terça-feira, 2 de dezembro de 2014

IPhone e a esquizofrenia da comunicação

Meu telefone resolveu dar um mergulho no fim de semana. Voltou mudado, cheio de personalidade. Negou-se a fazer as tarefas extras exigidas a ele e apagou o Wlan. Voltou a sua essência e passou a fazer somente ligações. Ok, estou exagerando. Ele ainda batia umas fotinhos a contra gosto e, quando o 3G não estava empacado, permitia-me acessar as mídias sociais. Tentei ressuscitá-lo, preparei uma cama de arroz para absorver a umidade, deixei-o dormir sobre o aquecimento, mas, mesmo assim, ele rompeu com a internet.


Digressão. Ainda me lembro da primeira vez que fui estudar em um outro país, há dez anos. Não tinha laptop. O remédio era ficar na fila dos quatro computadores da sala de informática da escola e se estapear para conseguir enviar um email para casa. What´s app? Facebook? Que nada! Orkut e olhe lá, mas os cinqüentões ainda não tinham aderido em massa. O esquema mesmo era comprar um cartão telefônico que conectava uma central com meu orelhão para fazer uma chamada para o Brasil. Todo domingo eu avisava o John (o sujeito da central localizada sabe-se lá onde, que estava de plantão naquele horário) da minha necessidade de uma chamada a cobrar. Se eu não ligasse, não conversava com a família até a outra semana.

Pois que no fim de semana eu fiquei com um celular em mãos que só fazia chamadas! Mandei-o de volta para o produtor, que fará a troca do aparelho. Um processo que deve demorar cerca de dois dias. E eu terei de passar pela fase de abstinência. Como a engenhoca só telefonava, demorou anos para eu achar a rua da autorizada para entregá-lo. Nada de Google Maps. Também não conseguia acessar o site de transportes da cidade para ver com qual bondinho chegaria à outra oficina de celulares. As mensagens do What´s app travaram... Para fazer meu cadastro na loja, pediram meu número de telefone que ficaria inútil por dois dias. Depois de muita epopeia, deixei o aparelho lá. E percebi o porquê o ritmo das coisas era mais lento antigamente. Fui para casa me sentindo desprotegida. Se alguma coisa acontecesse, o que eu faria sem um smartphone?

Queria ligar para casa e avisar o horário do trem que pegaria. Não deu. Passei pelo mercado de Natal, pensei em fotografá-lo. Também não rolou. Queria saber a hora para decidir se iria ou não para estação. Há anos não uso relógio de pulso. Tive que reparar nos ponteiros do ponto de ônibus. Queria escrever para uma amiga e dizer que a brincadeira doeu no bolso... Mas não tinha facebook em mãos. Fui no trem inquieta, sem conseguir checar meus emails, postar nada no Instagram,  reclamar da vida nas mídias sociais ou ver a temperatura. Eu não usava nada disse há dois anos. Total necessidade induzida. Até para pedir pizza complicou! E agora não tenho mais meus dicionários em mãos!

Saudades de quando minha avó contava da época em que não havia televisão.


Nenhum comentário: