sábado, 26 de janeiro de 2013

O método, a Alemanha e uma relação de amor e ódio


Antes de embarcar de mala e cuia rumo à terras germânicas, o professor Kucinski, que dava aula na pós-graduação da PUC de jornalismo econômico, me perguntou que raios eu faria na Alemanha, afinal os brasileiros costumam estranhar bastante a vida por lá (ou por aqui). De fato, mesmo após 4 anos, continuo levantando as sobrancelhas, em tom de indagação, para muita coisa que observo. Mas, apesar das diferenças culturais, podemos dizer que fizemos alguns amigos. Engraçado é que praticamente a maioria deles tiveram alguma experiência no exterior. Estudaram, trabalharam, lecionaram em Londres, EUA, Brasil, África, Canadá e por aí vai. A observação serve até mesmo para professores que entram na lista dos favoritos. Não que a gente indague: „você já morou fora da Alemanha? Então pode ser meu amigo”. Essas coisas nós descobrimos com o passar do tempo, conforme a troca de experiências acabam sendo mais frequentes.  
Todo esse bla bla bla (preâmbulo, para falar bonito) é para dizer que tem sim muito alemão bacana, mas, às vezes, é difícil encarar a forma deles pensarem e agirem. Uma das coisas que mais me fascina (e irrita) é eles terem um método para tudo. Sim, tudo! Uma professora de alemão do DSH, se interferia nos nossos estudos, como se estivésemos no jardim da infância, para nos fazer grifar as respostas encontradas no texto com cores diferentes. Uma outra, era adepta das cartas. De um lado escreve-se o verbo no presente, atrás no passado. Depois embaralha-se as benditas anotações e sorteia-se aleatóriamente o vocabulário. Daí vem junto a explicação neurológica de como o cerébro só aprende as primeiras palavras da lista e, portanto, é bom mudar a ordem dos vocábulos. Mas, com o passar do tempo, a gente fica ainda mais profissional e vai parar no auge do inferno: nas aulas de metodologia para quem gosta (ok, e sabe) falar de método.
Só para ter uma ideia do tamanho da encrenca,  o desafio é construir categorias para interpretar 30 entrevistas feitas por pessoas diferentes. De modo pedante, algumas das benditas classificações saíram da teoria, pelo processo indutivo, sem muita discussão. Mas, o divertido mesmo são criar as definições a partir da empiria, pelo método dedutivo. Como? Num encontro com 12 pessoas, das 16h às 21h só para começar. Cena: -11 graus, neve em todo campus, tudo escuro, sombrio e vazio. Eu boquiaberta, ouvindo a discussão sobre a diferença de disciplina e auto-controle. São duas categorias diferentes que precisam de definições diferentes! Estava prestes a falar que disciplina era o que eu tinha em estar ali com o bumbum achatado há horas na cadeira ouvindo aquilo tudo e que auto-controle era o que eu estava a ponto de perder se a coisa não andasse! Se tudo isso vai funcionar ou não, eu ainda não sei. Mas já há um catálogo para a interpretação com 70 itens. Assim, bem consensual, com discussões sem fim. E não tinha vinho nem baralho para animar a festa! O máximo da folia foi pedir umas pizzas porque ningém é de ferro! 
Chego em casa depois da reunião. Exausta. Olho a mesa e penso no tamanho da encrenca. Uma prova no começo de fevereiro sobre 4 seminários dos semestres anteriores. Total de 33 textos para revisar. Um trabalho final, um relatório de pesquisa e mais uma prova em abril sobre a análise teórica de 8 livros (faltam seis para a pilha terminar). E o que recebo via Facebook? Sim, eu não tenho nem auto-controle, nem disciplina e perco um tempão nas redes sociais! Uma matéria (daquelas do tipo de serviço) do „Die Zeit” com MÈTODOS para se preparar para prova!
Não sei como eles conseguem, mas tenho que admitir. Não é que, às vezes, isso tudo funciona? No fim de semana passado, um alemão de Oberhof, colocou dois brasileiros que nunca ficaram sobre um esqui, para descer montanha abaixo! Como? Com aulas daqueles bem bobas, com etapas estranhas que a gente quer logo pular para ir ao que interessa. É claro que não pulamos nada e seguimos os exercícios (mesmo os que pareciam idiotas) passo a passo até conseguir equilíbrio, entrar e sair da pista e descê-la, assim concentrados como aprendemos, brecando e olhando em direção ao treinador.
Ainda estou esperando que eles arrumem um método de deixar as pessoas mais animadinhas no inverno!

Obs.: só para constar: a palavra Konstrukt anda me dando arrepios! 

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