sábado, 6 de julho de 2013

Berlim Comunicativa



        Hoje é um daqueles dias que classifico típico da “geração Easy Jet”.  Acordar numa cidade, deixar as malas em qualquer luggage room, andar o dia inteiro, entrar em algum trem ou avião e chegar cansada para dormir em outra capital. A vida anda meio acelerada, o tempo caminha a passos gigantes. De volta a Berlim, custa-me acreditar que já não moro aqui há dois anos. Enfiada na longa e lenta linha U2 sentido Mitte, naquela sensação de “caminho da roça” decidi visitar o museu de comunicação. Não sabia bem onde ficava, mas graças ao meu aparato tecnológico, computador nas costas e smartphone em mãos, achei sem grandes dificuldades a Leipizger Straße. É uma travessa da Friedrichstraße, dava para ter achado sem a ajuda da BVG e seu aplicativo, só perguntando pra alguém mesmo.
        Fui recepcionada por três robôs. Um deles, muito educado e esquisitinho, me deu as boas vindas. Um outro caminhava constantemente atrás de uma bola e o terceiro mostrava imagens do prédio antigamente. Desfiz-me do computador, celular e máquinas fotográficas. É, deixei um pedaço de mim na chapelaria para poder fazer uma visita bem rapidinha e seguir para meu café favorito em Prenzlauerberg. Mesmo de passagem, a gente precisa ganhar tempo pra conseguir abraçar o mundo e matar as saudades de tudo.
        Malditos curadores! A mostra é tão boa e interativa, verdammt gut!, que perdi (ou ganhei) umas horas a mais em relação ao planejado.  Não vou contar muita coisa para não estragar a surpresa dos próximos visitantes. Mas digamos que voltamos um pouco no tempo. Na câmera dos tesouros, há um protótipo de telefone, o primeiro atlas da Bavária com dicas de viagem, o contrato mundial dos correios e um selo bem valioso só porque houve um erro de impressão e o bendito saiu azul e não verde. Tudo fica exposto em tubos pretos, que ao perceberem a presença curiosa de alguém, acendem as luzes e começam a falar! Impagável é a evolução dos meios de transportes usados pela DHL – da carroça, a Kombi, até chegar no caminhãozinho amarelão de hoje. As pessoas não andavam tanto por aí, mas sua cartas e pacotes já giravam pelo mundo.
       Lógico que a mostra chega a fase do rádio e da televisão, aborda a comunicação em tempos de guerra e coloca áudios bem legais – Thomas Mann falando da BBC, alertando o povo alemão contra o esquisito desenvolvimento político; o maluco do Goebbels dando um depoimento sobre as medidas anti-judaicas  e a declaração de libertação do país no fim da Guerra.  Tudo segue ainda mais adiante, até os tempos da internet.  Eu que estava livre do IPhone, minha  extensão corporal e conexão com o mundo, comecei a sentir um certo incômodo. Uma criança passou, olhou aqueles aparelhos de telefone giratório, colocou os dedões lá e ficou olhando pasma como se estivesse na era jurássica. Quase falei pra ela que tinha um na casa da minha avó, até com cadeadinho pra evitar o excesso de ligações dos netos adolescentes. Se estivesse com Smartphone por perto, fingiria que só pertenço a esse mundo e reprimiria o fato de ter tido contato com tamanha antiguidade.
            Vi objetos da minha relativa curta vida expostos na seção tempo. Caneta Bic, máquinas de escrever, vitrolas, pilhas.... como assim o Game Boy?!, bips, aparelhos de celulares que só fazem ligação, revistas.... Tudo bem, nunca trabalhei com máquina de escrever, mas eu já brincava de jornalista em uma. Tudo isso me fez rir, mas uma coisa levou-me de volta à infância. Mas acho que vou abrir um post só pra isso. Afinal, preciso de uma atividade pra ajudar o tempo a passar no trem. Agora já é hora de restabelecer minha comunicação com o mundo, me despedir dos robôs e partir. Como não dá para saber o que seria de uma jornada sem ICE, estou levando também os relatos de viagem do Mark Twain pra imaginar uma Alemanha (e um mundo) menos acelerada.

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