terça-feira, 19 de abril de 2011

O lado obscuro de Weimar

     Goethe buscava inspiração para seus textos na bela região de Ettersberg durante longas caminhadas pelas matas bucólicas.  Somente a dez quilômetros ao norte de Weimar, o planalto oferece uma bela vista da cidade, sede da Primeira República alemã, além de muita natureza.  Mas não é por causa do consagrado escritor ou da paisagem deslumbrante que 600.000 pessoas visitam o local todos os anos. Ali, escondido entre a floresta, foi construído em 1937 o maior campo de concentração em solo alemão. Para não chamá-lo de Ettersburg, pois a região era fatalmente associada com os textos de Goethe, mudaram o nome do local para Buchenwald. 



     Neste campo morreram 56.000 presos políticos, judeus, ciganos, comunistas entre outros grupos perseguidos pelo Nacional Socialismo. Nada que se compare aos números colossais de Auschwitz ( 6 milhões), mas ainda assim, uma quantidade suficiente para acabar com quase toda a população de Weimar, hoje com 64.700 habitantes. Antes da construção da já extinta estação de trem Buchenwald, os prisioneiros caminhavam de Weimar até o local. A cerca de dez passos das cercas de arame farpado, ainda há resquícios de um zoológico, mais precisamente do habitat dos ursos, construído na mesma época. Parece peculiar, mas a justificativa era: após um longo dia de estressante trabalho nos campos de concentração, os oficiais da SS (a policia nazista) precisavam espairecer com suas famílias. 
     É isso mesmo. A alguns passos dali, os oficiais passeavam com suas esposas e crianças e alimentavam os bichinhos do zoológico.  A guia se pergunta em tom cético se ninguém sabia de nada. Comerciantes da cidade abasteciam o local com comida para os oficias e materiais para a construção das casernas, mas ninguém tocava no assunto. Como não há nada no entorno a não ser uma floresta de tirar o fôlego, o abastecimento do campo só podia ser feito pelos comerciantes de Weimar. Será que as próprias crianças, filhos de oficiais, não perguntavam aos pais o que eram aquelas pessoas de uniformes listrados? Uma empresa em Erfurt era responsável pela entrega e fabricação das fornalhas. Não só em Buchenwald, mas também em Dachau, Sachenhaus e Auschwitz. 
     Weimar era uma das cidades favoritas de Hitler, disse nossa guia. Mas ele nunca se deu ao trabalho, durante as inúmeras visitas que fazia a cidade, de visitar Buchenwald. Diz que o lunático nunca colocou seus pés sobre um campo de concentração. Weimar goza da fama turística por conta de seus antigos e consagrados moradores (leia-se Goethe, Schiller, Nietzsche e Gropius), mas também pelo assassinato de 56.000 pessoas. No fim da guerra, por causa da falta de combustível para manter as fornalhas em funcionamento, acumulou-se uma montanha de corpos, muitos dos quais foram jogados em valas comuns. Quando os americanos libertaram o campo em 1945, as tropas obrigaram os cidadãos subirem a montanha para ver a pilha de corpos empilhados um sobre os outros. 
Tais fotos estão em exposição. Como os sobreviventes ainda tem coragem de pisar novamente no local (onde sequer Hitler teve valentia de ver com seus próprios olhos) é algo inexplicável. Por causa da celebração dos 66 anos de libertação, muitos sobreviventes já em idade avançada estavam em Buchenwald. Alguns até traziam seu número de prisioneiro. Detalhe impossível de ser esquecido... 


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