quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Nos labirintos da Berghain


Afirmações contundentes não são muito recomendáveis, mas uma eu sempre fiz: odeio música eletrônica! Balada então, “to fora”!  Mas depois de um ano em Berlim e de tantas perguntas de amigos que atravessam o oceano só para curtir a noite berlinense, cedi as pressões da indústria da música e da moda. Sai de casa decidida a dar uma espiada e voltar logo ao aconchego do lar. Abri o guia de viagem e para não correr o risco de gostar da escolha, optei pela descrição mais peculiar entre todas as resenhas: “aqui o som é tão potente que é como se Deus latisse para você”.
Lá fomos nós ter uma conversa dançante com o todo poderoso. Já na fila da Berghain, no bairro de Friedrichshain, tinha mesmo a certeza de estar me preparando para rosnar é pro Demo. Em um verão de 10 graus, todos os tipos de pessoas esperavam do lado de fora até a abertura das portas à meia noite. Todos os tipos mesmo: estudantes, turistas, garotas à La femme fatal, amantes da humanidade de todas as tribos, drag queens e mamães hippies. Além de mim, que sonhava com uma xícara de chá e um pedaço de bolo de fubá. Com essa diversidade toda, já estava quase marcando um a zero contra as minhas convicções, mas ainda resistia. É, nada daquelas filas de moças idênticas nas ruas da Vila Olímpia. Nada contra, mas sei lá. Tá bom, sou do contra mesmo. É chato!
Aliás, duas garotas bonitas e de saias do tamanho de um cinto se aproximaram dos dois primeiros alemães da fila. Não dava para ouvir a negociação, mas os rapazes balançavam a cabeça em negativa. A Australiana atrás da gente resmungava “get out bitch” em tom de brincadeira. E não é que as duas meninas voltaram para trás da fila que nessa altura do campeonato já estava dobrando o quarteirão? As portas se abriram e o grandão tatuado já excluiu um grupo de uns dez italianos. “Vocês são muito novos”, dizia. E a garotada: “Mas nós já temos 18”. Mas o controle não cedeu. “Então, muito novos”.
Lá dentro, quando as pessoas tiram sobretudos, gorros e cachecóis é como se a “máscara” caísse e o visual preparado cuidadosamente para a noite pudesse ser exibido. Do jeans com camiseta até colete de couro e visual pin up. O espaço é uma antiga fábrica, um labirinto de cores e batidas alucinantes. Várias pistas e escadas se intercalam. Mesmo com o lugar explodindo de cheio, não há filas nos diversos bares espalhados pelo ex-casarão abandonado. Tem até ilhas reservadas com espaço para vender sorvete e cafés para os mais saudáveis. Do último andar dá para ter uma perspectiva da “esbórnia” dançante de toda a multidão. As batidas se acalmam de vez em quando e voltam à tona em combinação com as luzes e efeitos especiais que levam o público ao delírio (muito deles sóbrios, com uma garrafa de Bionade em mãos!)
Olhava tudo isso lá de cima e imaginava como a batida mexia com as pessoas. A comparação é péssima, mas não é a mesma coisa quando a Ivete Sangalo levanta o maracanã ou coloca aquele povo todo pra cantar a aberração Corazón Partío? A desgraça é que entre um pensamento e outro, senti a cintura balançando e os braços animadinhos em movimento. Quase fugi achando que poderia me transformar numa barata horrenda do Kafka, mas isso certamente não aconteceria. A não ser que vocês um dia encontrem um CD eletrônico nas minhas prateleiras. Senti até saudades do Raul! Enfim, eu admito. O lugar é bom, a música é sim penetrante (até certo horário) e de mais a mais... Se você não pode com o inimigo, junte-se a ele.

Obs.: não sei porque alguém algum dia ainda usará este post contra mim! hehe

2 comentários:

Rachel Mendonça disse...

Rê, já te conheci mais animada e baladeira hein? Mas, confesso tb que outro dia (depois de 3 ou 4 anos) fui ao Mucuripe e me pareceu a mesma descrição. Porém, acho que passo mais no mínimo 5 anos sem pisar lá... beijão

Unknown disse...

Rê.......... sem comentários pra vc!!!
Sim, vc é uma amiga muuuuito velha!
Caramba, li esse texto já me imaginando, alucinada, dançando sem parar e sem pensar no amanhã!
Ok, admito sou porra louca, mas tbm curto uns Raulzinho de vez em qdo, mas trocar uma festa dessa, por um sofá com caldinho de feijão??? Vai pra p....
hiauhaiahaiuahiauahiauahiauahiua

Bjs