terça-feira, 21 de junho de 2011

Is there anybody out there?

Hey you! Out there in the Cold, getting lonely, getting cold, can you feel me? Assim como nas apresentações há mais de trinta anos do “The Wall”, demorou noventa minutos para que o muro de 80x12 metros estivesse totalmente erguido sobre o palco. Nesse momento, pode-se dizer, o ponto alto do show, Roger Waters canta “Hey You”, seguido porIs there anybody out there?” atrás da barreira. Dessa vez, do outro lado, estão seus fãs aglomerados no estádio olímpico de Munique. A turnê que começou em setembro do ano passado em Toronto para comemorar os trinta anos do álbum, considerado a obra prima do até então Pink Floyd, chega na Alemanha. Ingressos para a apresentação em Berlim, que recebeu o show em 16 de junho pela segunda vez, estavam esgotados. A última vez que Roger Waters se apresentou na capital foi em 1990 logo após a abertura das fronteiras.


Embora o show naquela época tenha soado mais atual que nunca, o conceito não tinha nada a ver com a situação política da Alemanha. Lançada em 1979, a obra conta a história de um garoto que construiu um muro psicológico a sua volta. Uma proteção contra a mãe excessivamente superprotetora, a dor pela perda do pai morto na guerra e o tratamento hostil de professores na escola. Assim como no filme, tudo é retomado no palco. Crianças cantam ao lado de Roger “We don’t need no thought control, no dark sarcasm in the classroome se rebelam contra o professor monstrengo. A primeira turnê em 1980-81 só pôde passar por Nova Iorque, Los Angeles,  Londres e Dortmund por causa dos custos altíssimos da produção.

Mesmo trinta anos depois, o tema do isolamento e da barreira se mantém atual. A primeira parte do show homenageou vítimas da guerra do Iraque, do Afeganistão, entre outros conflitos do século 21. Com teor altamente político, projetava-se no muro imagens de tanques, armas, revólveres, assim como símbolos da Mercedes, Opel, Shell. Ícones religiosos, fascista, monetários se intercalavam em projeções sobre o muro em construção. Sempre mais um “another brick in the wall”. Algo análogo à avalanche de informação sobre o nosso tempo do pintor russo Ilya Glazunov. Claro que com muitos mais recursos áudio visuais, ancorado pelas  sensações do som do rock progressivo. É uma “ópera” com começo, meio e fim.
Roger Waters emenda em “Another Brick in the Wall” a música que fez em homenagem ao brasileiro, morto em Londres, Jean Charles. E explica para a platéia – “ele era um garoto brasileiro que usava Jens e jaquetas no metrô. Nós o matamos porque achamos que ele fosse um terrorista”. As fotos do brasileiro também foram projetadas no muro ao lado de outras vítimas do nosso século. “Ele estava no lugar errado na hora errada”, diz Waters.  O show seguiu então com “Mother” em um jogo de imagens com o próprios Roger Waters em apresentação em Londres. Mama’s gonna check out all your girlfriends for you. Mama wont let anyone dirty get through (…)
Mama will always find out where you've been.
Mama's gonna keep baby healthy and clean”.
Tudo isso bem ali, no estádio olímpico, onde em 1972 atletas da seleção israelense foram seqüestrados por uma guerrilha palestina e mortos numa tentativa desastrosa de resgate da polícia alemã. O conflito judaico-palestino ainda se mantém em aberto. Integrantes da esquerda alemã que pedem um boicote à Israel são chamados de anti-semitas. Tema bem delicado por aqui. Muitos muros políticos, psicológicos, interno se mantém erguidos. E quando estes caírem, outros subirão. Por isso, o álbum se mantém tão vivo. E arte não é aquilo que sobrevive ao tempo? Pena é ainda ter alguma espécie de barreira entre o próprio Waters e os integrantes do Pink Floyd. Torcemos para o David Gilmour aparecer de novo, como em Londres, mas não foi dessa vez. Quem sabe nos próximos shows....  


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