quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Feirinhas de Natal na Alemanha

Fácil assim resumir um típico mês de dezembro: temperaturas gélidas, alguns flocos de neve começam a dar as boas vindas e a escuridão reina a partir das 16h. As mãos já não se separam de suas luvas e os dedões dos pés voltam a se sufocar entre meias e botas de inverno. Nada mais propício para o período de hibernação regado a muitos filmes, livros e vinhos. Mas, apesar do clima de recolhimento, as feirinhas de Natal ainda são uma grande motivação para os ursos saírem da toca!  E o que não seria de dezembro sem os Weihnachtsmärkte e os rituais natalinos!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Alemanha Central — Uma Noite no Wartburg, o castelo do Lutero

Razões não faltam para conhecer o Wartburg, no topo da cidade de Eisenach. Trata-se do segundo ponto turístico mais visitado do Estado da Turíngia, perdendo somente para Weimar, a cidade do classicismo alemão. Aquelas muralhas que desde 1999 são tombadas pela Unesco, imperam na paisagem em meio à floresta (a Thüringer Wald) desde 1157. E elas não testemunharam pouca coisa, não! Ali, acolhido no burgo, Lutero traduziu parte da bíblia para o alemão, fato que dá à edificação uma aura histórica para lá de especial. Além disso, por estar bem no centro da Alemanha, a construção também se tornou um símbolo na reunificação do país. Mais um ponto a favor do passeio é a paisagem cortada pela floresta.

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Eurowings: Voos baratos e às cegas


          Você compraria um voo mesmo sem saber o destino? Somente a data de ida e volta poderia ser definida! Por quê? Bom, além de ser surpreendido com a revelação do local da viagem, a maior vantagem dessa opção é o preço: 33 euros por trecho. Surpreendentemente barato! Sabe aquela vontade de ver algo novo, conhecer uma cidade diferente, independentemente do lugar? Esse é o espírito. A ideia do Blind Booking, ou reservas às cegas, é da companhia alemã Germanwings, com base em Colônia.  

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Berlim - Dez melhores bares-cafés

A capital alemã sempre rende uma boa dose de saudosismo, nostalgia e suspiros em qualquer grupo reunido em volta a uma mesa de bar. Seja entre berlinenses, ex-moradores, turistas ou entre aqueles que sonham por lá aterrissar. Uma ilha no mundo alemão! Até arrisco dizer que é a melhor metrópole do mundo pra se viver: pequena (para os padrões brasileiros), com muita natureza nos arredores, gente do mundo inteiro, cheia de história, uma espécie de mulher vivida, cheia de marcas, a mãe de todos os improvisos. Pessoas com as mais diversas personalidades que buscam inspiração, estudam, trocam empregos fixos por projetos, arriscam uma nova etapa ou mudança, encontram um lar em Berlim. Conheci desde acadêmicos dedicadíssimos, até Djs, artistas, aprendizes da língua bisonha e estudantes. Não há outro lugar para se melhor embriagar de vida. E toda vez que contamos alguma história sobre a cidade, é inevitável que um desses bares e cafés estejam na ponta da língua. Então, aí vai, embora nem todos precisem concordar com a escolha.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Caminhada na Alemanha: o tal de Wanderung




"Se você quiser emplacar uma notícia sobre a Alemanha na primeira página do jornal – diz um repórter cinicamente – seria bom que a história tivesse um desses três itens: salsicha, cerveja ou nazismo”. Acabei de ler a frase do correspondente de um renomado jornal americano e vencedor do prêmio Pulitzer (pequeno detalhe) e pensei em como, inevitavelmente, nossos textos são carregados dos mais diversos estereótipos. Como gosto bastante de escrever sobre hábitos germânicos que julgo peculiar (dê uma espiadela na seção Deutsche Sache), pelo menos aos olhos de uma latina- americana, fiquei pensando em como descrever os costumes sem carregar o relato de clichês, embora eles sejam, muitas vezes, até engraçados.


Todo esse preâmbulo pra falar de um costume alemão, que, sim, será narrado por um paulistana sedentária. Uma coisa bastante popular por essas bandas é o chamado Wanderung! Trata-se de uma longa caminhada pela natureza, que pode ser belíssima conforme as estações do ano. Durante o outono é como perambular por um quadro impressionista, com folhas esvoaçantes vermelhas, laranjas e amarelas, destoando sob um céu bastante azulado. Por isso há sempre relatos das longas caminhadas feitas por Goethe em Etersberg ou do Einstein em companhia do coleguinha dinamarquês, o Bohr,  para se deixarem inspirar pelo ar fresco. A citação dos figurões germânicos é só para mostrar que o hábito da caminhada está enraizada há anos na cultura local. Eu nunca entendi bem o conceito até participar de uma efetivamente.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

A Festa da Cebola!


Nos tempos em que morava em Berlim, acho que seria capaz de romper em risos caso alguém me convidasse para a Festa da Cebola! É! A vida nos reserva cada surpresa. Foi da boêmia dos bares de Friedrichshain, Kreuzberg e Prenzlauerberg direto para Weimar que venho por meio desta promover nada mais nada menos que o Zwiebelmarkt, com um nome bem menos glamouroso após passar pela tradução: sim, a consagrada Festa da Cebola, sempre no segundo final de semana de outubro!  

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A Cathach Books


Todo mundo tem uma livraria pra chamar de sua. Mesmo para aqueles que não tem planos de adquirir nenhum livro, é um passeio agradável. Caminhar entre as prateleiras, ver os novos lançamentos, destaques, best-sellers na vitrine e até tomar um café folheando uma revista ou outra. Em São Paulo, a Livraria Cultura é uma das favoritas. Sempre que estou na cidade, quero matar a saudade. Além de ter ou conseguir praticamente todos os títulos, os vendedores estão super por dentro das áreas em questão. Lá nunca ocorreria, o que já me aconteceu na Saraiva. Queria comprar "A Interpretação dos Sonhos" para dar de presente e me mandaram em direção à seção de “Esotéricos”. Então tá, né? A da Vila é bem aconchegante, mas meio longinho pra mim.
Em Berlim, achei a Dussmann na Friedrichstraße. É um paraíso cheio de livros, CDs, vídeos, artigos de papelaria, guichês vendendo ingressos para shows e uma multidão de gente, dependendo do horário. A Thalia, em Weimar, é um pouco mais provinciana, mas quebra um galho. Todos esses exemplos são livrarias bacanas, cool, freqüentadas pelos estudantes de cada cidade, mas ainda têm um status normal. Andando pelos arredores da Grafton Street em Dublin, descobri a Cathach Books, uma livraria bem pequena, de fachada bordô, que passa quase desapercebida. Dá pra ficar horas lá, mesmo sabendo que não se comprará nem um mísero livrinho!  O lugar é um antro de clássicos da literatura irlandesa, com foco no século 20.
Mas bacana mesmo é existir a possibilidade de trazer para casa as primeiras edições dos livros ou versões para colecionadores. Um Dubliners (1914), do ano de 1917, custa 65 euros. Ta bom, é até pagável, mas, no fim das contas, o mesmo texto está disponível por 10 euros em versões de livros de bolso ou até de graça na internet! Um pouco mais salgada é a versão do Ulysses (1922), que ganhou ilustrações do artista francês Henri Matisse em 1935. A raridade não sai por menos de 375 euros. O problema de pagar esta quantia é o peso na consciência de desistir de ler. Afinal, tempo e coragem são precisos para encarar aquelas construções textuais de pontuação esquisitíssima. Brincadeiras à parte, só pra colecionador mesmo, já que a dificuldade não estará só na leitura, mas também no ato de carregá-lo. Esta versão parece um livro de fotografia grande e pesado! Poemas do Samule Becket, de 1961, uma edição restrita de cem exemplares, também pode ser adquirida pela bagatela de 1.250 euros. Jà as primeiras edições do Drácula (1897) chegam até 12 mil euros. Devem vir com alhos entre as páginas pra espantar os vampiros da época. 

Para quem não resistir e quiser trazer como souvenir ou livro de cabeceira há uma versão para colecionadores por 75 euros (esta aí em cima). Apesar de impressa em 2012 pela Constable (mil exemplares), o layout é parecido com o primeiro de 1897: capa-dura amarela e título vermelho em relevo. Há também uma cópia do contrato entre Bram Stocker e a editora, assinado por ele. 
Quem quiser pode procurar a raridade preferida no site deles: http://www.rarebooks.ie/search.htm

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Munique e a Oktoberfest


Munique
Um brinde à capital da cerveja
(Texto originalmente publicado na revista Viaje Mais! Set.2013)

A cidade alemã é famosíssima pela Oktoberfest. Mas ela também é a terra da BMW, do time de futebol Bayern, das moças de cabelos trançados que vendem pretzel nas ruas, da arquitetura e da arte moderna

Regina Cazzamatta

Carros da desejada marca BMW circulam aos montes pelas ruas de Munique. Também pudera: a matriz e uma fábrica da empresa ficam nessa bela cidade alemã, a terceira maior do país. O município também é a casa do Bayern. Um dos times de futebol mais poderoso da atualidade, a equipe reúne alguns brasileiros em seu plantel, como o volante Luiz Gustavo e o zagueiro Dante, os quais atuaram pela seleção canarinho na Copa das Confederações recentemente vencida pelo Brasil. E ainda há pelas ruas da cidade lindas moças de tranças loiras vendendo brezel, o tradicional e crocante pão alemão em forma de laço, chamado pretzel no Brasil. Os símbolos conhecidos são muitos, mas todos os anos, entre setembro e outubro, é outra marca local que se sobressai: a cerveja consumida aos milhões de litros na Oktoberfest.

O etílico evento surgiu em 1810, como parte das celebrações do casamento do príncipe Ludwig, mais tarde Ludwig I, com a princesa Teresa da Saxônia. Como os münchners, nativos de Munique, adoram cerveja e farra, a festa ocorreu de novo, de novo e outra vez mais... até chegar à edição de numero 180, em 2013.
Mas não só os amantes de cerveja, futebol e carros que encontram diversão por lá. Aficionados por cultura e arte e apreciadores de design, alta costura e gastronomia também estão no ligar certo. Certo não, certíssimo. Assim, não é para menos que Munique receba 6 milhões de visitantes por ano, que já no primeiro dia perambulando na cidade aprendem a pedir a famosa Maß, aquela canecaça preenchida por um litro de cerveja.

Oans, Zwoa, Gsuffa!
A Oktoberfest tem início em 21 de setembro de 2013 e segue até 6 de outubro. Mas, antes de começar a entornar o caneco, prepare os ouvidos para o famoso hit da festa, entoado a torto e a direito: oans, zwoa, gsuffa! (pronuncia-se algo como óains, dzvóa, gzufa), que no dialeto da Bavária significa um, dois e embebedar! É assim que os participantes brindam durante o evento mais famoso e esperado do ano, o qual, desde 1810, é realizado no Theresienwiese (campo da Teresa), chamado de Wiesn (vízen).
 O local é um verdadeiro parque de diversões dedicado à cerveja, reunindo as enormes tendas que vendem a loira, brinquedos como o emblemático carrossel e o chapéu mexicano, e espaços para shows e outras atividades que se desenrolam durante a festa.

No dia da abertira, pontualmente às 11h, há um desfile rumo ao Wiesn. É nesse momento que as cervejarias despacham seus barris para o local dos festejo, transportados em carruagens ornamentadas por fitas, folhas e guirlandas. Ao meio- dia, o cortejo já chegou ao Wiesn, e, na tenda Schottenhamel, o prefeito de Munique dá uma martelada e fura o primeiro barril.

Até esse momento, que marca o início oficial do embebedamento coletivo, o cronômetro mostra uma contagem regressiva e aos visitantes a acompanham em alto e bom som, como se estivessem esperando a virada do ano. Aí, pelas mãos do prefeito, a cerveja, produzida especialmente para essa ocasião, começa a jorrar. É a deixa para todos exclamarem o´zapft is, algo como fluindo, aberto está, o que é dito mais ou menos assim: “otzapft is”. O êxtase da galera pode ser sentido msmo por quem está longe dali, já que a cerimônia é transmitida pelos canais de TV de toda Alemanha.

Cada um no seu quadrado
Cada cervejaria tem sua mega tenda, com clima e públicos diferentes. Munchners e estudantes preferem a da Augustiner, enquanto norte-americanos e australianos freqüentam a da Hofbräu. Quando a movimentação está nas alturas – tais espaços comportam até 10 mil pessoas -, pode ocorrer das portas serem fechadas até a superlotação dar uma folguinha. Aí as casas voltam a aceitar novos bebedores.

No meio dessa muvuca sem fim e ao som de bandas típicas, garçonetes com o típico vestido de babadinhos carregam até oito canecas de um litro de cerveja! Bandejas enormes, cheia de especialidades da Baviera, também circulam sob as cabeças dançantes nos salões.

Para dar conta do apetite dos 6,9 milhões de visitantes, os números etílico- gastronômicos da Oktoberfest são grandiosos. Alem de 7 milhões de litros de cerveja, vão para a panela e para brasa 500 mil frangos, 100 bois e 200 mil salsichas, usados em vários pratos da região. Para prová-los em grande estilo, vá à tenda Hippodrom, que também vende taças de vinho e champanhe – e até receber, por incrível que pareça, uma missa católica durante os dias da bebedeira.

Mais cerveja e salsicha
Se não der para estar em Munique na Oktoberfest, tudo bem: as cervejarias que fazem a fama da cidade funcionam o ano inteiro e recebem muito bem os fregueses. A Ausgustiner é a mais antiga da região: existe há quase 700 anos. Sua história remonta a 1328, quando um mosteiro agostiniano, nos arredores da Igreja Frauenkirche, um dos cartões postais de Munique, produzia a bebida. Hoje, a cervejaria funciona em outro local, que se mantém tal qual na época de sua construção, e, 1897, e é um verdadeiro palácio das cervejas.
Se a temperatura estiver agradável, deguste sua Maß no jardim nos fundos, um dos mais idílicos da cidade, com arcos romanos e paredes verde-claro, onde estão estampadas pinturas de musas à la Botticelli. Embora não dê vontade de sair dali, vale perambular pelos diferentes ambientes da casa.
A cerveja clara da Ausgustiner é vendida numa garrafa que exibe um logo esverdeado e, por isso, os locais se referem a ela como “monge verde”. Para acompanhar a bebida no melhor estilo Bavaro, nada mais indicado do que um par de salsichas brancas – as weißwürstchen (pronuncia-se “vaisvurtichen”), feitas à base de carne de porco, carneiros, cebola e temperos – servidas com brezel, os tradicionais pães trançados.
As salsichas chegam à mesa dentro de um pote, embebidas em água quentes. É preciso fazer um leve corte com a ponta da faca no produto para a pele sair inteirinha, deixando a carne pronta para ser degustada na companhia de uma mostarda adocicada. Mas, atenção: as “branquelas”, segundo manda a tradição, não devem escutar o sino do meio- dia. Ou seja, as weißwürstschen são iguarias consumidas no café da manhã. Isso que dizer que, quando os turistas saem para assistir ao espetáculo do relógio da prefeitura na Marienplatz (praça principal), ao meio-dia, por exemplo, as salsichas já devem estar no estômago, em processo de digestão.

Apesar da tradição, é comum ver os potes com o alimento saçaricando o dia todo nas bandejas das cervejarias. “Comer salsicha branca não é como tomar um cappucino, o que se faz a qualquer hora, mas os turistas podem”, disse um morador, rindo de mim, enquanto eu as saboreava por volta das 16h.

Höfbrau, espécie de ensaio para a Oktoberfest
A Höfbrau é a mais diversificada e turística cervejaria a ponto de ter áreas de venda de suvenires e lojas dentro do próprio complexo. Ainda assim, a casa não deixa de ser visitada pelos locais – e o grande número de plaquinhas em cima das mesas com o termo stammtisch comprova isso. A palavra refere-se a uma espécie de reserva eterna, e as mesas com a tal placa são lugar cativo de determinada família. Assim, não importa quão cheia a casa está, quem te “mesa eterna” pega sua Maß assim que chega.
O salão principal é embalado pelo som de uma banda. Ali, jovens e velhinhos, turistas e nativos, homens e mulheres, se encontram para brindar. Nesse ambiente, o volume fica tão alto por conta da banda e do zumzumzum dos freqüentadores e os garçons ficam num ritmo frenético que a experiência pode ser encarada como um ensaio geral para a Oktoberfest.
Burburinho na Marienplatz
Entre um pit stop e aqui e várias lições aqui e acolá sobre as curiosidades da região, perca-se pelo centro histórico de Munique. No meio da movimentada Praça Marienplatz, uma coluna com a imagem dourada de Nossa Senhora destaca-se entre as torres da Frauenkirche (Igreja das Mulheres), que fica no quarteirão de trás.
Quem visita a igreja logo procura pela marca de um pé, que teria sido deixada pelo diabo perto do órgão, na entrada. Conta-se que o arquiteto responsável pela obra fez um pacto com o demo em 1468, que o autorizou a fazer uma belíssima catedral, desde que sem janelas. Quando a construção foi concluída, o tinhoso foi convidado a verificar o resultado. Ao perceber que fora enganado pelo jogo de colunas que escondia as janelas e vitrais, ficou furioso e ali cravou seu pé.
Ao longo do dia, cafés, sorveterias e lojas no entorno da Marienplatz, marcada pela prefeitura gótica, ficam lotados. Uma ótima vista das pessoas flanando no pedaço é vislumbrada da torre da Igreja de São Pedro. Embora o quase sem fim de degraus da escada sejam estreitos e de mão dupla, o visual recompensa o esforço da subida (e descida). Lá de cima, é possível fotografar todo o enorme prédio da prefeitura, as cúpulas esverdeadas da Igreja das Mulheres e mesmo a torre de Museu de Brinquedos, mais ao longe, alem de observar o formigueiro de pessoas.
O burburinho da Marienplatz, porém, já foi bem maior, já que ali ficava o mercado Virtualienmarkt, transferido, em 1807, para outro quarteirão, próximo da praça. Nele, encontra-se de tudo_ cerveja a champanha, joelho de porco a temperos italianos, queijos franceses e cogumelos de diversos tipos , alem de enfeites artesanais, flores e as típicas bolachas em forma de coração com os dizeres ich liebe dich (eu te amo, em alemão).
Nesse coração pulsante de Munique, há também pessoas com roupas típicas da Baviera, como se estivessem nas cervejarias ou na Oktoberfest. Muitos não ligam de serem fotografados pelos turistas e até acenam ou levantam seu copo para brindar os flashes.
À parte as igrejas e suas lendas, bem como os personagens folclóricos da região, o Mercado é famoso pelas seis fontes de água, que, decoradas com estátuas de antigos artistas da vizinhança e com flores deixadas pelos transeuntes, garantem água fresca e potável aos passantes. A fonte dos Pecadores, na Marienplatz, vai alem desse papel: reza a lenda que quem molhar seu porta- moedas naquelas águas, na Quarta- Feira de Cinzas sempre terá os bolsos cheios de dinheiro.

Surfe e mais Cerveja
Nos meses mais quentes do ano e mesmo no começo do outono europeu, até meados de outubro, um programa ao ar livre é extremamente recomendado: curtir o Englisher Garten (Parque Inglês), à beira do Rio Isar, motivo de orgulho dos locais. É que a metrópole, onde vive 1,5 milhão de habitantes, é uma das poucas grandes cidades do mundo em que os moradores encontram um rio tão limpo a ponto de poderem nadar nele.
A correnteza do Isar é tão forte que muitos pulam no rio e deixam levar pelas águas que cortam o parque. Te também quem faça o percurso com bóias ou, para variar, deguste uma cerveja numa patê mais calma do curso do rio.
Mas bacana mesmo é ver o pessoal surfando na altura da ponte Eisbach. Com a forte correnteza e as peras no caminho, formam-se ondas grandes o suficiente para que surfistas se equilibrem em pranchas e dêem um show aos visitantes, que até se sentam à beira-rio para vê-los dominar a força das águas ou cair desastrosamente nelas.
Outro destaque do parque é a torre chinesa, de 1798, situada no meio de um biergarten, o jardim da cerveja. O costume de freqüentar esses emblemáticos bares ao ar livre, que desde a Idade Média marca o estilo e vida na cidade, veio com uma esquisita lei de 1539. Naquele ano, a produção de cerveja foi proibida durante os meses de maio a outubro, devido ao perigo de incêndio por causa do calor. Mas, como a bebida era muito mais vendida justamente nos meses de verão, os estabelecimentos começaram a produzi-las antecipadamente e estocá-la em porões. Para manter amena a temperatura desses ambientes, plantavam-se castanheiras na parte de cima, até que alguém teve a genial ideia – os alemães e o mundo agradecem – de puxar uma bomba e vender a cerveja no local em que eram guardadas. Nasciam os biergartens, equipados com mesas enormes, coletivas e com bancos de madeira, colocados debaixo de grandes árvores.

Nos jardins da cerveja não há garçons; é preciso ir até a tenda buscar a bebida e comida. Conforme o movimento, os canecos são deixados preparados e ficam debaixo de uma placa que indica o tipo da bebida oferecida: clara, escura ou misturada com soda. Como antigamente a venda de alimentos era proibida, muitos freqüentadores levavam seu próprio lanche. Até hoje, alguns biergartens mantém uma área em que os visitantes podem consumir a comida que trazem. Quem não quiser preparar seu piquenique normalmente encontra nessas casas galetinhos assados com salada de batatas, joelho de porco ou o leberkäse, bolo de carne bovina e suína e temperado com cebola e bacon, apreciado dentro de um pão.

Carro, Futebol e Arte
 A cerveja não é a única paixão do münchners. Eles também adoram futebol e estão mais vaidosos do que nunca em relação ao principal time da cidade: o poderoso Bayern, atual campeão alemão e da Liga dos Campeões, o mais difícil dos torneios disputados na Europa. Como a equipe está com a bola cheíssima, e caso você goste de futebol, um giro pelo estádio do Bayern vai ser um passeio e tanto.
Desde 2006, a Allianz Arena é a casa do Bayern e do outro time que representa a cidade, o TSV 1860. Além do projeto extremamente moderno e bonito, a construção, que parece um pneu, se caracteriza pela mudança de cor de toda a iluminação da parte externa: fica vermelho ou azul, quando ali jogam equipes locais, e branco, quando recebe partidas de campeonatos internacionais, como a Copa que a Alemanha sediou em 2006.
A visita inclui um tour pela arena e pelo museu que conta a história do Bayern, o qual reúne fotos técnicos e jogadores, camisetas, chuteiras de artilheiros e um completo acervo para nenhum fanático por futebol botar defeito. Mas interessante mesmo são as andanças pelos bastidores do estádio, que levam à sala de imprensa e ao vestiário dos times. Decorado em vermelho, a cor do Bayern, cada cabine do vestiário tem a foto do jogador que vai usá-lo.

Como o gramado é o tapete da realeza, ops, dos craques da bola, ele é cuidado com muito esmero, com direito a banhos de sol artificiais e a dedicação e três jardineiros, encarregados de avaliar o impacto na grama. Quem quiser assistir a um jogo, os melhores ingressos custam entre 85 e 90 euros.
No parque Olímpico, erguido para a olimpíada que Munique sediou em 1972, está mais um ícone turístico, o complexo da BMW. Nesse espaço, encontram-se a linha de produção, o showroom com os desejados carros produzidos pelas montadora e o museu que mostra o desenvolvimento dos veículos ao longo do século 21. O prédio administrativo fica no centro do complexo e ostenta uma estrutura arrojada, que imita o motor de quatro cilindros da marca. Nesse moderno prédio de vidro, criado especialmente para exibir os carrões da BMW, os visitantes fazem a festa: entram nos veículos, tiram fotos e até simulam corridas ao volante de videogames. Quem der sorte pode até assistir a exibição de motociclismo, com direito a saltos e piruetas, além de ouvir roncar os motores das supermáquinas. Ao mais entusiasmados pelo assunto, a dica é se juntar a um tour guiado visitar a linha de montagem (às 15h, a visita é oferecida em inglês e, às 16h, em alemão). No Parque Olímpico destaca-se também a vila erguida para receber os atletas nos jogos de 1972 e, do alto da torre olímpica, a 182 metros do chão, dá para ter uma boa noção de toda herança deixada pelo evento esportivo, cujo visual soa moderno mesmo para os padrões de hoje: o lago usado nas provas aquáticas – onde crianças literalmente rolam dentro de bolas aquáticas, enquanto os pais bebem cerveja em mais um dos biergartens da cidade-, os ginásios, os alojamentos e mais um estádio se juntam ao moderno prédio da BMW.
Para quem não é muito ligado em esportes ou velocidade, vale passar a tarde em alguma exposição, já que Munique está na linha de frente no quesito arte contemporânea e tem pesos pesados na lista de museus imprescindíveis aos amantes da arte. Tanto quanto o próprio acervo, prédios como o da Pinacoteca do Moderno e o do Museu Brandhorst somam-se ao estádio do Bayern, ao complexo BMW e à vila Olímpica e dão um show de arquitetura moderna. 

Castelo dos Sonhos
Fechar a viagem conhecendo o Castelo Neuschwanstein – grande ícone arquitetônico do Estado da Baviera, se não o maior deles – é tarefa para aqueles que dispõem de pelo menos mais um dia livre para jogar numa das excursões mais populares da Alemanha. O destino é Füssen, na região de Allgäu, e o trajeto de Munique até lá é feito em duas horas, a bordo de um trem regional.
O Cênico percurso, que se desenrola em meio a paisagens montanhosas, tão perfeitas que parecem saídas das mãos precisas de um artista genial, é apenas um aperitivo que prepara a vista para a aparição do Castelo Newschwanstein, o qual desponta entre as colinas como uma miragem.

Se o legado do monarca Ludwig I foi a criação da Oktoberfest, ficou para seu filho, Ludwig II (1845-1886), que ganhou a alcunha de “o maluco”, erguer o palácio que é o grande cartão- postal do sul da Alemanha – e que inspirou Walt Disney a criar o Castelo da Cinderela na Disney de Orlando. Embora a construção tenha se iniciado em 1869, o rei amalucado o quis em estilo medieval, o que confere are românticos ao complexo, e sua obsessão era criar um palácio que fosse um palco gigante para reviver o mundo dos mitos germânicos.
No interior os destaques são a sala dos menestréis, onde há concertos todo mês de setembro, a sala do trono e a cama de Ludwig. Pelo luxo das instalações, é certo que esse ode à beleza e ao orgulho alemão custou uma tremenda fortuna, e por isso chega a dar pena do soberano, que passou somente 170 dias ali: Ludwig morreu misteriosamente afogado no Lago Starnberg, em 13 de junho de 1886, e, por conta de uma vida em que a realidade e a fantasia se misturaram em igual medida, ele entrou para história como um rei de conto de fadas.

sábado, 21 de setembro de 2013

Little Miss Sunshine: 13 anos


Hoje uma garota chamada Ana Carolina completa treze anos. Quando cheguei na Alemanha, passeava nos corredores das lojas, olhava as bonecas da Barbie, caixas de lego, lápis de cor e pensava como ela ia gostar desses brinquedos e bugigangas, que, diga-se de passagem, eram sempre muito mais baratos desse lado do Atlântico. Fechei os olhos, escrevi uma prova de alemão, comecei o mestrado e, de repente, encontrei-me numa grande loja de departamento escolhendo os presentes para mais um aniversário da moça: um estojo de maquiagem, brincos, pulseiras e uma camiseta cool e que deixasse os ombros à mostra! Isso é um detalhe importante: ombros à mostra.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Cracóvia: a fábrica do Schindler em uma imperdível visita


“Minha querida Mama, estou saudável”. Assim, de forma curta e precisa, relata um filho suas condições de vida, em 2 de dezembro de 1939. “Posso receber duas correspondências por mês”, explicava ele sobre as regras do campo de concentração Sachesenhausen, em Berlim. Tudo para apaziguar os ânimos maternais aflitos no país vizinho. Esta carta e uma série de outros documentos estão expostos na Fábrica do Schindler - sim, o mesmo da película do Spielberg! -, em Cracóvia.
Assim como o portão e os trilho de trem marcam a imagem do complexo Auschwitz-Birkenau, é impossível não reconhecer a fábrica pelo filme (a Lista de Schindler). A exibição vai muito além da história do capitalista alemão, interessado em lucrar com a mão de obra judia, mas que no meio do caminho, acaba protegendo e salvando a vida de seus funcionários, a custo de muito suborno da polícia e contatos com oficiais nazistas.
 O espaço conta toda a ocupação alemã em Cracóvia, desde a invasão, a vida nos guetos judaicos, o transporte para o campo Plaszów e, finalmente, a libertação. Dá para passar horas puxando gavetas, ouvindo os áudios e apertando botões espalhados pela mostra mais do que interativa. A criançada (e eu também!) gosta bastante da simulação de um trem, com bancos de madeira e janelas- televisões com imagens da cidade à época. Um dos cartazes logo no início da exibição mostra o cerco começando a se fechar: todas as lojas pertencentes aos judeus deveriam ser identificada até o dia 09 de setembro de 1939, até às 17h (cartaz acima). Entre as especificações, era preciso colocar uma estrela de David na janela! Tudo assustadoramente bem detalhadinho!
Uma sala repleta de suásticas nos pisos e paredes marca, definitivamente, a Cracóvia sob ocupação nazistas e dali para frente a mostra fica mais tensa, com fotos das barbaridades ocorridas e de reconstruções de mini esconderijos insalubres e empoeirados. Na remontagem do gueto e suas muralhas, destacam-se imagens dos moradores, entre ele velhos e crianças, pouco antes do pior acontecera, além de frases de sobreviventes. Entre elas, e de um célebre garoto: “De repente, percebi que seriamos emparedados. Fiquei tão assustado que caí no choro”, relatou Polanski, com apenas oito anos.
 Às segundas, a entrada é de graça, mas é bom garantir os tíquetes bem cedo. Há horário marcado e é bem possível que após a retirada dos bilhetes, a próxima visita esteja marcada para ali a duas horas. Mas, sem problemas. Aproveite para ver os resquícios do muro que circundava o gueto a poucas quadras dali.







domingo, 1 de setembro de 2013

Polônia- Leste Europeu: Cracóvia e a Praça Rynek

Sim, trata-se da praça medieval mais bonita do mundo! Há quem discorde, mas a organização americana “Project for Public Spaces” parece concordar com o status da Rynek, que recebeu a melhor nota no quesito. Esta era a segunda vez que aterrissávamos em Cracóvia, a bela capital cultural da Polônia. Mas, desta vez, estávamos decididos a encontrar um pequeno café em alguma lateral da praça, o mesmo que há seis anos nos acolhera no gélido inverno.
Pouca coisa ficou na memória, a deliciosa sensação de estar aquecida, aconchegada em um local pequenino com no máximo cinco mesas, repletas de dumpling (aquela massa recheada típica) e um precinho bem do camarada. Chequei cada estabelecimento por lá, um a um. Nada, nenhum rastro do local. Olhei com rancor a Starbucks lá no meio. Nada contra, mas não combina. Não ali! Só porque o país entrou para União Européia, não precisa abrir a rede mais mainstream de café do mundo bem na Rynek.
Nosso cafezinho e suas lembranças foram liquidados. Tivemos que substituí-lo. Encontramos o restaurante Pod Gruszka, no segundo andar de um prédio, na esquina da praça. Estava vazio para um domingo à noite e conseguimos pegar a melhor mesa, à janela. Jantar com vista para a praça do mercado iluminada, cheia de carruagens brancas e o pavilhão renascentista, que ferve cheio de artesanato ao longo da tarde! Daria para ficar horas ali admirando o fim do dia.
Mas não sabíamos que, poucos meses depois de deixarmos a cidade, ainda naquela nossa primeira visita, escavações surgiram pela praça e perduraram quase quatro anos. Agora dá também para perambular pela área subterrânea do mercado, em uma exposição ultra interativa que leva os visitantes para os tempos do comércio medieval. Além de ossadas da época da guerra com a Suécia, há moedinhas da época, sapatos de mercadores (ou o que sobrou deles) e todo tipo de instrumentário dos antigos mercadores.
Para admirar a praça à luz do sol, nada como o terraço do café do museu de história de Cracóvia. Do alto, o vai e vem de pessoas, turistas, músicos e crianças correndo em frente a pontuda Igreja da Maria, além da fila de carruagens esperando pelo próximo passeio. Tudo, com uma docinha tortinha de limão. Tudo tão belo que nem os nazistas tiveram coragem de destruir como fizeram com Varsóvia. De tão estrondosa, a rebatizaram como Praça Adolf-Hitler. Uma ofensa! 


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Sul da Alemanha: Füssen e o castelo da Cinderela (Neuschwanstein)

Dar dicas de viagem é um negócio mesmo complicado. Já pensou dizer para alguém em um trem de Munique rumo a pequenina cidade de Füssen que o melhor a se fazer naquele dia é deixar o castelo mais famoso de toda Alemanha pra lá? Sim, viajar duas horas de trem, acordar bem cedinho e não entrar no Neuschwanstein (desculpe pelo palavrão!), aquele castelaço do maluco do rei Ludwig II, que inspirou até mesmo a construção da casinha da Cinderela na Disney!

sábado, 17 de agosto de 2013

Roteiro pela Romênia e o castelo do Drácula


Drácula e outras pitorescas histórias na Transilvânia

(Texto originalmente publicado na revista Viaje Mais! Ago.2013) 
Regina Cazzamatta

A região romena ficou conhecida como “lar” do famoso vampiro, inspirado num sanguinário príncipe que ali viveu. Mas cidades medievais, igrejas fortificadas e uma capital surpreendente também esperam para serem descobertas
            Chegar à terra do lendário Conde Drácula, na região romena da Transilvânia, não tem nada de assustador. Muito pelo contrário. O trajeto de carro, ou trem, entre Bucareste, a surpreendente e megalomaníaca capital da Romênia, e a Transilvânia é fascinante. A começar pelo vislumbre constante das portentosas Montanhas Cárpatas - chamadas pelos moradores de “Alpes Romenos” -, que, mesmo nos meses mais quentes do ano, quando a temperatura ultrapassa os 30 graus, mantêm o topo branquinho de neve.

          Na viagem, também despontam na paisagem campos verdes repletos de ovelhas, castelos góticos, igrejas fortificadas, ciganas com saiotes vermelhos à beira da estrada e vilarejos com detalhes pitorescos, como ninho de cegonhas no alto dos postes de iluminação. Por esse bônus, é uma dádiva, pelo menos para os turistas, que as rodovias romenas estejam longe de serem tão boas como na Europa Ocidental: isso impede que os veículos “voem” e cubram a paisagem de poeira, dando tempo aos visitantes de se deslumbrarem, de cara, com os encantos da vizinhança.
       Ainda que o caminho até a Transilvânia seja, por si só, um senhor cartão de visita das belezas do pedaço, é uma figura mezzo criada pelo irlandês Bram Stocker, mezzo real – o Conde Drácula – que deu, e ainda dá, fama à região. Desde a publicação de Drácula, em 1897, lendas que passavam de geração desde o século 15 e fatos reais se misturaram por ali como em nenhum outro lugar da Europa. Nasciam, então, todas as associações que o imaginário coletivo faz entre a Transilvânia e o mais famoso dos seres das trevas.
           Embora muitos romenos torçam o nariz para a história que há tanto tempo atrai comentários e gente à região, o personagem aguarda os visitantes, como disse no livro de Bram Stocker: “Bem-vindo aos Cárpatos. Estou esperando por você ansiosamente”, desejou o sortudo conde ao corretor de imóveis que o visitava na Transilvânia. Ainda que essas palavras não passem de ficção, o vampiro ganha vida nas mãos, ou melhor, no corpo dos próprios turistas, que circulam de capa preta e com pontiagudos caninos de mentirinha no castelo da Transilvânia que seria o “lar” de Drácula. O personagem também está representado nos suvenires encontrados em toda lojinha de Sighisoara, onde nasceu Vlad III (1431-1476), fonte de inspiração para que o autor irlandês criasse sua conhecida criatura.
             Assim, o Drácula da literatura – que deu origem a uma vampiro-mania que nunca saiu de moda, incluindo filmes que vão de Nosferatu, de 1922, à saga teen Crepúsculo, desenhos e séries de TV como True Blood e Vampire Diaries – foi inspirado num príncipe que realmente existiu na Valáquia, área que hoje integra o território romeno. Figura importante na história do país, o nobre fazia jus às alcunhas adicionadas ao seu nome: Dracul (dragão, em latim) e, mais tarde, Tepes (empalador, na mesma língua). É que Vlad punia os desafetos com práticas como empalamento e decapitação. Mas ele também tinha um lado legal, digamos assim, e protegeu a região por muitos anos das investidas otomanas.
                A narrativa cheia de sangue do Conde Drácula e os causos que moradores e guias sempre têm para contar do sinistro Vlad III seduzem mesmo os viajantes, mas a Transilvânia não se reduz a isso. Esperam ainda pelos turistas belas cidades medievais, protegidas por muralhas, caso de Sinaia, Sighisoara, Brasov, Bram e Sibiu, além de vilarejos saxônicos e diversas igrejas fortificadas, como Preymer e Biertan.
Igreja como Posto de Defesa
            Ao chegar a Biertan, considerada Patrimônio da Humanidade pela Unesco e a 27 km de Sighisoara, terra natal de Vlad, mal dá para perceber que se está diante de uma igreja: de fora, avistam-se somente as torres de controle e um muro de pedra. Ao entrar, o guie Emil, da agência Adventures Transylvânia (www.adventuretransylvania.com), chama a atenção para outras camadas de proteção, um complexo emaranhado de concreto e arcos que liberavam diversas grades, que tinham a intenção de isolar os invasores que passavam pelos primeiros pontos de defesa.
           Na parte dedicada à igreja propriamente, há um cômodo, ao lado do altar, que abrigava os tesouros da sacristia e passaria batido, não fossem as 19 fechaduras que decoram a porta, geringonça tida como maravilha da engenharia da época. No entorno do templo há outras estruturas interessantes. Uma delas é um quarto minúsculo, usado, em tempos longínquos, para trancafiar, por três meses, casais que queriam se separar. Sem ter muito o que fazer e obrigada a dividir a mesma cama (de solteiro), a dupla em desavença era obrigada a conversar sobre seus problemas. A terapia de choque funcionava, já que, segundo o guia, raramente um casal realmente se separava.
              Ao continuar o caminho em torno do conjunto, nota-se, pelas frestas, a grande altura e robustez da igreja-fortificação. “Daqui eles também jogavam óleo quente nos invasores”, conta Emil sobre as estratégias militares adotadas na época. Outra igreja fortificada que é show é Prejmer, também patrimônio da Unesco e que protegia um templo gótico nos arredores de Bram. Em sua estrutura espalham-se 271 miniquartos, que abrigavam famílias camponesas da vila durante as constantes tentativas de tomada do território. É possível caminhar pela escadaria de madeira, olhar cada cômodo e até mesmo passear junto da muralha de proteção. Ali, muitos visitantes, ao verem uma tampa de madeira no chão, perguntam do que se trata e então têm autorização para abri-la. Eles olham, olham e não entendem a função daquele bendito buraco. “Isso era um banheiro a céu aberto", conta o guia. Isso mesmo: o objetivo nada nobre era fazer com que os dejetos dos soldados acertassem os inimigos lá embaixo.
              A ameaça otomana era sempre um problema sério e, em alguns momentos do século 15, Vlad III conseguiu conter o avanço deles por ali. E fazia isso com toda satisfação do mundo, uma vez que, quando criança, o príncipe foi capturado por esses invasores e passou boa parte da infância e adolescência em cativeiro. Ao ser libertado, recrutou um exército e foi à forra, para vingar a si e ao pai e irmão, assassinados pelos otomanos.
             Ao capturar esses ou quaisquer inimigos, Vad preferia matá-los por empalamento, técnica que, com uma estaca, perfurava o castigado sem atingir órgãos vitais, causando uma morte lenta e dolorosa, numa agonia que podia durar até 48 horas.  A atrocidade chocou até mesmo o líder do império Otomano na época, o sultão Mehmed II, que havia tomado Constantinopla e deu meia-volta ao chegar numa cidade abandonada da Romênia. A razão foi o “presente” deixado pelo príncipe: 20 mil corpos empalados.
Na Casa do Vlad Bebê
              As histórias são muitas, os registros oficiais, relativamente poucos, e o numero de vítimas que padeceram nas mãos daquele que entraria para a história como Vlad, o Empalador, bastante impreciso. Certeza mesmo é que a verdadeira ligação do governante com a Transilvânia é seu local de nascimento, uma casinha na lateral da minúscula Praça Cetatii, em Sighisoara. Pouco restou dessa antiqüíssima construção; há somente um afresco desbotado com imagens de seu pai. Hoje, o espaço abriga um restaurante, que, não por coincidência, chama-se Drácula. A gastronomia da casa não é nenhuma maravilha, mas comer ali vale por estar no lugar em que o figurão da história romena deu seus primeiros passos.
         Quem quiser pode ir ao suposto quarto onde Vlad nasceu, visita que vira uma experiência um tanto pitoresca. Quando o garçom dá o ok para os visitantes se dirigirem ao cômodo, uma música de filme de terror embala a subida dos turistas pela escada. Ela prossegue até a chegada ao cantinho que já foi de um inocente principezinho e agora é um ambiente escuro, marcado por feixes de luzes vermelhas e envolto por cortinas de cetim também vermelhas. Um caixão fica no meio do cômodo e, quando menos se espera, um sujeito de braços abertos pula do caixão e grita alguma coisa indecifrável em romeno. Alguns quase morrem de susto, outros gargalham e o tosco vampiro de capa preta ri da peça que pregou nos turistas. Na saída, há diversos produtos “vampirescos” à venda: café, vinho e canecas do Drácula.
           Para dar um tempo do personagem real e do fictício – mas só um tempo mesmo, porque eles estarão de volta em outros locais-, nada como andar pelo cetro histórico de Sighisoara, cidadela do século 14 tombada pela Unesco. Todos os pontos turísticos ficam no interior da muralha, que ainda exibe nove das 14 torres originais e dois dos cinco bastiões de proteção. Na pracinha central, chamada Cetatii, a impressão é de que o tempo parou. A torre do relógio, de 1280 e com 64 metros de altura, é um dos locais mais visitados, por diversas razões. O relógio, de 1648, é uma beleza, ornado com figuras de madeira representando os deuses greco-romanos que dão nome aos dias da semana. De hora em hora, a maquinaria responsável por seu funcionamento move correntes, ganchos e pesos para que as peças que o decoram também se mexam. Ao longo dos sete andares da torre, um museu conta a história da cidade, com detalhes sobre as famílias que controlavam os bastiões.   
             O melhor fica para o final: no último andar, a vista é fantástica, exibindo os sobrados coloridos do vilarejo e uma igreja no topo da montanha. Para quem for visitar o templo, os antigos moradores deram uma forcinha. Em 1642, foi feita uma escadaria com 172 degraus rumo ao topo do morro, coberta por um teto de madeira. À noite, as ruas de paralelepípedos e a imponente torre do relógio dão um toque especial ao coração do burgo.
Vocação Cultural em Sibiu
         Cidades um pouco maiores, como a ativa e vibrante Sibiu, garantem a parte cultural e mais movimentada do roteiro. Por ter sido capital cultural da Europa em 2007, em Sibiu sempre tem algum programa interessante rolando, que vai de apresentações artísticas a festivais de música ou de comida. Caminhar ao longo da muralha, com uma vista espetacular das Montanhas Cárpatas – os “Alpes da Romênia” -, é uma delícia. A torre da prefeitura é outro ponto que dá um excelente panorama da cidade, da praça principal Piata Maré, das onipresentes Cárpatas e das muralhas que entrecortam o centro antigo. Onipresentes também são as casa com “olhos”. É que as janelas nos telhados vermelhos dão a impressão de que as construções têm olhos, já que se assemelham mesmo com essa parte do corpo humano e estão disposta de um jeito que parecem admirar a praça central.
               Mesmo com a agitação cultural e a beleza arquitetônica, Sibiu não tem todo o charme e a graça de Brasov, que sabe de seu poder de sedução e exibe com um letreiro à lá Hollywood, montado no Monte Tampa, que escancara seu nome. A Praça Sfatului, no coração da cidade medieval, está repleta de cafés, sorveterias e fachadas barrocas. A Igreja Negra se destaca por ser o maior templo de estilo gótico entre Viena e Istambul, e ganhou esse nome após um incidente em 1689 que enegreceu a construção. Em seu interior, destacam-se os 120 tapetes orientais trazidos por mercadores que voltavam são e salvos para casa depois de negociações e comércio em terras otomanas.
              Como em toda cidade da Transilvânia, em Brasov também não falta uma muralha. Ali, ela tem incríveis 12 metros de altura e três quilômetros de extensão, mantendo a parte antiga da cidade tal qual era na Idade Média. Ao contornar a estrutura pela parte de fora, seguindo um riozinho, encontra-se uma das melhores vistas.
             Todo esse visual já seria motivo para deixar o passeio imbatível, mas Brasov ainda serve de  ponto de partida para duas excursões bem populares na Romênia: uma rumo à fortificação Rasnov e outra para o Castelo de Bram, mais conhecido como “castelo do Drácula”.
             A cidade amuralhada de Rasnov, erguida na parte alta do terreno em que a cidade se desenvolveu e isolada dela por uma mata densa, oferece uma das vistas mais bonitas da região. Dá para chegar à área a bordo de um trenzinho ou caminhando por entre árvores, ladeira acima. No topo, o panorama que se descortina parece pintado à mão: as torres de proteção, muitos vestígios das antigas construções de pedra, o vale verdinho e, bem ao fundo, os “Alpes romenos” com seus picos brancos de neve.
             Caminhar pelas ruelas do interior da muralha serve também para imaginar as outrora avançadas estratégias de defesa. Conta a história local, que durante um ataque, o canal que levava água à cidadela foi destruído e a fortificação padeceu. Aprendendo com os erros do passado, iniciou-se a construção de um poço – prisioneiros otomanos, no século 17, só ganhariam a liberdade depois de terminar o projeto. Foram 17 anos de trabalho duro até que o poço de 146 metros de profundidade ficasse pronto. “Os prisioneiros tiveram sorte com o projeto porque ninguém sabia se encontrariam água na base da montanha, o que seria motivo para que pagassem com a vida”, conta o guia.
Castelo do Drácula
       Próximo a Brasov esta, finalmente, o vilarejo de Bram e uma das atrações mais populares do roteiro: “o castelo do Drácula”. Conforme as descrições contidas no livro de Bram Stocker, foi nessa construção robusta, onde Vlad III teria ficado algumas poucas noites em 1462 – o que não tem comprovação histórica -, que o escritor ambientou seu livro. Estar ali faz tanto a cabeça dos turistas que eles, de novo, entram no clima da história do conde das trevas, a ponto de tirar fotos vestindo capas pretas e usando dentes fake de vampiro.
            O castelo, construído em 1382 na montanha que separa os Estados da Transilvânia e da Valáquia para controlar a passagem dos otomanos, era uma base militar e não abrigava monarcas. Em 1929, a rainha romena Maria (1875-1938) passou a viver ali e importou diversos mobiliários e pinturas  da Europa Ocidental para decorar os aposentos, hoje vistos durante a visitação – uma passagem secreta também faz parte do tour. Nada, porém, tem relação com Vlad Tepes, embora crianças corram pelos cômodos gritando “eu sou o Drácula”. Mas, para não dizer que não há um quê de bizarro no local, o coração da rainha Maria está enterrado numa gruta próxima. Foi uma forma “carinhosa” de a soberana demonstrar sua grande paixão pelo local.
        Depois de tanto seguir os rastros da dupla Vlad- Drácula, nada como se refugiar nos cinematográficos vilarejos no entorno de Bram, como Moeciu de Sus, que oferecem hotéis e pousadas nas montanhas. Neles, o charme está no ambiente tranqüilo, nos quitutes produzidos localmente, como queijos, geleias e manteiga, e, claro, nos visuais que revelam, incluindo amanheceres e entardeceres arrebatadores. Se acordar cedo não faz sua cabeça, programe algum tour em contato com a natureza para fazer mais tarde: muitas agências oferecem caminhadas e atividades de aventura na região.
            Bem diferente das intenções militares que inicialmente cercavam o austero castelo de Bram, o Castelo de Peles, em Sinaia, foi erguido, em 1875, para abrigar os reis da Romênia. Para recebê-los com toda a pompa e circunstância, a construção, aos pés da montanha Bucegi, onde o Estado da Valáquia vira Transilvânia, foi a primeira dedicada a uma família real européia a conter sistema de aquecimento central e aspirador de pó – um elevador também integrava o projeto.
              De fora, a impressão é de estar contemplando um castelo do sul da Alemanha, por conta das influência germânicas da região. O interior é bastante eclético, com ambientes revestidos de madeira (alguns exibem armas provenientes de todo o mundo), salões espelhados à la Palácio de Versalhes, que recebiam festas e bailes, e cômodos de estilo árabe. Destaque também para o biblioteca, cheia de armários com portas de vidro e que mantém livros em romeno, alemão e francês – é impossível identificar, mas uma das portas é falsa e servia como passagem secreta para áreas subterrâneas do castelo.
             Por conta desse requinte (e segurança), o ditador comunista Nicolae Ceausescu, que comandou a Romênia entre 1967 e 1989, recebeu em Peles importantes chefe de Estado, como os norte-americanos Richard Nixon e Gerald Ford, o líbio Muamar Kadafi e o palestino Yasser Arafat.
Boas surpresas em Bucareste   

                Para conhecer um pouco das maluquices e da megalomania desse ex-governante, nada como uma visita à capital romena, Bucareste. E quem espera encontrar uma cidade cinzenta, dominada por edifícios quadrarões da época socialista, ficará positivamente surpreso. Muito da estrutura da era de ouro da cidade, quando a principal rota entre Ocidente e Oriente incluía Bucareste, se exibe impecavelmente por lá e hoje é ocupada por complexos como o Museu Nacional de Arte, a Biblioteca Central e a Ópera. Mas o local mais visitado é o Palácio do Parlamento, que resume a mania de grandeza do ditador Ceausescu e de sua mulher, Elena.
            Só para dar uma dimensão do absurdo, o Parlamento  romeno é o segundo maior prédio público do mundo, atrás apenas do Pentágono, em Washington (EUA). Cerca de 700 arquitetos e 20 mil operários trabalharam no projeto por vários anos, que não ficou pronto antes do ditador ser condenado à morte por fuzilamento em 1989, pondo fim ao comunismo no país.
             A grandiosidade virou uma faca de dois gumes. Seria caríssimo para a Romênia pós-revolução terminar a construção, mas seria ainda mais dispendioso e inviável para o projeto demoli-lo, o qual acabou concluído em 1997. Uma visita ao “templo” mostra as condições socialistas. Apesar do porte e da opulência do prédio, o ingresso para visitá-lo é retirado numa loja de suvenires, com uma senhorinha que assina um simplório papel à mão. Demora de 40 a 60 minutos até que os guardas retenham o passaporte dos visitantes, entreguem uma senha para retirar o documento na saída e todos passem pelo raio X. Lá dentro, estruturas como a escadaria de mármore e os lustres com toneladas de cristais até assustam pela estrondosa dimensão, mas ao mesmo tempo, os banheiros não têm papel higiênico, sabonete e algumas cabines estão sem luz.
         Como a cidade contabiliza seis séculos de história, o centro histórico também é um deliciosos convite a bater perna. Ali, sucedem-se igrejinhas charmosas, cafés e restaurantes, alem de artistas de rua que tentam chamar a atenção dos passantes com seus realejos ou fazendo bichinhos de bexigas. Para terminar o dia de andanças, nada como degustar uma cerveja ou vinho branco no parque Cismigiu. Por lá, pombas bebericam nas fontes, enquanto velhinhos de boina tocam sanfona e casais andam de pedalinho no lago.
       “Espero que você tenha aproveitado a estada na minha bela terra”, escreveu Drácula naquele mesmo bilhete citado no começo da reportagem, em que o conde dava as boas- vindas ao corretor que o visitava na Transilvânia. E se os turistas de hoje recebessem tal mensagem, balançariam a cabeça em sinal positivo, já que é impossível não se render às lendas e aos encantos da região e, por extensão, deste curioso país.

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