segunda-feira, 25 de junho de 2012

Proximidade à distância

Havia pelo menos um ano que não colocávamos o papo em dia com um amigo. As razões são diversas, mas eis que, por força do destino, conseguimos estar no mesmo continente, país e cidade por míseros três dias. Pois é. “Conheço um lugar ótimo que vocês precisam ir”, disse ele. Chegamos ao local para tagarelar um pouco, o Gordon´s Wine Bar. Era uma taberna de 1890 com paredes de tijolos e iluminada por candelabros. O vinho e a comida eram bons, ainda mais misturados com a umidade, gotinhas de água nas costas e cheiro de mofo. Para que não haja mal entendidos – não há ironia no comentário. O lugar era mesmo sensacional e no mesmo nível do rio Tâmisa. Entramos todos meio agachadinhos para não bater a cabeça, mas garantimos uma mesinha bem aconchegante embaixo da goteira. Todo o preâmbulo é para chegar à seguinte conclusão – mesmo há meses sem nos falarmos, esse amigo tinha certeza que a gente acharia a indicação superb, como dizem os ingleses. E acertou em cheio!
Não importa quanto tempo passe, há reencontros que são sempre a mesma coisa. Estou falando do lado bom da moeda. Sem essa de voltar para a casa que nascemos há 30 anos no interior de qualquer “biboca da parafuseta” e nos sentirmos deprimidos porque o azulejo continua trincado exatamente no mesmo ângulo, quando partimos anos antes. Refiro-me ao fato de continuarmos conseguindo conversar por horas a fio apesar das diferentes experiências ou rumos tomados na santa vida. Tudo independentemente do tempo sem se ver. Tenho uma outra amiga, que por sinal faz umas vinte e sete primaveras (ou por aí) hoje e a gente sempre garante boas risadas nos reencontros.
Somos água e vinho. Sempre fomos, mas isso nunca impediu a cumplicidade. Crescemos praticamente juntas, nos víamos quase todos os dias, puxávamos os cabelos durante as brigas e nos chamávamos aos berros pelas janelas de casa. Não moramos mais naquela rua que nascemos e nos conhecemos. Cada uma foi para um canto, seguimos caminhos diferentes. Nos encontramos claro para festas, velórios e jantares esporádicos. No fundo, ela nunca veio nos visitar em terras germânicas porque sempre foi mega consumista e gastava o salário todo que ganhava numa empresa de comércio exterior em roupas, botas e sapatos! E todo ano dava a mesma desculpa! Anda sempre na estica, adora a calculadora, odeia poesias e exposições e não dispensa uma boa balada, daquelas bem barulhentas, de ensurdecer. Ainda assim, aceita convites para conversar sob uma xícara de chá, embora torça o nariz e resmungue: “só você mesmo”. Se nos encontrássemos só daqui trinta anos, com certeza eu ouviria essa exclamação! Até hoje ela não colocou o blog dela no ar para contar o que anda aprontando nas praias do pacífico...
A lista de pessoas assim é restrita, mas dá para citar sim alguns casos, mesmo que contados nos dedos. Companheiros(as) de escola, adolescência, faculdade... O exemplo mais espetacular eu vi na película argentina de Paula Hernández. Trinta anos depois, a personagem Lisa (Elena Roger) aparece na casa do amigo Bruno e grita bem alto: “Zé Buceta”! O enredo trata mesmo de um caso de amor, mas não importa. O interessante é esse tipo de intimidade entre amigos ou pessoas que não se perde. Né, cara de piu piu? 

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