sexta-feira, 5 de março de 2010

Metropolis Completo

       Depois da premier na Berlinale, a versão original do Metropolis (Fritz Lang) ainda pode ser vista em alguns cinemas em Berlin, a exemplo do Babylon. Fui conferir semana passada as inserções das novas cenas, tidas como desaparecidas por quase 80 anos. A sessão estava lotada e o público era bastante eclético. Na platéia uma garotinha de cinco anos me chamou atenção. Nada contra levar a garotada ao cinema, mas quando se trata de um filme PB, mudo e expressionista, tenho lá minhas dúvidas. Se bem que não podemos desmerecer o trabalho da orquestra ao vivo que acompanha a apresentação, com musica original do componista Goottfried Huppertz. Dá até para esquecer que o filme é mudo. De verdade. Em contraste com a menininha, senhoras vestidas à la década de 20 (com luvinhas e chapéus retrós, na perspectiva da minha geração) também compunham a platéia.

      Com essa movimentação no cinema, é até difícil de acreditar que o filme mais caro produzido na época  pelo cinema alemão foi um fiasco de público e critica. A metrópole futurista controlada pelo industrial Joh Fredersen e seus trabalhadores que viviam no subterrâneo como baratas deveria ter sido uma sensação em Hollywood. Mas seja lá quais foram os motivos, não emplacou. Nem o amor entre Freder (Gustav Fröhlich), o filho do dono da cidade, por uma garota da classe operária (Maria) convenceu. Alguns acharam o enredo com tendências comunistas, outros um tanto reacionárias (o desfecho da trama é o aperto de mãos  entre o capitalista e seu empregado, mediado pelo bom coração do filho do magnata). Para tentar salvar a produção que custou quase 5 milhões de marcos, a Paramont reduziu e cortou drasticamente o filme, até cenas chaves para a compreensão do enredo.  A versão original sem cortes pôde ser assistida em Berlim até o mês de maios de 1927. Depois cinéfilos de todo mundo passaram quase 80 anos a procura das cenas perdidas.  
        Foi no Museu de Cinema de Buenos Aires em que finalmente uma das antigas versões foi encontrada.  Trata-se de um negativo de 16 mm. O jornal “Die Welt” pesquisou como o filme sobreviveu e todo o processo até o reenviou para restauro na Alemanha. O empresário argentino Adolfo Z. Wilson, chef da distribuidora Terra, comprou em 1928 a versão original para exibi-las nos cinemas da Argentina. Tempos depois, a copia foi parar na coleção privada do critico de filmes Manuel Peña Rodríguez, que por sua vez,  a vendeu na década de 60 para um museu. Ainda sem que ninguém soubesse o valor da película, uma copia do rolo foi feita em 1992 para a coleção do Museu de Cinema em Buenos Aires. 
         A trama segue já conhecida pelos críticos de cor e salteado. Freder (Gustav Fröhlich) se apaixona por Maria (Brigitte Helm), troca de roupas com um operário, assume o trabalho em frente à maquina e desce ao submundo para ouvir o discurso da bela moça, que prega a não revolução, mas sim a espera de um mediador. E por aí vai. Mas há sim novidades. Joh Fredersen (Alfred Abel) está na casa do cientista e pesquisador Rotwang (Rudolf Klein-Rogge). Ali ele acha uma estátua. Trata-se de Hell, que morreu ao  dar a vida ao filho de Joh. A curta cena deixa clara a rivalidade entre os dois personagens, que amaram a mesma mulher. Conflito não explícito até então. A inserção do resgate das crianças durante a destruição e enchente da metrópole também ficou bem maior e dramática. Foram necessários 14 dias somente para a gravação deste trecho durante as filmagens em 1925-26. Com todas as novas cenas, o filme ganhou quase mais meia hora.
      O trabalho de restauração da película envolveu profissionais de todo o mundo e foi bastante aplaudido, pelo menos na sessão em que estive presente. Dica: até 25 de abril o Museu de Filme e Televisão de Berlim traz a exposição “The Complete Metropolis”. Se valer a pena, escrevo mais um post. 

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