas.
Fachwerkhäuser em Rothenburg ob der Tauber — típicas casinhas da Rota Romântica
        O formoso centro histórico é envolvido por uma fortificação circular de 2,5 Km, ao longo da qual se sucedem 42 torres de vigilância. Passear sobre a muralha é indispensável, e dá uma boa dimensão do charme da vila. Para um cenário ainda mais fascinante, encare os 20 degraus da torre da prefeitura, na praça do mercado, que revela o panorama cortado pelo rio Tauber e a vastidão de telhados bordôs das construções. Além das barracas de comidas típicas, a praça guarda a antiga adega do conselho, prédio de 1446 onde hoje funciona o posto de informações turísticas. Nele está o famoso relógio do Meistertrunk (gole de mestre), que homenageia o burgomestre (cargo equivalente a prefeito na Idade Média) Georg Nusch, salvador e herói da cidade.
Muralhas de proteção em Rothenburg ob der Tauber, Rota Romântica
          O tal prefeito é o personagem principal de uma das lendas mais festejadas no vilarejo. Conta-se que o general católico Tilly e 60 mil comandados tomaram a protestante Rothenburg durante a Guerra dos Trinta Anos, em 1631, prendendo e sentenciando à morte Nusch e diversos companheiros. Para tentar apaziguar os invasores, a cidade teria oferecido a Tilly certa quantidade de vinho. Embriagado depois de tomar umas, o general lançou um desafio: se alguém da comunidade virasse uma botelha com três litros e um quarto da bebida, ele pouparia a cidade. Foi então que o prefeito Nusch entrou em cena, cumpriu a façanha, salvou Rothenburg e segue sendo lembrado até hoje, seja numa encenação apresentada durante o Pentecostes ou diariamente, das 10h às 22h, pelos personagens que “saem" do relógio do Meistertrunk.
Schneballen empilhados em Rothenburg ob der Tauber
           Outra tradição no entorno da praça é degustar os doces Scheneeballlen (bola de neve), tiras de massa entrelaçadas, fritas e passadas em açúcar, canela, chocolate ou outros confeitos, muitas vezes encontrados literalmente empilhados no balcão das docerias. E é mesmo uma delicia entrar nessas confeitarias e lojas do centrinho, cujas prateleiras também levam os adultos à loucura com ursinhos de pelúcia caríssimos costurados à mão, as bonecas de porcelana em trajes típicos e os relógios-cuco de madeira.
Kriminalmusem e os castigos da era medieval 
      Nos arredores da praça também está o celebre Kriminalmuseum, um dos museus de jurisprudência mais significativos da Alemanha. A descrição parece chata, mas a mostra é bem legal, reunindo instrumentos de tortura e imagens dos peculiares castigos aplicados na Idade Média. Por exemplo, a mulher que descia a lenha no marido tinha como pena andar publicamente montada num burro, só que sentada ao contrário. Já um padeiro que tentasse vender o pão menor ou mais leve aos clientes era trancado numa gaiola e despejado na água inúmeras vezes, enquanto um vassalo que quebrasse a confiança de seu soberano era obrigado a carregar sempre um cachorro, símbolo de lealdade, nas costas.
A lojinha natalina Käthe Wohlfaht Weinachtsdorf
      Agora tortura mesmo é escapar de comprar umas coisinhas na loja Käthe Wohlfahrt Weinachtsdorf. Tomada por luzes e enfeites para lá de fofos, ali é como se fosse Natal o ano inteiro. Além de uma boa oferta gigantesca de presépios, bolas de vidro pintadas à mão e calendários do Advento (que, a partir do domingo do Advento faz uma graciosa contagem regressiva para o Natal), a loja abriga um museu que mostra a evolução dos enfeites natalinos ao longo dos séculos — e ninguém sai do clima porque, qualquer que seja a época do ano, sempre está tocando Jingle Bells.

Dias 8 a 10. Dinkelsbühl e Augsburg. O lado menos conhecido, e igualmente encantador, do roteiro

Muralhas de Dinkelsbühl na Rota Romântica
        Os castelos, o casario que mais parece uma sequência de casas de boneca, as robustas muralhas fortificadas e as pontes de pedra que cortam rios bucólicos estão no imaginário dos turistas em relação à Rota Romântica, mas, até mesmo por conta dos nomes complicados das cidades, boa parte das pessoas nem imagina em que lugarejos esses adoráveis tesouros estão “escondidos”. Por isso, Viaje Mais dá mais esta ajuda: guarde o nome, e visite, Dinkelsbühl, a 40km de Rothenburg.
         Fundada no século 8 por reis carolíngios que ali ergueram uma residência real, Dinkelsbühl tem como trunfo ter saído imaculadamente preservada de todas as guerras que assolaram suas vizinhas. Por isso ostenta um astral superautêntico, sentido ao zanzar pela muralha medieval, que conta com 18 torres e quatro portões e propicia uma bonita vista da cidade. Saçaricar do lado de fora da fortificação também rende altos visuais: as águas correm por baixo de minipontes, que ligam a cidade menos antiga, digamos assim, às muralhas que protegem o coração do centro histórico. Para desfrutar, sem pressa, dessa atmosfera, sente-se no Café Am Münster, colado à principal igreja, a gótica Münster St. Georg.
Café am Muster, em Dinkelsbühl, Rota Romântica
         A história por trás do fato de Dinkelsbühl ter sido poupada de tantos conflitos ganha vida na Haus der Geschichte (casa da história), antigo prédio da prefeitura que hoje oferece uma exposição mostrando a trajetória local de contendas e dos tempos de paz, com uma seção dedicada somente à  Guerra dos Trinta Anos e à arte produzida na região. Uma novidade é a parte que trata da caça às bruxas no período medieval. Além dos instrumentos para torturar as “feiticeiras”, o espaço mostra os processos de condenação que atingiram pelo menos nove milhões de pessoas entre 1430 e 1700. Fazendo jus aos assunto, a Weib´s Bauhaus é uma cervejaria em que a bebida é feita só por mestres cervejeiras mulheres e onde os copos trazem bruxas estampadas.
        Para dar uma agitada no passeio, o próximo pit stop é a maior cidade da região: Augsburg, a qual, com cerca de 170 mil habitantes, também é uma das mais antigas da Alemanha, fundada há dois mil anos pelo imperador romano Augusto.
           Na praça principal, que desde tempos remotos marca o coração da urbe, fica o cartão-postal local, a prefeitura de estilo renascentista, marcada por duas cúpulas esverdeadas e a águia alemã entre elas. No interior, aberto à visitação, a sala de banquetes salta aos olhos pelos detalhes de ouro, ainda mais reluzentes com os raios de luz que entram pelos janelões de vidro. Na praça também se impõe a Torre Perlachturm, que garante um visual daqueles a 70 metros de altura. 
           Na toada de ostentar superlativos, Augsburg ainda é dona do conjunto habitacional mais antigo do mundo, Fuggerei, uma doação de Jakob Fugger, conhecido como “o Rico”, para a Igreja católica, no século 16. Atualmente, 200 pessoas vivem ali, em 67 charmosas edificações coloridas que abrigam 140 apartamentos, além de fontes e ruelas de pedras. Num dos apês funciona o Fuggereimuseum, que traz uma exibição mostrando o dia a dia dos moradores nos difíceis tempos sem água encanada e aquecimento.
            Com uma doação do naipe do conjunto Fuggerei, não é de assustar que “seu” Fugger descanse num belo mausoléu na Igreja de Santa Ana, de 1321, que abriga pinturas e obras valiosíssimas em pontos como a Capela dos Ouvires, decorada também de modo para lá de ostensivo.

Dias 11 e 12. Landsberg am Lech e Füssen. Despedida da Rota Romântica em altíssimo estilo.

         Tudo que foi vislumbrado até então na Rota Romântica é de um primor inquestionável, mas não há como negar: quando o assunto é magnificência, nenhum outro lugar ganha de Füssen, na fronteira com a região austríaca do Tirol e indissociável de uma das atrações mais geniais e emblemáticas do rei Ludwig II, o Castelo de Neuschwanstein, fruto da mania de grandiosidade de opulência do monarca.
Castelo Hohenschwangau, onde Ludwig — o maluco — passou a infância
           Antes, porém, de dedicar todo o tempo e todos os ângulos possíveis para admirar o suprassumo dos castelos da Rota Romântica, vale visitar um vilarejo esquecido, Landsberg am Lech. Não fosse pelo fato de Hitler ali ter escrito o livro "Minha Luta" enquanto esteve numa prisão no município, Landsberg seria ainda menos mencionada. Mas, exatamente por passar batido entre os viajantes, o local é um refúgio encantador, bem menos comercial. A muralha — sim, mais uma — às margens do Rio Lech exibe torres belíssimas, como a Bayertor, de estilo gótico tardio. A praça do mercado, com a Fonte Marienbrunnen e as casinhas típicas, também emana uma calmaria nem sempre desfrutada em outras partes do caminho.
         Não que Füssen não tenha uma vibe de cidade pequena e pacata. Mas, ali, dividi-se o vilarejo sempre com muita gente que, não raro, nem percorre a Rota Romântica e segue direto para lá só para ficar tête-à-tête com o símbolo máximo da vizinhança. Seja como for, tanta vontade de conhecer a construção monumental, e, de quebra, um pouco mais sobre a vida do controverso Ludwig II, se justifica. E Muito.
Estradinha de Füssen no inverno - Rota Romântica
        Com apenas 23 anos, em 1863, Ludwig assumiu o trono da Baviera e a partir daí começou a erguer seus castelos (no plural mesmo). Seus dias como governante seguiram até 1871, quando Otto von Bismarck criou o Reich (império) alemão e os tempos da Baviera como estado independente chegaram ao fim, de modo que o rei virou um mero fantoche. Cada vez mais isolado, ele se entregou à bebida. Esses fatores, aliados às tendências megalomaníacas e à fixação pela cultura francesa, talvez fundamentem os gastos mirabolantes em seus castelos fabulosos, entre os quais Neuschwanstein é a obra-prima de seu reinado ilusório — e que viria a inspirar o criador-mor de um reino da fantasia, Walt Disney, a conceber o ícone máximo de seus parques, o Castelo da Cinderela, em Orlando.
          Pairando imponente e vaidoso sobre as montanhas de Algäu, Neuschwanstein tem como maior e mais luxuoso cômodo o Salão dos Cantores. O recinto, que retrata cenas medievais com afrescos que remetem à ópera Tannhäuser, de Wagner, foi usado para festas e eventos musicais e, fazendo jus ao passado glorioso, todos os anos, em setembro, recebe concertos disputadíssimos. Dá para passar ainda pelo quarto de Ludwig, tematizado de acordo com a ópera Tristão e Isolda, também de Wagner, que foi amigo próximo do rei, e pela Sala do Trono, cujo piso de mosaico junta dois milhões de pedrinhas e, curiosamente, não tem um trono.
       Não contente em fascinar os viajantes com um cartão-postal dessa relevância, Füssen esbanja outro castelo. É o Hohenschwangau, onde Ludwig passou os primeiros anos de vida e cujo interior, que preserva o mobiliário original, pode ser visitado. Foi aí que o soberano se encontrou pela primeira vez com o compositor e ídolo Richard Wagner, que tinha a tarefa de o entreter ao piano. Quando não estava imerso nesse mundo conduzido pelas artes, o rei, com uma luneta, vigiava a construção de Neuschwanstein.
     Para suspirar com uma vista espetacular dos dois gigantes ao mesmo tempo, já que o Neuschwanstein e Hohenschwangau ficam em pontos diferentes das montanhas, caminhe 30 minutos pelo Monte dos Calvários (Kalvarienberg). Se bem que ainda mais fabulosa é a vista da obra-prima de Ludwig, de Füssen, vislumbrada da Marienbrücke (Ponte da Maria). Caso essa imagem, ou qualquer outra descortinada ao longo do roteiro, vier à mente na volta ao Brasil, é certo que um sorriso há de brotar. E aí você terá certeza de que, ao viajar pela Rota Romântica, passou por um lugar onde o sonho e a fantasia ainda bem, permanecem vivos.

Uma viagem para o Verão. E o Inverno também. 

Surf de Rio, no parque Englischer Garten, Munique 
     Com atrações para todas as estações, não há tempo ruim para explorar Munique e a Rota Romântica. Quem chega à região no calor pode se divertir no Englischer Garten, em Munique. O parque à beira do Rio Isar é uma delícia, e a galera se esbalda na água. Nessa época faz sucesso o surf de rio, onde os praticantes aproveitam as ondas naturais formadas pela força das águas quebrando contra as pedras.
Verão no Rio Isar, Munique 
       Como os alpes cortam a Baviera, quem estiver por lá no inverno encontrará um belo abrigo em cidades como Garmisch-Partenkirchen, a 1h20 de Munique, terra de pousadas charmosas e base para você explorar de esqui a vizinhança, localizadas na Montanha Zugspitze, a mais alta da Alemanha, a 2.962 metros. Teleféricos levam os visitantes ao alto da formação, onde, além de pistas de todos os níveis, há diversos bares e restaurantes.

Cidadezinha de Garmisch-Partenkirchen aos pés dos alpes da Baviera
      Outro passeio bacana em Garmisch, em qualquer estação, é o Castelo Linderdof. Mais uma extravagância de Ludwig II, a construção é uma tentativa de copiar Versalhes. No palácio, um dos destaques é um espaço dedicado à música, a Gruta de Vênus, um oásis com lago e cascatas artificiais que reproduz o cenário do primeiro ato da ópera Trannhäuser, de Wagner, compositor que acabou se tornando próximo do monarca.

Placa do Biergarten mais alto da Alemanha, no Zugspitze

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